Dia desses conversava com um amigo e ele disse que tinha ficado muito irritado no fim de semana. Eu quis saber o porquê. A resposta dele me deixou pensando, e cheguei à conclusão que ele está coberto de razão.
Rodrigo ? esse é o nome dele ? saiu com alguns amigos para bater papo, tomar uma cervejinha, escutar uma boa música, enfim, relaxar depois de uma semana de muito trabalho. Abraços pra cá, beijinhos pra lá, troca de cumprimentos e de meia dúzia de palavras. Quando ele achou que a conversa iria engrenar, olhou para os lados e viu que ninguém mais conversava. Cada um (e cada uma) tinha voltado sua atenção ao seu próprio "brinquedinho" - ipad, iphone e seu lá que outros "is". Ou falavam ao telefone ou mandavam mensagens. Teve um, inclusive, que colocou fone de ouvidos. Dá para acreditar? ? ele me pergunta.
Dá Rodrigo, infelizmente dá. Você não é o único que anda falando sozinho, mesmo quando está cheio de gente à sua volta. As pessoas estão realmente abrindo mão de tudo aquilo que considerávamos grandes prazeres ? como bater papo com os amigos e dar boas risadas ? pela companhia dos aparelhinhos digitais.
Mais uma vez explico: nada contra a tecnologia. Acho ela fantástica. Mas tudo contra a dependência que muitas pessoas criaram dela. Tem muita gente que se sente "abandonada" e "excluída do mundo" se não estiver plugada 24 horas por dia. Está virando uma paranoia. Acha que eu estou exagerando? Vamos aos exemplos.
Festa de escola com a apresentação dos alunos no palco. Se você pretende assistir e se emocionar com seu filhotinho lá na frente, cantando uma musiquinha de Natal ou participando como ator em uma peça de teatro ensaiada pela professora, um conselho: vá bem cedo para a escola e sente-se na primeira fileira da plateia. E mesmo assim reze para que nenhum pai ou mãe mais afoito fique parado, em pé, bem na sua frente, com o celular em punho, para tirar fotos e filmar o filho dele se apresentando. Se você sentar mais atrás, já saia de casa preparada para não ver nada ? ou melhor, você só verá um mar de mãos segurando celulares, tirando foto de tudo, o tempo todo.
E nas viagens, você já viu como essas pessoas se comportam? Todo mundo hoje tem máquina digital (além da câmara do celular, obvio), e o importante não é mais ver, se encantar com os lugares, as pessoas, com o modo de vida delas. O importante, hoje, é fotografar e filmar tudo, pra depois, quando chegar em casa, curtir a viagem através das fotos. Tem nexo isso? Você está diante de uma paisagem incrível ? como uma cordilheira coberta de neve, por exemplo, ? e em vez de admirá-la, na sua grandiosidade e beleza e curtir o clima do lugar, o único comentário que faz é: Putz, esse branco todo não vai ficar legal na foto. Juro que já vi isso acontecer.
Em shows, peças de teatro, restaurantes, cinema, sala de aula... Não interessa onde. O importante é registrar tudo o que você está fazendo, e depois mandar essa "informação" para os outros, através das redes sociais (quem realmente está interessado em saber detalhes da sua vida?). E com tanta coisa para documentar, escrever, comentar e compartilhar via digital, quem é que ainda tem tempo para curtir os amigos reais, para um chopinho regado a boas gargalhadas?
Eu tenho, e sempre terei. Levo junto, no máximo, o meu telefone celular. Mas ele fica ali, quietinho, na bolsa, para o caso de real necessidade.