Por Lu Thomé
No próximo dia 12 de fevereiro, mulheres (especialmente elas) do mundo todo terão o mesmo compromisso em suas agendas: Encontro com o Sr. Grey. Esta é a data da estreia mundial da produção cinematográfica mais aguardada e comentada dos últimos dois anos: Cinquenta Tons de Cinza, adaptação do romance erótico homônimo da escritora britânica E. L. James. Mas, longe do que se possa pensar, nem tudo é romance e sexo neste cenário.
A trilogia que conta a história de amor (como os fãs gostam de ressaltar) entre a jovem ingênua e virgem Anastasia (Ana) Steele e o magnata dominador Christian Grey também está envolta em muitas controvérsias. Depois de entrevistá-lo para o jornal da faculdade, Anastasia entra em uma relação complexa com o empresário: com a descoberta sexual, ela conhece os prazeres do sadomasoquismo, tornando-se objeto de submissão de Grey.
Um mundo em Cinquenta Tons
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Lançado em 2011, Cinquenta Tons de Cinza logo foi alvo de polêmicas. Escrito em linguagem simples e repleto de clichês (lembrando os romances baratos de bancas de revistas), o livro foi atacado por críticos literários. Muitos dizem que a obra vai contra o feminismo, romantizando e normalizando a violência sexual. Adeptos do BDSM (do acrônimo Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) afirmam que a autora apresentou a prática de forma muito ligeira e sutil e que o relacionamento dos protagonistas vai contra a regra básica: precisa ser consensual. E psicólogos defendem que o enredo passa a mensagem de que, por mais atormentado ou difícil que um homem seja, é muito fácil mudá-lo.
Nada disso, no entanto, diminuiu o sucesso que a trilogia fez entre as leitoras, mesmo tendo recebido os apelidos de "pornô para mamães" e "Cinderela tarada", entre outros. Inicialmente, James publicou o livro numa comunidade fan ficton (site onde os fãs de determinado livro escrevem seus próprios textos tendo o original como inspiração). A escritora estava fascinada pela saga Crepúsculo, de Stephenie Meyer, e muitas são as similaridades estruturais entre as duas obras. Em 2012, saíram Cinquenta Tons Mais Escuros e Cinquenta Tons de Liberdade. A trilogia já vendeu mais de 100 milhões de exemplares no mundo todo, segundo a Vintage Books, editora britânica pertencente ao grupo Randon House, que comprou os direitos (numa negociação de sete dígitos) de uma pequena editora australiana, que tinha lançado o livro em formato digital. De acordo com a Forbes, de 2012 a 2014, James faturou mais de US$ 100 milhões.
A partir daí, linha de lingerie, vinhos e muitos outros produtos foram desenvolvidos, e os direitos vendidos para a Universal Pictures. Três filmes foram confirmados, um para cada livro. E. L. James foi uma presença constante nas reuniões de planejamento do primeiro deles e no set de filmagem. Ao contrário de escritores que vendem os direitos e não se envolvem, ela quis proteger a imagem que os fãs têm da trilogia. Decidiu até mesmo os profissionais envolvidos, descartando, inclusive, o escritor Bret Easton Ellis , autor de Psicopata Americano, que se ofereceu para a vaga de roteirista do filme.
Como os livros descrevem de forma pobre cenários e figurinos, ela levou fotos e mandou e-mails para garantir algumas características, da decoração do apartamento do empresário até a modelagem e cor exata do jeans que ele usa quando está no Quarto de jogos (local onde pratica BDSM com suas submissas). E também discutiu com a diretora Sam Taylor-Johnson (de O Garoto de Liverpool), a roteirista Kelly Marcel (de Walt nos Bastidores de Mary Poppins) e os produtores sobre o que seria cortado e a adaptação de alguns diálogos. A polêmica cena do absorvente interno, por exemplo, não estará no filme.
Os protagonistas serão interpretados por Jamie Dornan (da excelente série The Fall) e Dakota Johnson (que atuou em A Rede Social e é filha de Don Johnson e Melanie Griffith). A censura será 18 anos e as expectativas dos fãs na internet já começaram há meses, inclusive com emocionadas contagens regressivas. O trailer do filme foi o trailer mais visto no YouTube em 2014 e a venda de ingressos antecipados ultrapassou as previsões. A meta dos produtores é que o filme arrecade US$ 60 milhões no primeiro dia de exibição, superando o orçamento do longa, que foi de US$ 40 milhões.
Uma performance digna do sr. Grey. Gostemos ou não.
* Lu Thomé é jornalista, coordenadora editorial freelancer e fã de E.L.James - mas sem a parte do chicote ou das palmadas.