"... e se você fosse negro e descobrisse que a maioria dos seus colegas é racista?". Essa é uma frase marcante para mim, retirada do livro “O que fazer? Falando de Convivência” da autora Lilliana Iacocca, publicado em 1993. Redescobri ela em uma das faxinas gerais que ocorrem na minha casa e decidi refletir sobre o assunto.
Compartilhei a frase em uma rede social e recebi dezenas de respostas. De primeira, pensei apenas em guardar para mim a reflexão, mas é algo (ainda) tão presente na nossa sociedade, que mudei de ideia e imaginei que caberia perfeitamente trazer à tona.
Eu, sinceramente, não sei o que faria. É difícil se sentir acuado e não acolhido em um ambiente. O nosso bem estar é muito importante para nosso sucesso pessoal e profissional, então perceber que não é bem quisto, que duvidam da tua capacidade ou menosprezam é algo que pode prejudicar a nossa vida mesmo. A questão de termos que provar diariamente a nossa eficiência nos deixa doente.
A maioria das pessoas que respondeu essa questão na minha rede social optaria por se afastar. Alguns relataram que fizeram isso quando a situação foi real - sendo que três delas foram quem preferiu ficar só quando perceberam esse mau "coleguismo".
Não é triste isso? A solidão em um ambiente que deveria ser de camaradagem e crescimento em grupo? Uma respondente disse que não faria nada, afinal, o problema é dos colegas racistas, o que não deixa de ser uma verdade, mas infelizmente quem sofre as consequências desse preconceito somos nós e temos o poder nas mãos dessa mudança.
Outra falou que tentaria orientá-los, o que achei maravilhoso! É disso que a gente precisa, dialogar, fazer com que eles entendam o quão mal fazem pra gente e principalmente para eles mesmos.
Apenas uma pessoa relacionou o racismo a crime. De fato é, e deve ser denunciado, se não para a polícia diretamente, que seja para a coordenação do colégio, faculdade, trabalho, ou o local que for. Não podemos sofrer em silêncio mais.
Se você é um desses colegas racistas, saiba o mal que você está fazendo e já está mais que na hora de você repensar seus atos e julgamentos e lembrar que as únicas coisas que pedimos são respeito e afeto. Se você é quem está sofrendo em um ambiente como esse, saiba que você não está sozinho, é difícil encontrar forças nesse momento, mas não aceite! Vá atrás de seus direitos e saiba que você só está nesse ambiente, porque é apto para estar.
Somos silenciados, sempre fomos. O medo nos deixa sem ação muitas vezes. Tomar atitudes contra aquilo que nos incomoda, que nos fere, é um exercício diário, mas que devemos fazer.
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Duda Buchmann é blogueira que gosta de falar do mundo feminino, principalmente da mulher negra, e de inspirações que elevem a autoestima delas. Escreve semanalmente em revistadonna.com.