Bens caros e de altíssimo investimento para os agricultores, as máquinas agrícolas também ficaram suscetíveis aos danos causados pela enchente no Rio Grande do Sul, ampliando consideravelmente os prejuízos no campo. Antecipando-se a eventos climáticos que tendem a ser cada vez mais frequentes, fabricantes e concessionárias de maquinários começam a se preparar para o novo cenário oferecendo implementos mais resistentes e prestando maior suporte técnico aos produtores.
Nas grandes montadoras, onde a alta tecnologia embarcada é realidade, os equipamentos modernos priorizam não só o conforto dos operadores e a maior produtividade, mas também a inteligência para a resolução de problemas nas máquinas.
Lucas Zanetti, gerente de marketing de produto da Massey Ferguson, diz que a fabricante vem apostando em iniciativas para ajudar o produtor a evitar danos não só nas condições climáticas adversas, mas também nas situações comuns do dia a dia do campo. Para isso, a marca investe em máquinas e soluções cada vez mais simples.
— Simples no sentido tanto de operação e regulagem quanto no diagnóstico de problemas e na manutenção. Uma manutenção fácil, de menor custo, que é importante principalmente nesses momentos, e confiáveis no sentido de robustez e entrega de produtos resistentes às condições adversas — explica Zanetti.
Na Expointer, os modelos robustos apresentados pelas marcas “escondem” a tecnologia embarcada. Os desenhos são projetados justamente para proteger e fazer com que os componentes sensíveis fiquem blindados dentro do maquinário. A resistência é fundamental para que qualquer dano, seja por água, poeira ou sol, não comprometa o funcionamento dos itens.
Zanetti lembra que as máquinas cada vez mais têm tido incorporação de tecnologia, o que remete a mais componentes eletrônicos. Por isso, é fundamental que esses itens estejam bem posicionados aos conectores e cabeamentos, a fim de resistirem o máximo possível às intempéries. Da mesma forma, a parte eletrônica ajuda no diagnóstico das avarias, com tecnologias como, por exemplo, a telemetria, que permite visualizar uma possível falha antes de ligar a máquina.
— Conseguimos detectar qualquer tipo de falha antes que possa ser uma falha maior ainda. A ferramenta eletrônica visa a ajudar bastante nesse sentido — completa o gerente da Massey.
Assistência no reparo
Além das perdas em terras e em produção, muitos agricultores viram máquinas robustas como colheitadeiras e tratores serem arrastados pela força da água. O reparo correto dos implementos foi fundamental para evitar a perda total dos motores agrícolas.
Para atender emergencialmente aos agricultores atingidos, as concessionárias passaram a oferecer suporte técnico aos produtores, com instruções específicas de reparo para as máquinas danificadas pelo lodo e pela água.
De acordo com as fabricantes, a manutenção inicial das máquinas que ficaram submersas é fundamental para garantir a funcionalidade dos equipamentos. Gigantes como John Deere passaram a oferecer assistência, inclusive remota, para orientar os clientes sobre as maneiras adequadas para a recuperação das máquinas.
— Adaptamos o suporte às necessidades dos clientes da região sul. Desde mapear os parques de máquinas do Estado e entender onde estavam as áreas mais afetadas a oferecer condições financeiras de revisão das máquinas — destacou Cibele Romão, gerente de suporte ao cliente e pós-vendas da John Deere para a região sul.
A Massey disponibilizou um guia de orientações básicas para a manutenção inicial dos maquinários afetados. Procedimentos e cuidados especiais como verificação da parte elétrica e mecânica antes de ligar a máquina são alguns dos passos recomendados, seguidos de limpeza para remoção da lama e, então, o planejamento da manutenção.
Enchente respinga nas compras
O dano financeiro deixado pela enchente impacta no bolso dos agricultores, em grande parte descapitalizados para investimentos de grande porte, como a renovação da frota. Diante do cenário, as marcas vieram para a Expointer com expectativas de vendas mais comedidas nesta edição. O Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers) ainda não divulga um balanço parcial das vendas, mas o movimento entre os estandes é de bastante procura.
Nesta quinta-feira (29), os espaços estavam lotados de público. CEO da SLC Máquinas, Anderson Strada diz que existia uma apreensão grande antes da feira em relação à disposição dos agricultores para consumir. As intenções de compra, no entanto, estão melhores do que o esperado:
— Para nossa surpresa, o volume de clientes que vem para prospectar negócios está além das expectativas. Existe a incerteza com o que de fato se concretiza, claro, mas o produtor está olhando com ideia de se reposicionar frente ao que aconteceu.
O segmento industrial costuma ser motor de faturamento na exposição. Em 2023, foram R$ 7,3 bilhões em negócios sinalizados pela venda de máquinas e implementos.
As perspectivas de recuperação de mercado estão no horizonte das empresas. A expectativa é de que o decorrer do segundo semestre prepare para um próximo ano de maior arrancada, com leve crescimento de vendas diante das projeções de La Niña menos severo e de custo de produção menor ao produtor, diz o gerente da Massey.