Dona de casa, louca, princesa e prostituta. Se hoje esses estereótipos são amplamente debatidos, a réplica não é verdadeira quando se trata de palhaçaria: àquelas que querem interpretar um papel diferente, é delegado um personagem masculino. Determinadas a mudar essa realidade, um grupo de mulheres criou o Festival Palhaças do Sul. Por meio de espetáculos, oficinas e outros, a atração busca trazer à luz a palhaçaria feminina, além de discutir inclusão social e política afirmativa de gênero.
— Há pouca participação das mulheres nos festivais, há pouco espaço para uma comicidade que é diferente, que não está dentro dos códigos comuns e que precisa ser refutada. A gente educa para o riso, e acho que para educar o riso você tem que estar dentro da cena — afirma a artista Ana Fuchs.
Um dos propósitos da área é tornar a mulher uma figura que incita a comédia, não um objeto de riso. Se o descobrimento da própria palhaçaria já é classificado como libertador, encontrar um ramo que dê espaço à voz feminina é mais ainda. Tiana Moon e Pati de La Rocha contam ter estudado Direito antes de se tornarem artistas.
— Reencontrar a palhaçaria foi me dar permissão, me dar liberdade de ser quem sou, me acolher, e ser feliz de novo — define Tiana.
A mesma sensação também tomou conta de Patrícia Sacchet. Esportista do surfe, ela conta que descobriu seu nome de palco durante um curso, quando ouviu a sugestão “Ondina” – que faz referência a um tipo de espírito da água. Apesar disso, ressalta que teve de ultrapassar barreiras consigo mesma para chegar até aqui.
— Você coloca resistência porque há lugares seus que já descobriu que funciona, mas é porque está estruturado. Daqui a pouco você está fazendo uma brincadeira sobre o cabelo de uma mulher negra e começa a enxergar o motivo. Esse riso está sendo libertador ou está apenas reiterando uma opressão? — reflete.
No Brasil, existem apenas 14 festivais dedicados à arte da palhaçaria feminina. O estranhamento e o questionamento já fazem parte do cotidiano daquelas que adentram um território que é, majoritariamente, masculino.
— Podemos ocupar a lona? O palco? A rua? Acho que esse é um dos grandes desafios. Às vezes, a gente se sente em um não-lugar. Vamos, então, construir esse caminho do meio, que é o lugar que faz sentido para a gente — diz Pati de la Rocha.
Com a intenção de reverberar a expressão e a liberdade feminina, também será produzido um livro sobre as experiências do festival. A programação do evento começa nesta segunda-feira (22) e termina no domingo (28). Para conferir a íntegra, basta acessar o site palhacasdosul.com.