Com a troca de governo, invertem-se as cobranças. Desde a posse de Lula, leitores me escrevem perguntando: está feliz? Viu o que o ministro disse? Viu a reação do mercado?
Diante da barbárie promovida por vândalos em Brasília, os que reclamam se destacam pela doçura. É assim que se faz, sem violência. Afinal, jamais existirá um governo livre de críticas.
Erros e acertos virão, mas, felizmente, recuperamos a normalização democrática. Muitos antibolsonaristas, como eu, não são petistas nem filiados a partido algum – queriam era ter na presidência alguém que entendesse o mundo em que vive.
Bolsonaro e sua tropa nunca trabalharam para o Brasil real. Num desvario, pretenderam criar um país à sua própria imagem e semelhança – não à imagem e semelhança de Deus, pois a ideia de um Deus estúpido, desinformado, sem compaixão e terrorista não condiz com nenhum espírito sagrado.
O Brasil volta agora a ser governado por uma equipe que, a despeito das medidas que vier a tomar, possui uma visão abrangente do tempo que lhe coube viver. A tentativa de transformar o Brasil numa bolha retrógrada e isolada do planeta não teve continuidade, amém.
Pode-se não gostar do mundo do jeito que ele é – não são poucos os nostálgicos do século passado, e consigo entender o medo, é muita novidade: tecnologia, inclusões, ambiguidades. O século 21, desde seu início, não fez outra coisa a não ser introduzir novos conceitos e ferramentas no nosso dia a dia. Tonteia.
Mas a opção de nadar contra a maré é individual, não se pode impor que um país inteiro retroceda. Se sua religião condena certos costumes, não é preciso aderir, você é livre para viver como quiser. Mas não pode impedir que outros vivam como querem também.
Se desacredita da ciência, é um risco seu, que não pode ser estendido a todo um povo. Se lhe incomoda viver numa sociedade tão diversa, representada por indivíduos diferentes entre si e com os mesmos direitos, a escolha é sua entre aproveitar a oportunidade para expandir-se ou manter o preconceito, mas terá que aceitar que o país não tem uma única cara. Nunca teve.
O Brasil recolocou em pauta os assuntos que interessam a todas as nações sintonizadas com as mudanças – não só climáticas, mas de comportamento, de políticas identitárias e tudo mais que evita um país de ficar necrosado. Portanto, não há motivo para entrar em depressão – e muito menos em um transe imbecilizante e criminoso.
Alinhamos com a modernidade, foi a primeira medida. Ainda não se sabe como evoluirá a economia, a educação, mas uma coisa já está assegurada: voltamos a viver o presente. Não estamos mais presos à ilusão infantil de que o relógio do tempo pode ser parado.