O telefone de casa toca insistentemente, mas, engraçado, o som parece tão abafado... Procuro em todos os lugares e não o encontro, até que a pessoa que ligou desiste de esperar. Só bem mais tarde encontro o aparelho em meio aos “destroços” da pequena obra que estamos fazendo em casa. Eu odeio obras, ainda mais quando não é para deixar o apartamento mais bonito, mas sim para terminar com goteiras e reformas mal feitas na vez anterior. Um horror.
Agora mesmo eu olhava para os lados e posso jurar que não tem um cantinho limpo sequer da minha casa. Mesmo onde não tem ninguém trabalhando a poeira tomou conta. Um pó branco que só de pensar na trabalheira que vai dar para limpar tenho vontade de sair correndo. Deveria existir um vale-obra, uma espécie de ajuda de custo para a gente morar num hotel enquanto a nossa casa é revirada de cabeça para baixo.
Chega o homem das calhas, o do telhado e o do forro. Tudo ao mesmo tempo. Ah, coincidentemente, no mesmo dia que recebemos um casal de parentes que precisava estar em Florianópolis nesta data. Tudo bem, sem problemas, a não ser a acomodação precária. Ainda bem que eles não têm rinite. Meus filhos, que são alérgicos à poeira, mudaram-se temporariamente para a casa das namoradas. Eu também queria ter ido...
Melhor pensar pelo lado positivo: quero aproveitar esta bagunça toda para fazer uma limpeza geral nas tralhas – nunca vi como guardamos coisa nesta vida! Além da sujeira vou colocar fora tudo o que não uso mais. Desta vez estou decidida a praticar o desapego total. Tenho malas antigas (adoro malas, porque elas sempre me remetem a bons momentos de viagens) que já estão sem rodinhas, ou que são pesadas demais e nada práticas. Vão para doação. Quadros bonitos, mas dos quais já enjoei? Rua! Luminárias que sei que nunca voltarão para a sala? Doação. Roupas e sapatos guardados para usar “um dia”? Jornais velhos já com buraquinhos de traça? Lixo.
Enquanto escrevo aqui, num cantinho reservado onde consegui colocar o computador, o homem do forro está serrando madeiras bem aqui na peça ao lado. Daqui a pouco ele pega a furadeira de novo. Outro martela não sei o quê com tanta força que parece que meus tímpanos vão explodir. Uma sinfonia dos infernos... “Até o final da tarde vai estar tudo pronto, dona”, eles me disseram. O problema é que também falaram a mesma coisa ontem. Só acredito vendo. E depois do expediente deles começará o nosso: faxina pesada na casa inteira. Ah, esqueci de comentar: a moça que trabalha na minha casa está doente.Tudo junto, ao mesmo tempo. Coincidências da vida. Neste exato momento só sei de uma coisa: os próximo dias prometem ser animados por aqui.