Economia

Gregos vão às urnas

Especialista aponta que programa de resgate fez recessão pior do que precisava ser

Economista britânico que ganhou apelido de profeta blogueiro da perdição da zona do euro fala sobre as perspectivas da economia grega

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Edward Hugh: "melhor solução seria ter algum realismo no lado do credor e uma mudança de atitude do governo grego"

Durante anos, poucos prestaram atenção nas alarmantes previsões do economista britânico Edward Hugh, que repetidamente sugeria em seu conhecido blog que a zona do euro não sobreviveria por muito tempo. Do The New York Times, ganhou o apelido de "profeta blogueiro da perdição da zona do euro". Radicado na Espanha, ele falou a Zero Hora por e-mail sobre as perspectivas da economia grega.

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A crise é somente grega ou de toda a zona do euro?
A crise imediata é grega, mas surgiu em razão da estrutura da zona do euro. Não havia controle institucional adequado desde o início, e não há mecanismos de solidariedade para quando as pessoas entram em apuros. Países como Grécia, Espanha, Portugal e Itália nunca teriam sido autorizados a acumular tantas dívidas sem a existência do euro. Agora, todo mundo reconhece os erros, mas a Grécia é deixada sozinha lutando com os problemas que foram criados. A maior parte da ajuda que a Grécia recebeu foi usada para reciclar e pagar dívidas. Muito pouco tem sido feito no sentido de modernizar e renovar a sociedade grega.

Por anos, o senhor previu que a zona do euro poderia não sobreviver por muito tempo. Por quê?
O que eu sempre disse é que o euro, da forma como foi configurado, levaria à crise e que a crise poderia levar à desintegração. Este é ainda o caso. Se a Grécia sair, há uma forte probabilidade de que, daqui a cinco anos, o euro não exista em sua forma atual. O Banco Central Europeu pode tentar impedir que os países se endividem mais, mas se não o fizer da forma correta é só questão de tempo para que um país entre em apuros e depois outro. Os países do sul da Europa estão presos em uma depressão de crescimento a longo prazo, e os sistemas políticos normais estão se desintegrando.

Diferentemente de Irlanda e Portugal, a Grécia não tem sido capaz de se recuperar minimamente da crise. Quem é o principal responsável por esse fracasso: a própria Grécia ou fatores externos?
Ambas as partes são responsáveis por isso, de maneiras diferentes. É agora amplamente reconhecido que o programa de resgate original foi mal concebido e fez a recessão pior do que precisava ser. Mas a sociedade grega também tem muitos problemas - corrupção, falta de pagamento de impostos, redes econômicas extrativistas - que se faz necessário reformar, e muito pouco progresso foi feito nessa frente. Agora, com os bancos fechados, não há chance de crescimento econômico, e a única perspectiva de curto prazo é o colapso econômico.

Seis anos depois, a Grécia continua lidando com a crise financeira. Por que o BCE e o FMI ainda defendem com tanta veemência medidas de austeridade?
O ponto de discórdia entre os credores e o novo governo grego tem sido mais uma questão de reformas do que da austeridade como tal. A Grécia tem uma dívida enorme, e os credores consideram que ela precisa ser paga. É por isso que estão exigindo um superávit primário nos próximos anos. Não fazer isso levanta questões políticas, uma vez que outros países, e não apenas a Alemanha, emprestaram dinheiro. Os cidadãos desses países teriam de pagar no caso de um colapso grego. O principal problema durante os últimos três meses foi a intransigência de ambos os lados. Soluções duradouras entre parceiros raramente são encontradas por meio de confronto.

Qual seria a melhor solução para a Grécia hoje: permanecer ou sair da zona do euro?
A melhor solução seria ter algum realismo no lado do credor e uma mudança de atitude do governo grego. Os credores precisam reconhecer o esforço que a sociedade grega está fazendo e serem generosos em termos de finanças públicas gregas a curto prazo. Em troca, o governo grego tem de começar a se comportar como um verdadeiro parceiro e mudar sua atitude para com os representantes dos outros 18 países do euro. Isso significa mostrar flexibilidade e uma vontade de adotar programas de reforma da União Europeia a longo prazo. Não é difícil pensar em soluções pragmáticas se houvesse vontade de implementá-las. Neste momento, essa vontade e a confiança necessária estão faltando em ambos os lados, e o risco de isso terminar mal não é pequeno.

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