São 11h da manhã de quarta-feira, 18 de novembro. Faz cinco dias que o terrorismo voltou a atacar Paris. Essa é a segunda vez neste ano que temos ataques por aqui. Começamos o ano com o atentado ao Charlie Hebdo, em que um grupo de radicais islâmicos dizimou o time de cartunistas mais amados da França. E agora uma situação muito mais caótica. O ataque sangrento da sexta-feira 13 não tem precedentes. De onde estou, vejo a torre Eiffel e a Esplanada dos Inválidos, um bairro afastado onde ocorreram os ataques. Ao escrever essas linhas, tenho como moldura a ponta da torre pela vidraça da janela da minha cozinha. As sirenes que soam lá fora me inquietam. Também me inquieta o telefone que não para de tocar com amigos dando as últimas notícias sobre a mais recente ação da polícia na região de Saint-Denis, subúrbio de Paris, onde ainda estão havendo confrontos com mortes.
O terrorismo já diz no seu nome o que significa. Traz o terror, o medo, a presença da morte em todos os lugares onde passamos. Nos últimos dias, tenho saído para ver o ambiente das ruas e também para fazer minhas coisas. “É vida que segue Ana”, me diz Cristina, uma amiga brasileira que já passou por três ataques terroristas e que conhece bem o pensamento francês de não se render ao medo. Mas, nas ruas, o silêncio e o vazio trazidos pela insegurança é forte, embora em alguns horários exista um fluxo maior de gente, principalmente nos metrôs. Viveremos durante três meses um alerta máximo antiterrorismo, isto significa que tudo pode ser evacuado a qualquer momento e que nossas programações podem ser suspensas. O que vejo a meu lado? O que percebo das ruas? Parisienses cabisbaixos, pensativos, alguns bares com meia dúzia de gato pingados, supermercados cheios, academia vazia, gente grudada ao telefone.
“Eles têm as armas e nós vamos incomodá-los, temos o champanhe”, registrou a capa do Charlie Hebdo da semana. Essa frase diz muito sobre como os franceses encaram as crises, as ameaças e uma guerra declarada à Síria por parte de seu governo. Eles sentem muito, mas querem continuar a amar a vida, a sair, a beber seu champanhe. É o orgulho francês antes de tudo, tentando vencer mais uma dura investida de fanáticos religiosos que querem de qualquer forma acabar com a máxima de Hemingway de que “Paris é uma festa”. E somos nós aqui tentando acreditar que ela vai recomeçar e logo.
Rapaz aguarda, solitário, a chegada do metrô vazio no começo da última terça-feira vestido com jeans e jaqueta de camuflagem
Em alguns momentos do dia, os metros permanecem lotados. Os parisienses tentam retomar a vida normal, mas paira um silêncio inquietante no ar
Quase ninguém nas ruas. Esse é o clima do meu bairro em Paris
Dias cinzas e vazios na região que circunda a Torre Eiffel e a Esplanada dos Inválidos