Ano passado, Theo Felizzola voltou às raízes, à morada de seus pais, Ricardo e Anna Celina Felizzola, na Vila Conceição, na zona sul de Porto Alegre, depois de viver oito anos em San Francisco, na Califórnia, estudando na Academy of Art University, onde fez mestrado em Artes Plásticas. Filho do casal de engenheiros com três filhos, Theo, 29 anos, é o do meio. Ele desenha desde criança e chegou a concluir o primeiro ano de Engenharia, mas por tanto se identificar com o mundo visual tirou o curso de Comunicação da Unisinos com foco em design. Sentia necessidade de uma formação artística, lhe faltavam conhecimento de perspectiva e técnicas da cor. A família entendeu, e o pai o ajudou a estudar fora.
Theo já fez exposições em Porto Alegre de obras realizadas em San Francisco. Em sua residência, há uma verdadeira mostra de quadros seus, de diversas fases, incluindo um retrato de seu pai quando criança, baseado em uma foto. São obras a carvão e óleo sobre tela, na sua maioria figuras femininas. No Exterior, como não podia pagar modelos, encontrou na fotografia de mulheres um recurso prático para pintar seus retratos. Não cópias: interpretações estéticas inspiradas na realidade.
"A figura feminina na minha obra é mais o resultado da tentativa de descoberta do que realmente uma inspiração. Gosto também de pintar paisagens. Acho que a temática, o sujeito, a história da tela está em nível paralelo ao da pura estética, das cores, formas e texturas. Ouvi do artista Huihan Liu, em uma de suas aulas, que o artista deve criar uma pintura extraordinária a partir de uma cena cotidiana."
Mas é diante da modelo ao vivo e com a influência ambiental que o artista capta de forma mais verossímil a alma do modelo. Recentemente, Theo aceitou a encomenda de uma moça que iria viajar e lhe mandou muitas fotos, dando-lhe a liberdade para realizar a obra. Por isso ele aceitou – e já entregou o quadro.
Na história da arte, Theo Felizzola cita, entre seus pintores prediletos, o americano John Sargent e o italiano Giovanni Boldini, que viveram até a segunda década do século passado. Ele pintou a óleo uma moça, de vestido longo, deitada num divã com os pés descalços. No chão, ela jogou o sapato de plataforma, ao se recostar languidamente. Na mesma parede está um impressionante desenho do rosto de uma mulher assustada, a nos lembrar que o domínio do desenho é o ponto de partida para a pintura.
Esses e outros trabalhos serão expostos no Studio Q (Rua Dr. Timóteo, 395), com vernissage marcada para o dia 24 de abril.
"Nas moças americanas, percebi diferenças em relação às brasileiras. A guria lá cresce de um jeito diferente das nossas, e os americanos são mais tranquilos em suas conquistas. Então, elas esperam lentidão nos primeiros contatos. No começo me dei mal, elas se assustavam, e tive de mudar o jeitão de paquerar. Em compensação, elas chegam mais diretamente nos homens, revelando-se bem mais responsáveis em suas escolhas."