Caminhava dia desses na rua, fazendo o mesmo caminho de sempre, já que cachorros gostam de cheirar as mesmas gramas, postes e esquinas de sempre – e fazer xixi em cima do xixi do dia anterior –, quando ouvi uma leve batida de carro.
HIII…. ALGUÉM BATEU O CARRO
Olhei para trás e vi uma caminhonete beijando o para-choque de um Jetta. “Vai começar a gritaria e o bate-boca”, pensei (sobretudo nesta época de festas em que os nervos das pessoas, sabe-se lá o porquê, ficam mais à flor da pele).
Veja também
ESTÁ TODO MUNDO DESSE JEITO
Não gosto de ficar urubuzando problemas da vida alheia. Quero dizer com isso que não sou daquelas que se aproxima para ver baixaria na rua e se diverte com o drama do outro, pelo contrário.
PREFIRO SAIR DE FININHO
Só que desta vez foi impossível, pois segurava três cuscos na coleira e dois inventaram de parar para fazer suas devidas necessidades.
ESTAVA APERTADA
DOR DE BARRIGA DAS GRANDES
Então, enquanto esperava a ida da dupla ao banheiro, fiquei ali olhando no que ia dar aquele incidente de trânsito. E qual não foi o meu alento?
O QUE ACONTECEU, MARIANA?
NADA!!!
HÃ?!!
COMO ASSIM?
Simplesmente aconteceu o que tinha que acontecer. Duas educadas moças desceram de seus dois respectivos carros, olharam o estrago no para-choque, conversaram um pouco, trocaram impressões, mexeram no celular, a motorista da caminhonete que beijou o carro da frente deu o seu contato para a vítima do carro, a vítima do carro devolveu seu cartão de visita para a autora do estrago, elas bateram mais um pouco de papo, chegaram a algumas conclusões, despediram-se, cada uma entrou no seu carro e seguiu seu rumo.
TINHA QUE VER A CARA DELA
Eu fiquei ali, parada e abobada, com cara de absoluta surpresa. Como assim? Não vão brigar? Não vão se xingar? Não vão arrancar o cabelo uma da outra?
CADÊ A BAIXARIA?
Não teve baixaria. Não teve falta de educação, não teve histeria, não teve falta de compreensão, falta de amor ao próximo, falta de clareza e percepção. Não teve nada disso. Teve, sim, dois exemplos de como deveria se comportar a humanidade: de maneira cordial, honesta, educada, generosa, compreensiva.
Aquela aula de civilidade daquelas duas mulheres não deveria ter me chamado atenção, pelo contrário. Deveríamos, sim, estar acostumados a isso e desacostumados a todo o resto que assistimos diariamente. Que neste final de ano, a gente possa refletir um pouco sobre aonde queremos chegar no ritmo que andamos.
Como diz a linda letra de uma canção, “precisamos diminuir o barulho, caminhar mais devagar, prestar atenção em quem chega, abaixar a cabeça e colocar a humildade para funcionar. Somos grandes, quando somos pequenos”.