Dezessete de maio é o Dia Internacional da Luta Contra a Homofobia. Em 1990, neste dia, a homossexualidade deixou de ser considerada doença pela Organização Mundial de Saúde. Bravo! Trinta e um anos atrás nos tornamos menos ignaros. O que será que celebraremos nos próximos 30?
Exercício de futurologia: acho que até mesmo antes de 2050, nosso vocabulário irá mudar. Não sei você, mas eu já começo a achar obsoleto designar alguém como gay. Nada contra usar a expressão como um adjetivo divertido (“esta camisa é muito gay”), mas não acredito que continuará classificando a sexualidade de uma pessoa, diferenciando-a de outras.
Sei de mulheres que foram casadas com homens, tiveram filhos, se separaram, aí namoraram uma mulher, separaram de novo, e por ora estão muito bem sozinhas, até a próxima paixão. Sei de garotos que ficaram com outros garotos e hoje estão casados com mulheres. Conheço mulheres héteros que já se envolveram com outra mulher em alguma ocasião furtiva, mas continuam preferindo viver com homens. Parágrafo muito promíscuo? Nem tanto, caso se esteja disposto a enxergar e reconhecer o que acontece ao redor.
Os exemplos acima não são de pessoas sem Deus no coração. Entre eles, pode estar o médico que atende seu pai, pode estar a engenheira que está construindo sua casa, pode estar a vizinha que reza ao seu lado na missa, pode estar sua prima do interior – ela mesma, tão quietinha. Uma pena não termos o costume de conversar mais sobre sexo.
Minha experiência, até aqui, é exclusivamente hétero, mas observo a vida. Leitura, teatro, cinema, viagens, nada disso é entretenimento, apenas, e sim o combustível que expande nossa mente, que traz compreensão sobre a existência humana. E me parece cada dia mais claro que nascemos todos bissexuais. Poderíamos sentir prazer transando tanto com homens quanto com mulheres, mesmo estando bem satisfeitos em atender apenas nossa atração predominante.
Será que continuaremos rotulando alguém como sendo exclusivamente isso ou aquilo?
Trago o assunto à reflexão, sem certeza de nada, mas aberta aos movimentos do mundo. Nunca considerei a homossexualidade uma escolha, e sim uma condição genética que envolvia diversos fatores – porém, hoje, penso que a escolha pode ser também um desses fatores, no sentido de opção pela liberdade dos sentimentos, venham de onde vierem. Sendo assim, será que continuaremos rotulando alguém como sendo exclusivamente isso ou aquilo? Quem sabe, por fim, cada um cuidará da própria vida afetiva e sexual, sem dedicar-se à patrulha, agressão e discriminação dos demais?
Essa sou eu imaginando a sociedade daqui a 30 anos, com pouca probabilidade de confirmar in loco se acertarei nos prognósticos. Mal sei se escapo viva desse perverso 2021.