–Você pode terminar este trabalho para mim que eu preciso sair?
– Claro, pode deixar. Vá tranquila.
– Você pode buscar as crianças na escola para mim porque eu marquei outro compromisso no mesmo horário?
– Deixa comigo.
– Você pode fazer o plantão de domingo no meu lugar para que eu possa viajar no fim de semana?
– Eu pretendia descansar, mas eu faço isso por você.
– Mãe, você me empresta seu carro para ir a uma festa hoje à noite?
– Eu tinha marcado uma janta com as amigas, mas eu dou um jeito. Pode pegar.
– Filha, você pode sair mais cedo amanhã para me levar ao grupo de idosas?
– Eu tinha uma reunião, mas vou tentar desmarcar.
Sim, sim, sim, sim... Tem gente que não consegue dizer não, mesmo quando deveria. Todo mundo conhece alguém assim, incapaz de se impor e de fazer somente aquilo que realmente lhe cabe. A pessoa fica tão preocupada em não magoar os outros que acaba esquecendo de si própria, colocando-se sempre em último lugar. Os outros, sabendo tratar-se de uma “coração mole”, usam e abusam da sua boa vontade.
Quem é assim sofre muito e sabe que tem que mudar, ter pulso firme, e que por mais que possa doer, precisa aprender a dizer “não” pelo menos quando o pedido realmente for demais da conta. Mas cadê a coragem para fazer isso?
O psicólogo João Alexandre Borba diz que é normal, por exemplo, que pais e mães deixem de fazer uma coisa ou outra para atender seus filhos, assim como, na empresa, às vezes é preciso parar alguma atividade para fazer algo para seu chefe ou para ajudar um colega. Até aí tudo bem. O problema surge quando as pessoas perdem sua própria autonomia, e não conseguem dizer não para os outros, esquecendo-se de si próprios.
Borba dá um exemplo: “Se o indivíduo não souber se posicionar dentro do ambiente de trabalho, os colegas sempre passarão por cima dele, por serem mais autoritários e assertivos. Isso pode causar estresse, levando a pessoa a se sentir sobrecarregada, quando não há necessidade para isso”. E como vemos situações iguais a esta por aí...
Aprendendo a dizer não, pelo menos de vez em quando, a pessoa começa a dizer sim a si mesma, retomando as rédeas de sua vida e valorizando seus próprios gostos, preferências e sentimentos. Com certeza assim ela será muito mais feliz.