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Adi Dassler era um verdadeiro "slash slash": padeiro, sapateiro, empreendedor, inventor das chuteiras de trava, chave do sucesso da equipe alemã na Copa do Mundo de 1954. Se ao ler rapidamente o nome e o sobrenome do alemão não fizeste a ligação, explico: ele é responsável pela origem da marca Adidas, com a história retratada no filme O Milagre de Berna.
Adi Dassler é o criador de um item fundamental nos pés da juventude do Brooklyn novaiorquino que se alastrou pelas hashtags do Tumblr e do Pinterest para chegar aos pés de vítimas da moda mundo afora (sim, também tenho os meus). As Adilettes (Adiletten, em alemão) foram criadas pelo sapateiro como uma opção para ser usada nos vestiários.
Semana passada os jornais alemães Badische Zeitung e Frankefurter Allgemeine dedicaram páginas de suas publicações para dissertar sobre o par de chinelos que, criado em 1963, faz sucesso entre os jovens mais cool da recém-terminada Mercedes Benz Fashion Week, mais conhecida como Berlin Fashion Week. O escândalo aconteceu não no mundo da moda, mas fora dele. A população não entendia como um par de chinelos tão banal poderia ter feito sucesso e estar presente em tantos pés da primeira fila do evento de moda.
O calçado foi mais odiado ainda quando apareceu nos pés de uma modelo, Bonnie Strange. Com nome sugestivo, a menina usou o par ao estilo normcore, combinado a um par de meias soquete, à lá tiozão.
Normcore é uma estética que foi taxada como tendência no início do ano e desvelada pelo escritório americano de tendências K-HOLE (responsável também pelo Youth Mode, sobre juventude, feito em parceria com a brasileira Box 1824). Basicamente trata de ícones de estilo que correspondem a uma estética norte-americana dos anos 90, um misto de logotipia com minimalismo em formas amplas, um apelo ao conforto doméstico em forma de desleixo calculado que foi alastrado mundo afora. Há quem diga que o normcore é uma resposta ao estilo camp que tem Anna Dello Russo como madrinha-maior. Para uem quiser entender mais sobre o movimento, indico texto da NYMag com o magnífico título Fashion for Those Who Realize They’re One in 7 Billion.
Na genealogia dos calçados, as Adiletten são prismas-irmãs das Birkenstocks, sandálias alemãs de cortiça e couro que são vistas em 9 entre 10 dos looks mais cobiçados pelos fotógrafos de rua. Minha blogueira de moda favorita, Leandra Medine, do espirituoso Man Reppeler, destrinchou o início da tendência através de uma série de cards que retomam as primeiras aparições deste outro par de calçados em The Life of a Trend. Entranhando-se mais na árvore genealógica calçadista, encontramos primos distantes, bastante odiados também: os Crocs.
Bonus track: sou fã confesso da geração tumblr e quando os trabalhos de pesquisa não me obrigam a mergulhar na rede para um desk research pegado, mergulho por vontade própria. Para esta coluna, achei uma pérola: um vídeo com mais de 2 mil visualizações do Adilette que mostra basicamente nada, com e sem meias. Logo lembrei do irônico "unboxing" da Paçoquita Cremosa promovido pelo Gabriel Von Doscht no twitter semana passada. Ele é um dos autores dos mais inteligentes blogs de moda brasileiro, o Todo Dia Um Look, acessem.