Camila Maccari, Especial
Caroline Moreira comemora o aniversário de um ano da Negras Plurais, rede de mulheres negras criada para impulsionar, dar protagonismo e visibilidade para empreendedoras e intraempreendedoras.
Ela conta que a ideia veio da necessidade de um recomeço: depois de dissolver a Três Tons de Preto, produtora voltada para eventos de protagonismo negro da qual fazia parte, tirou um tempo longe do mercado de trabalho e das redes sociais. O período foi suficiente para perceber que queria fazer o conhecimento adquirido com a produtora circular e, dessa forma, ajudar outras mulheres a encontrarem seu espaço no mundo do empreendedorismo.
Por meio de workshops, lives no perfil do Instagram @negrasplurais e mentorias individuais, Caroline colocou o plano em prática e atingiu muito mais gente do que esperava. Nesse primeiro ano, conta que a Negras Plurais já impactou cerca de mil mulheres – a ideia inicial era de, nesse mesmo período, chegar a até 500 empreendedoras.
Além de Porto Alegre, os encontros já passaram por Rio de Janeiro e por São Paulo e, até o final do ano, devem chegar a Salvador. Além de abordagens sobre ferramentas de marketing, administração e finanças, temas como autocuidado, afetividade e autoconhecimento também recebem destaque.
– Nós trabalhamos a subjetividade da mulher negra. As nossas demandas e nossas vulnerabilidades são muito comuns, então esses encontros promovem um olhar sobre nós mesmas. Colocam as nossas questões em pauta com naturalidade e fazem com que a gente se sinta acolhida e livre para ser quem somos, para chorar, para viver.
É um trabalho que, de acordo com Caroline, relaciona-se com a importância da representatividade, mas vai mais longe: o objetivo é falar de protagonismo, indispensável também para melhorar os resultados e ter sucesso nos negócios.
– Quebramos essa ideia subentendida de que estamos pedindo para que as pessoas nos representem nos lugares de poder e de mídias. Nosso foco é o protagonismo, fazer com que essas mulheres vejam-se nesses lugares, vejam-se como potência. A mulher negra tem uma relação fragilizada com seu protagonismo devido aos fragmentos do racismo. É comum que a gente prefira estar nos bastidores, ficar escondida. Nossa ideia é quebrar esse padrão limitante, essa crença, e fazer com que elas entendam realmente o seu valor e se coloquem na frente do seu negócio.
Nosso foco é fazer com que essas mulheres vejam-se como potência. A mulher negra tem uma relação fragilizada com seu protagonismo devido aos fragmentos do racismo.
CAROLINE MOREIRA
Criadora do Negras Plurais
Tanto que os workshops, divididos em 12 horas, sempre contam com profissionais como coachs, terapeutas holísticas, menstrual ou de thetahealing, que ajudam a trabalhar as crenças limitantes. Só depois que elas vão para o trabalho prático, conduzido por empreendedoras que apresentam suas experiências, dividem conhecimentos e propõem dinâmicas e atividades práticas sobre como criar e manter um negócio.
– Como não nos enxergamos com o valor que temos, às vezes a gente não entende o valor nas nossas tecnologias, de transformação, de ação. Primeiro olhamos para isso e depois ensinamos como fazer acontecer. Falamos sobre portfólio, LinkedIn, objetivos, metas, organização. Costumamos ter cinco palestrantes com dinâmicas diferentes.
A experiência do contato direto com empreendedoras fez com que Caroline identificasse outra dificuldade na hora de empreender: muitas mulheres ainda não sabem como cobrar por seus serviços e produtos. Entre as próximas iniciativas da rede Negras Plurais, estão um projeto de planejamento financeiro e um projeto de mentorias coletivas.
– Me sinto feliz e realizada. Havia imaginado em um ano conquistar alguns espaços, mas não imaginava (tudo isso), e surpreendeu o alcance e o resultado até agora. Esse é o grande desafio: sustentar um projeto sem recursos. E ainda fazer dar certo.