Passando pela entrada frontal do hotel, um touro mecânico branco mexe a cabeça e faz "muuu". Adiante fica a peça central do complexo: um enorme átrio de vidro com a réplica de uma aldeia Qiang, repleta de construções de pedra e madeira com três andares, cada uma abrigando um restaurante ou bar.
Para os visitantes, esta é a primeira visão do paraíso, ou mais precisamente Jiuzhai Paradise. Um dos maiores hotéis da China quando medido por número de quartos - 1,01 mil em sete edifícios -, faz parte de um resort montanhês aninhado em uma floresta envolta por nevoeiro em uma região tibetana do oeste da China. O que atrai turistas é sua proximidade da reserva natural de Jiuzhaigou, o parque mais famoso do país com seus lagos cor de esmeralda.
O fato de um hotel como esse poder ser construído sobre terra tão imaculada é uma prova das ligações políticas de seu fundador, Deng Hong, bilionário e um dos empresários mais famosos da província de Sichuan. Pessoas com conhecimento de negócios e política na região afirmam que Deng era próximo de Li Chuncheng, vice-chefe do Partido Comunista em Sichuan que hoje está sendo investigado por uma comissão interna anticorrupção. Li foi detido em dezembro de 2012, e a investigação foi ampliada para incluir outros poderosos.
Em 8 de novembro, a Xinhua, agência de notícias estatal, postou em seu site um artigo da Beijing News dizendo que Deng havia sido formalmente preso. Policiais na cidade de Xianning, onde a Beijing News declarou que o bilionário estava detido, se recusaram a comentar, assim como representantes da empresa.
Deng, 50 anos, filho de um oficial da força aérea, fez sua fortuna com hotéis e centros de exibições. Ele foi listado pela Hurun Rich List de 2013 como a 290ª pessoa mais rica da China, com patrimônio líquido de aproximadamente US$ 1 bilhão. Sua lista de projetos é ambiciosa, incluindo o New Century Global Center, complexo de compras e hotel em Chengdu, o maior prédio do mundo. Porém, Jiuzhai Paradise é seu preferido. Pintor e calígrafo, Deng projetou o hotel e muitas vezes ficou lá com sua família.
- Acho que todo o hotel representa sua visão - afirmou Tyson Wang, gerente-geral que trabalha na InterContinental Hotels Group, uma empresa britânica.
Ele foi contratado para administrar 13 propriedades construídas pela empresa de Deng, que concebeu o Jiuzhai Paradise como o que os chineses chamam de "cidade perdida nas montanhas", explicou Wang.
- De longe, não se vê nada. De repente, há um gigantesco cinco estrelas - diz o gerente.
Entretanto, Deng não visita o resort há cerca de um ano, garantiu Wang, e o artigo da Beijing News disse que sua última aparição pública foi em Chengdu, em fevereiro de 2013. A empresa fundada por Deng, Exhibition and Tourism Group (ETG), com sede em Chengdu, se recusou a comentar. Questionado sobre a detenção, Wang afirmou:
- Não podemos falar sobre o assunto.
Hóspedes fazem mergulho na cultura da região do Tibete
Paraíso é o que o Jiuzhai Paradise busca propriamente vender. O hotel organiza passeios a cavalo com nômades tibetanos e de canoa no Lago da Deusa e vende ingressos para um show de dança com 140 bailarinos étnicos do Tibete e de Qiang. Os funcionários do lobby são principalmente han, o grupo étnico dominante na China.
A diária de um quarto padrão custa US$ 305 a diária, sem impostos. Em 2012, o hotel teve uma receita de quase US$ 50 milhões, segundo o gerente-geral Tyson Wang. A decoração é uma mistura entre uma casa tibetana e um pub britânico. A lotação fica esgotada durante os feriados nacionais.
- Já desliguei meu telefone para que autoridades do governo não liguem pedindo por um quarto. Estamos totalmente lotados - disse Wang durante um feriado recente.
Hóspedes do hotel visitam as reservas naturais vizinhas, Jiuzhaigou ou Huanglong, e se sentam na réplica da aldeia tibetana Qiang ao redor de panelas fervendo. Na porta do restaurante de Sichuan, um cordeiro gira em um espeto. Ao lado, no pátio dos fundos, surge um edifício de pedra de 11 andares lembrando uma torre tradicional de uma aldeia. Alguns hóspedes usam o Tianyu Spa, que inclui uma piscina e uma fonte de água quente coberta.
O bilionário Deng Hong iniciou seus projetos empresariais vendendo roupas em Chengdu enquanto praticava sua arte, contou Wang. Após viver um tempo nos Estados Unidos, ele retornou à China com capital suficiente para realizar contratos de construção, uma rota comum a grandes fortunas em seu país.
Contudo, esse caminho também levanta dúvidas sobre relacionamentos corruptos com governos locais, pois as construtoras costumam depender de funcionários públicos para lhes conceder as terras. Questionado sobre como Deng conseguiu aquele trecho de terra perto da reserva de Jiuzhaigou, Wang respondeu:
- Realmente não sei, mas acho que foi uma ótima ideia.
Apesar do desaparecimento do empresário Deng, nenhum dos empreendimentos conjuntos entre sua empresa e a InterContinental parecem estar parados.