Com alta de 0,86% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação de janeiro foi a maior desde abril de 2005, quando havia ficado em 0,87%. No final de uma quinta-feira marcada pela divulgação do indicador preocupante, o dólar fechou com a menor cotação desde 11 de maio de 2012, sinal de que o governo deve usar o câmbio para conter a alta de preços.
Considerado apenas o mês de janeiro, o resultado do IPCA foi o mais alto em uma década. Em janeiro de 2003, depois da disparada do dólar provocada pela eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, no ano anterior, o índice havia alcançado 2,25%. O indicador é considerado oficial no Brasil por servir de referência para o acompanhamento do regime de metas de inflação do Banco Central (BC). Outra consequência foi a elevação das apostas em um aumento da taxa básica de juro (Selic) ainda para este ano.
- Está ainda mais claro que o IPCA acumulado em 12 meses vai ficar no intervalo entre 6% e 6,5% até agosto. Dificilmente fica abaixo de 6% nesse período - apontou Fábio Romão, economista da LCA Consultores.
Conforme o regime de metas, o BC tem de calibrar o juro para manter a inflação em 4,5% ao ano, com um intervalo de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo. Caso ultrapasse o teto, o presidente é obrigado a escrever uma carta pública justificando o estouro da meta.
Entre os componentes de maior pressão sobre o IPCA, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estão automóveis novos, que ficaram mais caros devido à volta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O preço do automóvel novo subiu 1,41% em janeiro, terceiro maior impacto no mês. A maior alta por item foi o cigarro, que subiu 10,11% também em decorrência de elevação do IPI. Além disso, os alimentos fizeram o índice subir: ficaram 1,99% mais caros, o que correspondeu a 56% da inflação do mês.
- Depois dos dados de inflação divulgados hoje (quinta-feira), o mercado está ainda mais preocupado sobre o governo voltar a intervir no câmbio - avalia Pedro Galdi, analista da SLW Corretora.
Nos 12 meses terminados em janeiro, a inflação já acumula alta de 6,15%, afastando-se ainda mais do centro da meta.
- Também tem a questão de demanda. Se as famílias consomem mais, isso propicia que os reajustes (de preços de alimentos) sejam repassados, inclusive na refeição fora de casa, no lanche - observou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.
As chuvas prejudicaram a oferta de produtos como tomate, batata-inglesa, cebola, hortaliças e cenoura, mas os aumentos foram generalizados.
IPCA por capital
Como foi a inflação nas regiões metropolitanas:
Belém: 1,06%
Fortaleza: 1,01%
São Paulo: 0,99%
Recife: 0,90%
Goiânia: 0,89%
Porto Alegre: 0,87%
Salvador: 0,85%
Belo Horizonte: 0,73%
Rio de Janeiro: 0,73%
Curitiba: 0,68%
Brasília: 0,46%
Os vilões da vez
Os produtos que mais subiram:
Farinha de mandioca: 9,47%
Tomate: 6,26%
Açaí: 5,49%
Frango: 4,86%