Em lista divulgada pela Forbes na quarta-feira (4), Maria Cristina Peduzzi figura como uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil em 2020. A escolha ocorreu logo depois de a ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST) se tornar a primeira mulher a presidir a Corte.
Bacharel em Direito e mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Brasília (UnB), atuou como advogada nos tribunais superiores de 1975 até tomar posse no TST em 2001. Foi procuradora da República (1984), procuradora do Trabalho (1992) e professora universitária de graduação e de pós-graduação na UnB e em outras instituições de Ensino Superior.
Filha de pai uruguaio e mãe brasileira, Maria Cristina nasceu no Uruguai, mas, aos três anos, veio morar com a família em Bagé, na região da Campanha. Na adolescência, mudou-se para a casa de uma tia em Porto Alegre para estudar. Foi na Capital que começou o curso de Direito, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Aos 20 anos, transferiu-se para Brasília, onde se formou e consolidou a carreira.
– Sou um pouco gaúcha, um pouco brasiliense, um pouco uruguaia – brinca.
Sobre a homenagem na lista da Forbes, entendeu a menção como um elogio consequente de sua nova posição, ocupada desde 19 de fevereiro.
– Recebi com muita alegria a colocação. Recebi esse elogio como uma deferência à Justiça do Trabalho e, sobretudo, à honra que tenho, a contingência histórica, de ser a primeira mulher a presidir o TST e o Conselho Superior da Justiça do Trabalho. Dessa perspectiva, também penso que tenho um compromisso muito grande – reflete.
Em entrevista para Donna, mencionou a frase que leva como norte do seu trabalho, de autoria da escritora Virginia Wolf: "O que é uma mulher? Eu lhes asseguro, eu não sei. Não acredito que alguém possa saber até que ela tenha se expressado em todas as artes e profissões abertas à habilidade humana".
Aos 67 anos, ela enxerga o novo cargo como um sinal de avanço, já que a eleição tem critério de antiguidade e isso significa que já existem mulheres com vivência no tribunal. A ministra tomou posse no TST em junho de 2001, em vaga destinada à advocacia.
A desigualdade salarial é uma realidade. As estatísticas comprovam que grande parte das mulheres recebe, pelo mesmo trabalho, salário inferior ao do homem"
MARIA CRISTINA PEDUZZI
PRESIDENTE DO TST
– Tenho quase 19 anos de exercício do cargo na magistratura trabalhista – conta.
Os principais pontos que pretende abraçar como presidente do TST é a valorização perante à sociedade da Justiça do Trabalho e a melhoria da efetividade na prestação jurisdicional, além de garantir maior segurança jurídica e investir em avanços tecnológicos, como o processo judicial eletrônico.
Maria Cristina é enfática ao falar do mercado de trabalho para mulheres:
– A desigualdade salarial é uma realidade. As estatísticas comprovam que grande parte das mulheres recebe, pelo mesmo trabalho, salário inferior ao do homem.
Para exemplificar, relatou recente pesquisa da Universidade de Harvard que constatou, examinado um grupo expressivo de homens e mulheres que têm a mesma formação profissional, que eles avançam nas carreiras com mais velocidade e alcançam postos de comando com mais facilidade do que elas.
– Isso é uma distinção que ainda existe, apesar da igualdade que a lei prevê – afirma. – O que se pode fazer é mostrar que podemos corrigir essas distorções. Divulgando os dados, esclarecendo às mulheres que é necessário se impor nesses aspectos, dando exemplos. Nós faremos sempre o que estiver ao nosso alcance na promoção da efetiva igualdade de gênero – garante.
Questionada sobre suas referências femininas, ela destaca a ex-ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie, primeira mulher a ocupar uma cadeira na Casa, e a ministra Cármen Lúcia, também do STF .
– São duas referências que tenho bem presentes na minha vida.
Ela também mencionou a tia e madrinha que a abrigou em Porto Alegre para que pudesse estudar.
– Maria Arminda Peduzzi Protskof. Foi ela a mulher que me proporcionou estudar em Porto Alegre no segundo grau e na faculdade e me deu um grande estímulo que foi motor na minha vida profissional – diz.