A expectativa ao desembarcar em Atenas na véspera do plebiscito aguardado com temor pelo mundo inteiro, pelos desdobramentos que poderia provocar, era encontrar um país mergulhado no caos, com protestos diários como ocorreu na Argentina do corralito. Por coincidência, a repórter havia estado em Buenos Aires naquele início de dezembro de 2001, quando a restrição à retirada de dinheiro dos bancos levou a saques em supermercados, panelaços seguidos de protestos violentos e, em 20 dias, à queda do então presidente Fernando de la Rúa.
Embora em situações relativamente semelhantes, as faces das duas crises não poderiam ser mais distintas. Enquanto os argentinos se crisparam, os gregos oscilavam entre a desesperança resignada e uma teimosa expectativa de evitar a catástrofe. Mal ou bem, a Grécia está na União Europeia. Os anos de injeção de recursos dos fundos de integração proporcionaram uma qualidade de vida que demora mais a apresentar sinais de erosão. Não significa que não existam. Sua manifestação mais cruel é o elevado desemprego entre os jovens, sinal de falta de passagem para o futuro.
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Mas as imagens dominantes foram - e são - de relativa normalidade. É o que observam, também, gregos e descendentes de gregos que vivem no Brasil, como Paraskevi Bessa-Rodrigues, professora da Fundação Getulio Vargas, e Pantelis Varvaki Rados, diretor da Faculdade de Odontologia da UFRGS. Paraskevi têm uma interpretação mais dura: são cinco anos de crise, tempo durante o qual os gregos, se não desenvolveram resiliência, habituaram-se a condições mais rarefeitas. Pantelis ressalta a semelhança de estilo entre gregos e brasileiros: a família se une para superar adversidades.
Na segunda-feira, os bancos da Grécia devem reabrir, depois de mais de 20 dias fechados. Analistas mais otimistas não duvidam da possibilidade de que parte do dinheiro sacado nos dias que antecederam as medidas de restrição volte ao sistema financeiro nacional. Ainda há dúvidas sobre a viabilidade do acordo costurado entre a Grécia e os líderes da zona do euro. Uma redução na dívida grega ainda divide a austera Alemanha de Wolfgang Schäuble e os mais realistas franceses, italianos e até americanos. O enésimo ato da tragédia grega não se fechou. O país só deu um passo na direção oposta ao abismo.
Diretor da Faculdade de Odontologia da UFRGS, o grego Pantelis Varvaki Rados comenta o dia a dia dos familiares e as semelhanças entre as culturas grega e brasileira