Disposto a impedir uma disparada do dólar, o Banco Central (BC) negociou o equivalente a US$ 20,3 bilhões em contratos cambiais nos últimos 30 dias. Apesar do esforço, a cotação subiu 4,15% em junho, pressionando ainda mais a inflação.
Conforme a corretora de câmbio Pioneer, entre os dias 27 de maio e 27 de junho, o BC ofereceu o equivalente a US$ 20,3 bilhões em contratos tradicionais de swap, operação em que o governo se compromete a vender dólar pelo preço de fechamento em uma data pré-definida. A operação é utilizada como mecanismo de proteção por instituições financeiras ou empresas com dívida na moeda americana, de forma a evitar que tenham de pagar mais no vencimento.
- Apesar do alto valor negociado, pouco sai de fato das reservas, pois o BC desembolsará apenas a diferença caso o dólar suba - explica João Medeiros, sócio da Pioneer.
É um mecanismo comum desde que o Brasil adotou o regime de câmbio flutuante, no final dos anos 1990. A intenção do governo com a operação é frear a compra preventiva de dólar, que pressiona o mercado.
- Os leilões têm funcionado, mas a trajetória segue de alta em razão do cenário internacional, em especial a possível retirada de estímulo à economia dos EUA - afirma Medeiros.
A atual disparada começou em 28 de maio, quando o dólar ainda era cotado a R$ 2,061. Em um mês, subiu 4,15%, fechando a R$ 2,232 na sexta-feira passada. Conforme especialistas, a fuga de divisas também é resultado da insatisfação de investidores com a piora nos indicadores internos.
- O desafio do governo tem sido manter o dólar em um patamar capaz de estimular as exportações, mas que não pressione ainda mais a inflação - explica o economista e matemático José Dutra Vieira Sobrinho.
- A economia brasileira é muito dolarizada. Mesmo produtos fabricados no Brasil podem ficar mais caros quando a moeda sobe, pois muitos utilizam insumos importados ou têm o preço atrelado a cotações internacionais, como produtos básicos minerais e agrícolas - explica Valter Bianchi Filho, diretor da Fundamenta Investimentos.
Quem ganha
- Indústria exportadora: o dólar alto deixa o produto brasileiro mais competitivo no Exterior, porque o preço em reais é dividido por um valor maior e se traduz num valor menor em dólares. Além disso, ao transformar em reais os dólares recebidos pelas vendas a outros países, o exportador recebe mais.
- Produtores rurais: quem planta produtos destinados à exportação, como a soja, ganha mais com a cotação elevada. Existem informações de que muitos estão antecipando a venda da safra que ainda não foi sequer plantada, que será colhida a partir de abril de 2014, para aproveitar o momento de alta do dólar.
Quem perde
- Consumidor: há tendência de alta de preços por três efeitos: os importados ficam mais caros, também sobem os preços dos produtos que têm componentes importados, como TVs e eletroeletrônicos, e ainda os que têm cotações em dólar definidas no mercado internacional, como o petróleo, que impacta da gasolina à roupa.
- Endividados: nos últimos anos, o dólar esteve baixo, e o financiamento no Exterior era mais barato. Por isso, muitas empresas contraíram dívidas em dólar. Pode ser um efeito passageiro, será registrado nos balanços apresentados ao fim do primeiro semestre. Quem viajou ou comprou no Exterior enfrenta o mesmo problema.
Depende
- Turismo: com o dólar mais alto, brasileiros precisam de mais reais para pagar viagens e hospedagem fora do país. As viagens internacionais muitas vezes são as mais rentáveis para agências e companhias aéreas do Brasil. Em compensação, viagens ao Brasil ficam mais baratas para turistas de outros países, o que pode aumentar a procupar por serviços dessas mesmas empresas.