Ter seu bichinho de estimação surpreendido pela boca de outro animal é uma situação bastante desagradável, mas acontece. Durante o passeio no parque, na frente do condomínio, descendo do carro, no consultório veterinário o qualquer outro lugar que passa a ganhar o título de “a hora errada no lugar errado” podem ser palco de ataques de cães e gatos que, sentindo-se ameaçados, fazem o uso dos dentes em sua forma mais primitiva. Às vezes, a mordida fica só no susto; em outras é possível visualizar as marcas dos dentes do animal. Casos mais complicados envolvem lacerações de pele, perfurações e, acredite, até fratura pode resultar de uma mordida de um cachorro de grande porte, daí a importância de algumas raças reconhecidamente agressivas ficarem nas ruas somente com focinheira.
Uma mordida não é um ferimento qualquer. Boca de cachorros e gatos não são estéreis, ou seja, existem bactérias que vivem ali e que podem fazer um estrago danado quando atingem planos mais profundos, como a musculatura. O inchaço é quase imediato, dói muito, e na sequência vem a contaminação, aquilo que resulta na formação de pus e que no verão é radar certo para moscas varejeiras e por isso exige cuidados mais intensivos.
E não pense que o gato é o mocinho da história. Aqueles dentinhos também têm chance de contaminar.
Ferimento causado por mordedura nunca pode ser negligenciado. Pode parecer um simples buraquinho, mas o problema é a profundidade desse buraco que virou uma caixinha de bactérias podendo evoluir para necrose dos tecidos envolvidos e, no azar extremo, para septicemia, situação que compromete a vida de seu mascote.
Cabe lembrar que mordida nas regiões do pescoço, cabeça e parte distal das patas têm grande potencial de trazer maiores problemas, em função da circulação sanguínea, se comparado às consequências de uma mordida no lombo, por exemplo. E dê adeus à estética: é muito importante cortar, e bem baixinho, a área afetada para promover melhor higienização e aplicação de medicamentos. Lembre-se: a vida vem antes da beleza.
Mordida de animal é considerada emergência e o socorro deve ser procurado nas primeiras horas após o ocorrido. Quanto mais cedo seu pet for atendido, menores serão as consequências da mordedura. Via de regra, quatro horas é um bom período de tempo para ser realizada uma boa higienização em um local que ainda não está inchado, como ficará no dia seguinte se não recebida a devida medicação. Para quem está no campo e longe de uma clínica veterinária, lavar a região com água e sabão já atenua a futura contaminação, o que é melhor do que deixar a área ferida exposta e sem limpeza nenhuma. Depois disso, lavar com água oxigenada também ajuda. O oxigênio é levado para dentro das camadas mais profundas, o que dificulta a reprodução das bactérias anaeróbicas que assim terão seu número reduzido.
Em uma clínica veterinária, o ferimento é avaliado por um profissional que ganha tempo a favor do mascote se o proprietário conseguiu fazer a higiene logo depois do ocorrido. O uso de relaxante muscular e até de anestésico pode ser considerado. O pet pode se mexer muito e até morder o profissional em função da dor que sente com manipulação dos tecidos afetados.
Às vezes, proprietários se ressentem porque o veterinário não suturou o local da lesão, ferida que permanece aberta e com um aspecto repugnante, dando uma ideia de descaso com o pet para quem o vê. A questão é justamente a contaminação. Dependendo do aspecto, do tempo transcorrido e da profundidade da lesão, fechar o ferimento só vai abafar o local e piorar as consequências. É claro que nenhum profissional vai deixar pedaços da musculatura pendurados no animal – situação em que será suturado – mas é bom saber que dentro de poucos dias o quadro pode piorar.
O tratamento e duração vão depender do local e da extensão dos danos, mas nunca é menor do que sete dias, tempo necessário para que o proprietário comece a deixar o medo de infecções mais severas para trás. Antibióticos, antiinflamatórios e limpeza da região vão contornar o problema. Há casos em que o animal precisará usar o colar de elisabetano, aquela “antena parabólica” branca que envolve a cabeça dos bichinhos para não lamberem a ferida que no período de cicatrização começa a coçar.
Daisy Vivian é diplomada pela UFRGS em Medicina Veterinária e Jornalismo. É autora dos livros "Cães e Gatos Sabem Ajudar Seus Donos" e "Olhe-me nos Olhos e Saiba Quem Você É", histórias reais sobre pessoas e seus animais de estimação. Escreve semanalmente em revistadonna.com