Ele estava dentro da sala de aula em Nashville, capital do Tennessee, nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a namorada casava-se com o sogro, no interior do Brasil. Não, espera aí. Melhor contar de novo esta história trocando algumas palavras, para que não pareça algo que não é.
Isso foi lá no início dos anos 1970. João e Nadir namoravam havia algum tempo quando chegou a notícia de que ele tinha conseguido uma bolsa de estudos (pós-graduação) numa universidade dos Estados Unidos, o que, naquela época, era para poucos privilegiados. Ele não podia perder a oportunidade com a qual sonhava desde a adolescência.
Sendo assim, o casalzinho teve que se separar, embora estivessem os dois muito apaixonados. Ela permaneceu no Brasil com os pais, e ele foi sozinho para a tal universidade norte-americana. Ficaria por lá três ou quatro anos, e como não era de família rica, durante todo este tempo só se corresponderiam por cartas. Não havia dinheiro para passagens de avião. E muito menos Skype ou WhatsApp para aliviar a saudade e encurtar distâncias.
O problema é que cada dia ficava mais difícil aguentar a separação, de ambos os lados. Cada um suspirava num canto, contando os dias para o reencontro. Bem coisa de filme de amor. Até que João ficou sabendo, por intermédio de um colega de faculdade, que existia uma possibilidade de casarem-se por procuração.
Ele queria muito que Nadir fosse ao seu encontro, mas sabia que a única maneira de conseguir seu intento seria casando com ela. Os pais da moça, italianos e católicos, jamais deixariam a filha viver com o namorado, como se fosse "uma qualquer". Então, João não sossegou até saber tudo sobre o assunto. Poderiam, sim, casarem-se por procuração, estando um nos Estados Unidos e o outro (a outra, no caso) no Brasil. Só que o noivo teria que ter um representante legal. João primeiro mandou uma carta bem romântica pedindo Nadir em casamento. Depois de receber o "sim" da moça, ele pediu que o pai o representasse, e deu início à papelada.
Foi marcada a data do casamento civil, no cartório. Os pais de Nadir, porém, faziam questão da cerimônia religiosa, mesmo que fosse muito simples. Sem a benção de Deus ela não voaria ao encontro do amado. Então, de braços dados com o sogro, ela casou no cartório e na sacristia da igreja, na tarde de uma sexta-feira, oficializando a união. Enquanto isso, o noivo estava na sala de aula, a milhares de quilômetros de distância.
Foi um casamento inusitado. Não há álbuns de fotos e provavelmente não era assim que ela sonhava em casar-se um dia. Mas foi só o passaporte e o visto ficarem prontos (29 dias depois do casamento!) para ela partir, sozinha, sem nunca antes ter entrado em um avião e sem falar uma palavra em inglês, para encontrar o seu marido, iniciando uma vida totalmente nova e cheia de desafios.
Nadir me contou esta história há poucos dias, e João, sentado ao lado dela, sorria ao lembrar dos velhos tempos. Não preciso nem dizer que o casamento com o sogro dá certo até hoje.