Cabia à mamãe a escolha do meu figurino para as reuniões-dançantes do colégio. O auge da criatividade ela empregou ao separar em cima da cama um terno de linho azul-turquesa: calça azul, blazer azul, camisa branca e uma gravatinha borboleta ridícula coroando o traje.
UMA LINDEZA
Tinha 11 anos quando ganhei um guarda-roupa novo. Fiquei radiante. Era um lindo armário de madeira com cinco portas e uma escrivaninha embutida. Por fora, um espetáculo. Por dentro, um fedor. Fedia a cheiro de madeira nova, fedia a esterco.
MEU NOVO PERFUME
Mamãe jurou que daria um jeito naquele odor catinguento. Enchia as prateleiras dos armários de sachês de Glade, borrifava Glade aerosol pelas roupas, colava aromatizador de ar nas portas. Nada funcionava. O cheiro de cocô fortíssimo misturava-se às fragrâncias de Lavanda, Manhã do Campo, Ocean Oasis...
SÓ PIORAVA
O auge da tortura aconteceu na reunião dançante seguinte. Vestida com uma roupa de náilon, vi minha a cintura apertada por um coitado que teve o infortúnio de me tirar para dançar. Como o tecido era náilon, a cada espremida a minha cintura, um ar quente e podre saía de dentro da blusa e subia pelo decote feito pum, exalando o aroma de Glade misturado a esterco no nariz do infeliz.
NINGUÉM QUERIA DANÇAR COM ELA
VADE RETRO, MARIANA
Assim começou minha relação com a moda, curada com muita terapia depois. Já recebi alta, obrigada - e meu closet agora é todo de MDF. Vivendo e aprendendo. Há mulheres que têm estilo desde que vieram ao mundo. O meu foi descoberto quando saí de casa para morar sozinha. Descobrir o estilo próprio passa diretamente pelo autoconhecimento.
NÃO LEU? LEIA!
De nada adianta devorar literatura de moda, seguir o maior número de revistas e blogueiras se não houver uma conexão íntima com a nossa história, com a nossa verdade, com a nossa essência e visão das coisas. Estilo é fundamental para a autoestima, já ensina Costanza Pascolato.
EU QUE O DIGA
Ter estilo é sentir prazer de estar na própria pele, seja de longo decotado em cima de um salto, ou de pantufa enfiada num pijama de flanela - o que, convenhamos, não tem coisa melhor.
OU TEM?