A pergunta é extremamente comum e é necessário saber um pouco mais sobre a vida do tutor e de sua mascote antes de respondê-la. O que pode servir para uns, não necessariamente é a solução para outros.
Há quem nem espere a fêmea ter 6 meses de idade e já a esterilizam, acreditando estar fazendo um bem ao animal. Isso é válido? Depende, a começar pelo estilo de vida do tutor e pela raça da fêmea, pois algumas apresentam pré-disposição a patologias uterinas e câncer de mama.
Eu, particularmente, não castro minhas mascotes e, com exceção de duas, nenhuma apresentou problemas no aparelho reprodutor que justificasse a remoção de útero e ovários, e olha que tive dúzias de cadelas ao longo da vida.
Mesmo não simpatizando com a castração, há casos em que ela é interessante de ser considerada.
As razões nas quais me escoro para não castrá-las são cinco, e talvez você se identifique com alguma delas. Veja:
1. Em primeiro lugar: morro de pena de submeter uma cadela a uma cirurgia, anestesia, pós-operatório e sutura não havendo quadro patológico que justifique essa intervenção;
2. Seguindo uma linha mais naturalista, castração é uma mutilação, é remover do animal algo que nasceu com ele, como cauda e orelhas, e, salvo patologias, o bichinho tem o direito de permanecer da forma como veio ao mundo;
3. Ao entrar na minha casa, uma cadela fica comigo até o fim da vida dela. Sendo assim, estarei por perto se adoecer e precisar remover útero e ovários em tempo hábil de não comprometer sua vida;
4.Não me incomodo com o cio delas - duas semanas a cada seis meses não afetam minha rotina;
5. Animal castrado engorda, e a gordura traz outros aborrecimentos.
Além disso, para quem pensa em um dia dar sequência à genealogia da família canina, remover ovários não é uma boa ideia porque não tem retorno. Alguns proprietários têm certeza mais do que absoluta de que suas mascotes nunca vão dar cria, razão pela qual suspendem sua vida reprodutiva por meio da castração para não passar pelo inconveniente do cio e também para protegê-las de incomodações futuras que possam encurtar suas vidas. E naquele dilema de que é melhor prevenir do que remediar, há quem aceite remover os ovários de sua mascote antes que eles gerem problemas.
Isso pode acontecer? Sim, pode. Quem tem ovários pode ter piômetra e tumor de mama, assim como quem tem coração pode ter infarte, rins podem ter pedras e fígado pode desenvolver hepatite, isso sem considerar um câncer, que pode passar por qualquer um desses órgãos a qualquer tempo da vida do animal. Ou seja: animais podem ficar doentes, de qualquer órgão e em qualquer etapas de suas vidas, ou morrer serenamente sem ter passado por nenhum desses problemas.
Esses são os princípios que me impedem de castrar as cadelas que passaram por minha tutela.
Agora, se ela é proveniente da rua, não castrá-la significa reduzir drasticamente suas chances de encontrar um lar. Não tem como saber se o tutor que a adotar terá o compromisso de permanecer com ela até o fim de sua vida, e, não sendo castrada, a cadela pode voltar ao abandono e continuar gerando filhotes que vão nascer na vida hostil, isso sem falar em doenças venéreas que ela pode adquirir.
Se ela desenvolver problemas uterinos ou mamários, talvez seja caro demais para seu tutor arcar com as despesas de uma cirurgia cujo custo, assim como o tempo de recuperação, é bem maior. Tendo em vista essa realidade, e pensando na qualidade de vida de um animal que nasceu nas ruas, castração é a passagem não apenas para uma vida melhor, mas também questão de saúde pública: um animal adotado é um vetor a menos de sarna, leptospirose e outras zoonoses.
Também deve ser levado em conta o receio e até um certo remorso que o tutor pode desenvolver a longo prazo sabendo estar deixando um par de ovários funcionante, o que para ele significa uma bomba-relógio para a mascote cuja família tem histórico de infecção uterina e tumores no aparelho reprodutor. Yorkshires e Cockers Spaniel são campeões nesse quesito. E se você esperar demais e a cadela desenvolver tumores mamários, a culpa pode aparecer.
Entendeu agora porque o benefício é relativo? Conhecendo um pouco de si mesmo e do histórico familiar da fêmea, (se é filha de cadela que teve tumor mamário), converse com o veterinário de sua confiança e veja o que pode ser feito, porque passar anos com receio de que o pior aconteça também é ruim.
Para a turma mais naturalista, cabe salientar que exames de imagens semanas após o cio também são uma forma de controlar a saúde uterina de sua mascote sem a neurose de que ela vai morrer por não ser castrada.
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