A proposta das redes móveis é tirar o internauta da cadeira e deixá-lo conectado ao mundo digital 24 horas por dia em qualquer lugar. Mas a ideia só é cumprida parcialmente no Brasil. Por enquanto, a cobertura chega apenas aos centros urbanos, com uma qualidade que varia conforme o bairro, a concentração de pessoas, a presença de prédios e morros no entorno e a operadora contratada.
No ano passado, só no Procon de Porto Alegre foram registradas 300 queixas contra o serviço. A maioria se referia a dois problemas: a promessa de conexão ilimitada - mas com cobrança de excedente caso o usuário baixe mais dados do que o plano permite - e o serviço que não funciona fora da cidade onde ele foi adquirido.
Foi o que ocorreu com o professor Eduardo Cortez. Morador da Capital, ele relata que a conexão funcionava muito mal no Litoral Norte nos meses de verão tanto no notebook quanto no celular.
- Em Atlântida, o modem 3G, com muita sorte, eu conseguia conectar às 6h ou 7h da manhã. No smartphone, a rede caía toda hora - relata o professor.
Quem costuma viajar, precisa estudar o mapa de cobertura de cada empresa antes de adquirir o serviço para não ser surpreendido com a falta de sinal. No Rio Grande do Sul, a operadora que tem a cobertura mais ampla é a Vivo, presente em 358 municípios. A Claro está em 131, e a Oi, em 45. A Tim é a operadora com menor cobertura 3G: 20 municípios.
- Temos previsão de levar a rede 3G a 40 cidades até o fim do ano. Mas a maioria dos municípios opera na rede 2G, que é suficiente para acessar o plano de dados Infinity pré - avalia Christian Krieger, diretor da TIM no Rio Grande do Sul.
Outro problema é a grande concentração de pessoas em uma pequena área. É o caso de eventos esportivos, shows e até do aumento da população do litoral durante o verão. Cada antena tem uma capacidade máxima de tráfego de dados. Em alguns casos, os usuários são direcionados a uma "estrada secundária" - a rede 2G.
Por isso, as operadoras são constantemente desafiadas a aumentar sua estrutura. O número de acessos por banda larga móvel no país cresceu 99,3% em 2011, chegando a 41 milhões de conexões.
- Para a colocação de mais estações, existe um complicador que é a legislação ambiental. E Porto Alegre tem uma das mais rígidas do mundo - diz Mauricio Perucci, diretor da Claro para o RS.
Metas de qualidade serão cobradas a partir de outubro
A Anatel deve começar a fiscalizar nos próximos meses a qualidade dos serviços prestados. A Pricewaterhouse Coopers irá aferir a qualidade do serviço.
Enquanto os dados sobre as redes 3G não estão disponíveis, Vanderlei Rigatieri decidiu conferir a situação das redes 3G por conta própria. Equipada com tablet, notebook e smartphone, a expedição WDC percorre o Brasil testando a conexão das quatro principais operadoras. No Rio Grande do Sul, visitou 17 cidades. Encontrou situações muito distintas.
- Se for traçar uma média, é um Estado bem servido. Mas, ao sul de Rio Grande, é muito ruim. Aquele trecho, nos arredores de Santa Vitória do Palmar, está tão ruim quanto o Mato Grosso que é o pior lugar que a gente encontrou até hoje. A melhor situação que encontramos foi em Caxias do Sul, com conexões que chegaram a 4 Mbits por segundo - aponta Rigatieri.
Na fronteira oeste, o sinal também é precário.
- Dirigimos por horas nas estradas sem sinal ou navegando a velocidade muito baixa - conta Rigatieri:
A Vivo afirma que, apesar de a cobertura ser obrigatória apenas no perímetro urbano, o sinal da operadora frequentemente chega até as rodovias:
- Depende da topografia do município. Se não há barreiras naturais, o sinal chega mais longe - diz Clenir Wengenowicz, diretora da regional sul da Vivo.
A partir de outubro, as operadoras terão de atender a exigências mínimas de velocidade e cobertura, sob o risco de multas. Hoje, cada empresa é obrigada a cumprir apenas o que está em contrato, o que permite entregar apenas 10% da velocidade contratada.
- Se o serviço contratado não está sendo prestado ou não for satisfatório, é possível até retirar a cláusula de fidelidade. O primeiro passo é procurar a operadora para tentar um acordo - diz Flavia do Canto Pereira, diretora do Procon da Capital.
Na serra, sinal dependente do bairro
Apesar de ser considerada uma cidade bem servida de sinal 3G, Caxias do Sul não é coberta de forma igual por todas as operadoras. Ligada ao mundo virtual móvel durante todo o dia com tablet, notebook e smartphone, a empresária Liliane Trentin (foto) precisou pesquisar qual operadora lhe ofereceria maior cobertura depois de ter problemas de conexão.
O que provocou a mudança de plano foram as falhas da antiga operadora, com sinal 3G fraco e inconstante. A procura foi por uma internet mais rápida e que, principalmente, mantivesse o sinal com boa qualidade em diferentes pontos da cidade.
- Circulo por três bairros bem distantes e fico conectada praticamente o tempo todo - diz a empresária do ramo gastronômico, agora satisfeita com o serviço.
O buraco na cobertura de algumas operadoras em Caxias é o que ainda gera reclamação dos usuários e cancelamentos. Assim como Liliane, a engenheira química Renata de Carvalho Teles deixou de se conectar com um modem 3G por considerar a conexão péssima.