Gabriela, que também dirige pela Uber, aderiu ao Femini Driver, aplicativo exclusivo para motoristas e clientes mulheres | Foto: Robinson Estrásulas, Agência RBS :: Vale a pena! Baixe o aplicativo do nosso novo Clube Donna para ter vantagens exclusivas :: Clara Averbuck: Sobre acusações, mentiras, punitivismos e boletins de ocorrência :: Thamires Tancredi: “Ser mulher é limitar seus atos e vontades, e ser julgada por suas opções”
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O episódio ocorrido com a escritora e colunista de Donna Clara Averbuck, que relatou ter sido estuprada por um motorista de aplicativo, embora tenha ocorrido em São Paulo, fez com que gaúchas se perguntassem a quantas andam as iniciativas de apps para transporte particular exclusivos para mulheres tanto passageiras quanto motoristas por aqui. Donna conversou com empresários, usuárias e motoristas sobre as operações dos dois serviços anunciados em Porto Alegre, o Femini Driver e o Venuxx.
Embora a perspectiva seja boa para um futuro próximo, por ora os serviços ainda têm obstáculos a superar até poder manter uma operação em larga escala. Ironicamente, os principais problemas enfrentados pelos aplicativos são os mesmos das mulheres em geral: do lado das usuárias, há uma demanda enorme por um serviço que ofereça mais segurança às mulheres, inferior à oferta de motoristas. Do lado das motoristas, há um receio em circular pela cidade tarde da noite e em dias de semana, justamente quando o serviço seria mais necessário.
Dos dois, o que já está em operação em Porto Alegre é o Femini Driver. Concebido por uma empresa local, o app começou a operar em 14 de agosto e, de acordo com o CEO e fundador, Brunno Velasco, em poucos dias, chegou a 6 mil usuárias cadastradas. No seu segundo dia, já estava entre os aplicativos mais baixados da Apple Store. Embora comemore o número, Velasco sabe que ele traz junto um problema de difícil solução a curto prazo:
– Com uma demanda dessas, para manter um raio de chamada em que a motorista não tenha de fazer um deslocamento muito grande para efetuar a corrida, precisaria de cerca de mil motoristas cadastradas. Hoje, temos 400 cadastros, 150 aprovados.
O que aconteceu em uma série de casos relatados por usuárias a Donna é as clientes terem baixado o aplicativo e, após uma primeira experiência frustrada, não terem tentado novamente. Quando Brunno conversou com Donna, no meio da tarde de terça-feira, 15 chamadas haviam sido feitas pelo aplicativo naquele dia até ali. Como as operações ainda estão no início e o aplicativo tecnicamente ainda passa por aprimoramentos, o empresário espera que a operação cresça naturalmente com o tempo - bem como a adesão de novas condutoras.
Motorista da Uber e, agora, do Femini Driver, Gabriela Gallicchio relata ter feito, até agora, cerca de 10 corridas com o aplicativo exclusivo para elas. Um dos complicadores enfrentados pelo novo app - e que provavelmente ocorrerá com outros vindouros - é que os motoristas (homens e mulheres) não costumam dirigir exclusivamente para um aplicativo. Portanto um dos problemas da pouca oferta de motoristas é que as mulheres, que por ora ainda são minoria, podem estar dirigindo para outro app e, portanto, acabam não podendo aceitar as corridas do aplicativo novo. O outro é mais sério:
– Eu sou um caso de motorista mulher que evita circular à noite. À exceção do final de semana, quando a cidade está cheia, depois de determinado horário eu só faço corridas particulares para clientes fixas.
Trata-se de um jeitinho das clientes. Ao deparar com uma motorista de aplicativo e simpatizar com a profissional e com o conforto do carro, elas propõem um valor fechado por corridas para trajetos fixos nos horários em que se sentem mais vulneráveis, como um retorno tarde da noite da faculdade ou do trabalho. O principal aplicativo que une mulheres passageiras a mulheres motoristas, portanto, ainda é o WhatsApp.
– Aconteceu essa semana mesmo. Uma menina de 21 anos, de Caxias do Sul, se sentiu assediada por um motorista, se assustou, e me propôs trazê-la da faculdade para casa – conta Gabriela.
São relatos que vão sendo contabilizados por Inês Medvedovski, diretora de operações do aplicativo Venuxx. Anunciado com pompa em junho, para atrair motoristas e chamar a atenção da futura clientela, o Venuxx tinha previsão de início de operações nos primeiros dias de setembro. Como ainda está passando por testes, é mais provável que seja lançado na segunda quinzena. Um complicador é que boa parte das motoristas que demonstraram interesse em trabalhar com o app, segundo Inês, declinaram ou já saíram do mercado, então um dos desafios do Venuxx é assegurar pelo menos 200 motoristas dispostas a trabalhar a todo vapor nos primeiros dias de operação. Hoje, ela contabiliza cerca de 80 mulheres a postos.
– Sabemos que essas primeiras experiências bem-sucedidas são muito importantes, então ainda estamos tentando atrair parceiros e viabilizar códigos promocionais para o lançamento – conta a diretora.
Tanto o Venuxx quanto o Femini Driver trabalham com um valor cerca de 15% superior aos concorrentes, a fim de remunerar melhor as motoristas e atraí-las para o app. Enquanto o Femini Driver permite acompanhantes homens, desde que a motorista seja comunicada e aceite (ela tem a opção de recusar), o Venuxx só aceitará meninos de até 12 anos acompanhados de uma responsável. Inês adianta ainda que o Venuxx trabalha para proporcionar um "starter kit", um diferencial de pequenos produtos que podem ser úteis para as mulheres nos carros, como lixas de unha, creme para mãos e espelhos. Tudo para que a experiência entre mulheres seja mais bacana do que uma corrida convencional. E, principalmente, mais segura.
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