Quem vai a uma sex shop pela primeira vez pode achar o ambiente pouco agradável. Acontece. São muitos os toys e produtos distribuídos nas estantes que você olha e nem imagina para que servem. As atendentes até podem ajudar, mas não são todas as mulheres que têm coragem de revelar o que procuram na frente de outras clientes.
Por isso, o perfil das sex shops está mudando. Cada vez mais, as lojas eróticas têm pensado no prazer da mulher – e não mais naquela velha ideia de “enlouquecer o seu parceiro”.
– Aquela parede cheia de pintos é uma visão machista do que é consumir um produto erótico – afirma Larissa Ely, uma das sócias da Climaxxx, a primeira erotic store do país voltada exclusivamente para o público feminino.
Afinal, as mulheres formam 70% do público consumidor de produtos eróticos, segundo um levantamento da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual. No entanto, a verdade é que muitas ainda sentem vergonha de entrar em uma loja de rua. E o pior: não se sentem contempladas com o que encontram lá.
– A sexualidade feminina foi sempre muito subjugada e trabalhada em cima do desejo masculino. Queremos possibilitar uma nova forma de se perceber a mulher e sua relação com o sexo e prazer, sem a intervenção dos homens – diz Heloisa Etelvina, uma das fundadoras da Pantynova, e-commerce de produtos eróticos lançado neste ano.
Assim, muitas mulheres acabam recorrendo à internet. É no ambiente virtual que elas encontraram produtos criados especificamente para explorar o prazer e a sexualidade feminina. E de quebra, se sentem confortáveis em adquiri-los e testá-los em casa.
Se interessou? Conheça mais sobre as duas sex shops:
Climaxxx
A ideia da loja surgiu quando Larissa, 24 anos, entrou em um sex shop em Porto Alegre e saiu de lá insatisfeita.
– Acho que isso melhorou um pouco, mas tu chegava numa sex shop e a atendente tinha na cabeça que tu é uma mulher, heterossexual e interessada em agradar o parceiro. Esse estereótipo nos coloca sempre no papel de submissa, de uma mulher que não está procurando o próprio prazer, que não está procurando se conhecer, que está ali como um objeto de fetiche, sexual, para um homem.
Foi pensando em um atendimento mais humanizado que ela e a sócia Clariana Leal, 26 anos, criaram a Climaxxx, em 2016. Entre os produtos ofertados, estão os bullets (que são cápsulas vibratórias para o clitóris, vibradores com dupla estimulação, além de géis de massagem e lubrificantes, que têm bastante popularidade.
Mas além de uma sex shop, a Climaxxx busca ser uma ferramenta poderosa para incentivar as mulheres descobrirem seu corpo e realmente pensarem em seu próprio prazer. Em um mundo onde masturbação feminina é tabu, a quantidade de mulheres que ainda não sabem o que as excita é enorme.
– Se uma mulher reconhece que seu prazer é importante, ela está a um passo do empoderamento – frisa Larissa.
E ela tem notado uma mudança de comportamento das mulheres e de seus parceiros também.
– Muitas ainda estão abrindo a cabeça e isso é muito interessante. Mas muitos homens também têm nos procurado pensando em levar algo para o casal – observa.
A Climaxxx entrega seus produtos em todo o Brasil. E, caso você se preocupe, elas garantem: a embalagem é discreta.
Pantynova
Mais recentemente, em abril, surgiu a Pantynova, ideia da artista plástica Heloisa Etelvina, a Lola, 36 anos, e da designer de moda Izabela Starling, 32. A proposta é bem semelhante.
As duas mantiveram um relacionamento por dez anos e hoje são sócias no novo negócio. Aliás, a trajetória delas como casal inspirou a criação da marca. Lola e Izabela contam que tinham dificuldades em encontrar produtos que fossem voltados ao prazer da mulher lésbica. Além disso, ambas notavam que os espaços de venda de produtos eróticos eram moldados a partir de uma sexualidade apenas vivida no imaginário masculino.
– Como lésbicas sempre fomos muito invisibilizadas, e quando formatamos o projeto, queríamos criar um espaço onde nós nos sentíssemos acolhidas e representadas – explica Izabela.
– A nossa principal ideia é dissociar esses brinquedos sexuais que sempre remeteram a imagem do homem – completa Heloisa.
Para criar os produtos da Pantynova, que incluem dildos (objetos que imitam um pênis de borracha) e strapons (conhecidas também como cintas penianas), Heloisa e Izabela fizeram uma na internet com cerca de 500 consumidoras. Responderam ao questionário mulheres heterossexuais, lésbicas e bissexuais.
– Temos muito cuidado com os produtos e conteúdo que ofertamos, de maneira que o sexo e a sexualidade possa ser tratada como algo natural e leve, longe de tabus e preconceitos.
Além dos itens exclusivos desenvolvidos pelas empreendedoras, a loja também realiza uma curadoria de produtos já presentes no mercado, como vibradores. E mais que um canal de vendas, o site da Pantynova também tem outras áreas afim de incentivar o prazer feminino.
No espaço chamado Erótica, são publicados com a #Hersecret histórias secretas de mulheres anônimas. Também há podcasts e histórias em quadrinhos.
– Semana passada uma menina nos agradeceu e disse que não sabia porque tinha esperado tanto tempo para começar a explorar o seu corpo. Ela comprou o seu primeiro vibrador e estava muito feliz de ter o controle do seu prazer. Claro que para isso você não precisa de nenhum objeto né? Mas ela encontrou no vibrador um companheirx de aventuras! – conta Heloisa.
A Pantynova também realiza entregas em todo o país.
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