A escalada do dólar, influenciada pelo cenário político e pelo momento ruim da economia brasileira, parece não perder força. Nesta quinta-feira, pelo quarto dia seguido, a moeda americana subiu em relação ao real e fechou cotada a R$ 3,0115. Com a nova alta - de 1,03% -, a divisa chegou ao maior valor desde agosto de 2004.
Pelo lado da bolsa, a declaração do presidente do Banco Central Europeu sobre o programa de estímulos para a economia da zona do euro contribuiu para amenizar o clima negativo. Mario Draghi confirmou que a compra de ativos - avaliada em 60 bilhões de euros por mês - começará na semana que vem. A notícia animou as bolsas europeias, que encerraram em alta. Por aqui, o Ibovespa fechou em queda de 0,20%, aos 50.365 pontos.
Mesmo a elevação do juro básico da economia para 12,75%, anunciada na quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), não foi suficiente para acalmar os investidores e segurar o câmbio. O mercado segue temeroso diante das dificuldades do governo em dar sinais de que conseguirá recolocar a economia nos trilhos.
Ainda repercute entre os investidores a devolução pelo Congresso da medida provisória (MP) proposta pelo governo que prevê a redução da desoneração da folha de pagamentos a partir de junho. Nos bastidores, a decisão foi encarada como uma retaliação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao Planalto em função do vazamento de que seu nome estaria na lista de políticos investigados pela Lava-Jato.
O aumento de impostos sobre a folha é uma das principais ofensivas da equipe econômica para sanar as contas públicas e tentar recuperar a credibilidade diante do mercado financeiro. A decisão de Renan expôs a dificuldade da presidente Dilma Rousseff (PT) em obter apoio para as medidas no Congresso.
Outro fator que tem contribuído para pressionar o câmbio é a perspectiva de que o Banco Central diminua a intervenção no mercado cambial. Para impedir altas muito abruptas, o BC faz, diariamente, operações conhecidas como swap cambial, uma alternativa para evitar que mais dólares saiam do mercado. Desde segunda-feira, no entanto, o BC tem utilizado volumes menores de recursos.