O setor de cargas no Brasil representa cerca de 20% do PIB, sendo, portanto, altamente significativo e relevante para a economia. Esse valor é apenas 4% inferior ao do aclamado setor agropecuário. No entanto, apesar da sua importância, o setor de cargas só costuma ser lembrado em momentos de crise ou escassez — como aconteceu em 2018 e recentemente nas enchentes do RS. Na prática, a economia gaúcha depende fortemente do transporte rodoviário, seja para a obtenção de insumos, seja para o envio de produtos para outras regiões do país. Ou seja, tudo gira sobre rodas.
Com o objetivo de destacar a relevância do transporte rodoviário de cargas para o desenvolvimento econômico e social, o Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (SETCERGS) lançou a campanha “Tudo Gira Sobre Rodas”. A ação, divulgada em canais digitais e veículos de comunicação, evidencia a conexão entre caminhões, motoristas e a cadeia logística como elementos cruciais para superar desafios, como a enchente que atingiu o Estado em maio.
O vice-presidente do sindicato, Marcelo Dinon, lembra que, para grande parte da sociedade, o transporte rodoviário de cargas é semelhante à água e à energia elétrica, que só passam a ter atenção quando estão em falta.
– Essa campanha é a primeira de muitas outras iniciativas que serão realizadas. Se a sociedade compreender e passar a cobrar ações efetivas sobre o transporte, a régua sobe e o setor avança rumo à qualificação e profissionalização – avalia.
Com uma estrutura dividida em fases, a campanha “Tudo Gira Sobre Rodas” foca no engajamento de diversos públicos, incluindo instituições públicas e privadas, transportadores, motoristas e embarcadores.
Em entrevista, o presidente eleito do SETCERGS, Delmar Albarello, detalha a iniciativa e destaca outros projetos da entidade. Confira:
Como surgiu a ideia da campanha “Tudo gira sobre rodas” do SETCERGS?
A campanha busca valorizar o setor de transporte de cargas e mostrar sua importância para toda a sociedade, para que os outros segmentos do mercado reconheçam e valorizem o nosso trabalho. Tudo gira sobre rodas: do alface à peça do avião. Quando a população vê um caminhão no centro de uma cidade grande, muitas vezes o encara como um obstáculo. Na verdade, ele está levando comida para a mesa ou medicamentos para quem precisa. Precisamos comunicar melhor isso, trabalhar de forma integrada com outros setores. Vivemos um momento difícil no país e enfrentamos o risco de um apagão logístico por falta de motoristas, já que faltam incentivos para que as pessoas ingressem na profissão. Nosso objetivo é criar mecanismos e até atrair mais mulheres para o volante.
O final de ano movimentou o setor varejista e as vendas online. Como o setor de cargas do Estado se prepara anualmente para este período intenso?
Para as empresas com foco na distribuição do e-commerce, o fim de ano sempre traz um aquecimento. Tradicionalmente, o segundo semestre é mais forte que o primeiro, mas 2024 foi um ano atípico. Tivemos um primeiro semestre catastrófico e, no segundo, uma recuperação significativa. Contudo, isso aumentou nossos custos, já que o trabalho ficou concentrado em menos tempo, o que traz uma falsa impressão de melhora econômica.
Durante a enchente, o transporte rodoviário foi essencial para as entregas das doações. Como o SETCERGS tem atuado na reconstrução do RS?
O setor de transporte foi um dos mais mobilizados durante a enchente. Fizemos um trabalho conjunto, com empresas – especialmente médias e pequenas – unidas de forma quase silenciosa. Nós preferimos fazer e não falar. Transportamos toneladas de donativos vindos de todo o Brasil, muitas vezes sem remuneração. O SETCERGS também esteve presente na Defesa Civil, com o apoio de Marcelo Dinon, que coordenou a distribuição de produtos durante 18 dias. O SETCERGS auxiliou na reconstrução também com doações através da sua campanha SOS Carreta Solidária que arrecadou recursos financeiros, os quais foram destinados a comunidade do transporte e logística e sociedade em geral. Apesar de pouco reconhecido pelos governos, o setor mostrou sua força e resiliência, superando adversidades. Conseguimos fazer um belo trabalho. E, quando se fala em pouco reconhecimento, é importante salientar que seria reconhecimento em pleitos que o setor necessita para a devida reconstrução.
Para 2025, quais as principais iniciativas do SETCERGS?
Esperamos uma recuperação da economia. O SETCERGS continuará apostando em ações que têm dado resultados, fortalecendo o relacionamento com os associados e com o mercado. Nosso objetivo é tornar o setor mais reconhecido e valorizado, e, por consequência, mais forte.