Em resposta a uma consulta da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entidade que regula o mercado de capitais, a Petrobras confirmou que os preços dos combustíveis nas refinarias não vão flutuar de acordo com as cotações internacionais.
Esse mecanismo de gatilho havia sido anunciado no final de outubro, mas o Planalto barrou a ideia, com medo de que aumentos sucessivos elevassem a inflação.
Na sexta-feira, quando anunciou o aumento de 4% na gasolina e de 8% no diesel, a Petrobras enviou um comunicado que mencionava a "implementação da política de preços", sem detalhamento. Na segunda-feira, primeiro dia em que o mercado negociou ações depois disso, os papéis da estatal tiveram uma queda abrupta, de 10%, sinal de que os investidores já haviam percebido que o mecanismo do gatilho pedido pela Petrobras não havia sido aprovado. Mesmo assim, a CVM pediu esclarecimentos à Petrobras sobre a nova fórmula para ajuste de combustíveis.
Na resposta, a Petrobras informou que a metodologia "contém parâmetros variáveis como preço de referência dos derivados no mercado internacional, taxa de câmbio e ponderação associada à origem do derivado vendido, se no Brasil ou importado". A empresa ressaltou no entanto que a aplicação dos ajustes não será automática, como consequência direta da aplicação da fórmula. Mas não informou quando os ajustes seriam feitos. "A metodologia estabelece bandas de reajuste, conferindo à diretoria executiva poder discricionário à luz da dinâmica dos mercados doméstico e internacional", segue o texto da nota, sem muitos esclarecimentos.
A estatal ainda desestimulou especulações sobre a saída da atual presidente, Graça Foster, que teria desagradado o governo com a divulgação antecipada da proposta de uma nova fórmula para ajuste de combustíveis. O anúncio da fórmula que previa o gatilho, em entrevista concedida por Graça em outubro gerou desconforto para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, também presidente do conselho de administração da Petrobras, que teria sido pego de surpresa.
A Petrobras enfrenta problemas de caixa porque importa petróleo e combustíveis por preços mais altos do que revende internamente, em decorrência da estratégia do governo de não permitir aumentos maiores para não pressionar a inflação. O que é um conforto para os consumidores incomoda investidores, que veem excesso de interferência do governo na gestão da empresa. Segundo o economista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, a sensação no mercado é de que a Petrobras "continua nas mãos do governo e como 2014 é ano de eleições, continuará a ser prejudicada".
Quando o aumento foi anunciado, na sexta-feira, a estatal afirmou que implementaria uma nova política de preços para dar maior previsibilidade aos ajustes, não repassar a volatilidade dos preços internacionais para o mercado doméstico e convergir, em um prazo compatível, os preços do mercado externo com o interno. Estabeleceu também que no prazo de 24 meses os indicadores de endividamento e alavancagem (quanto da geração de caixa consegue pagar as dívidas da companhia) voltariam aos estabelecidos pela empresa no Plano de Negócios 2013-2107, mas que foram abandonados pela redução da receita, ocorrida pela queda de produção, e o aumento das importações de derivados no mercado externo a preços maiores do que no Brasil.