Na primeira cena de Betty, a Feia — A História Continua, sequência da novela colombiana que chega ao Amazon Prime Video nesta sexta-feira (19), o público descobre que os mocinhos da trama já não são mais um casal. Betty e Armando protagonizaram um dos finais felizes mais aclamados da teledramaturgia mundial, mas, 25 anos depois, tudo está bem diferente — e tortuoso — entre os dois. O que não mudou foi o amor que sentem um pelo outro.
Esse é o enredo principal do recém-lançado spin-off, que reúne o elenco original de Betty, a Feia para contar aos espectadores o que aconteceu após o último capítulo da novela, duas décadas atrás. A primeira temporada da série contará com 10 episódios.
Betty, que volta a ser interpretada por Ana María Orozco, acredita ter sido traída por Armando, personagem de Jorge Enrique Abello. Ele tenta provar à amada que as coisas não são bem assim — mas, como de costume, acaba por meter os pés pelas mãos.
Paralelamente à crise conjugal, outros apuros invadem a vida dos protagonistas: a Eco Moda, empresa da família, passa por maus bocados após o falecimento de Roberto (Kepa Amuchastegui), pai de Armando. Em testamento, ele pede que Betty reassuma a presidência do grupo, o que coloca a mocinha na cova dos leões — pois, sim, a vilã Marcela (Natalia Ramírez) também está de volta.
Betty ainda precisa lidar com os problemas na relação com a filha, Mila (Juanita Molina), agora uma jovem da Geração Z, hiperconectada e com pouquíssima afinidade com a mãe.
Sentindo-se no olho do furacão, a protagonista decide tomar uma medida drástica: corta novamente a franja, coloca seus óculos característicos e volta a se parecer com aquela Betty que conquistou o público em 1999, abandonando de vez o visual "repaginado" que havia adotado ainda no fim da versão original, quando deixa de ser "a feia". Com isso, o spin-off tem em mãos o ingrediente que faltava para a receita que levou Betty, a Feia ao sucesso.
Fenômeno mundial
A história escrita por Fernando Gaitán acumula feitos desde sua estreia na RCN Televisión sob o título de Yo Soy Betty, la Fea. Ancorado na improvável história de amor vivida por uma mocinha fora dos padrões estéticos e um galã típico, o folhetim se tornou "a novela de maior sucesso de todo o mundo", conforme o Guinnes World Records.
Betty, a Feia foi exibida em mais de 180 países, ganhando também versões próprias em ao menos duas dezenas deles. A novela foi recriada em praticamente todos os cantos do mundo. Países como Grécia, Polônia, Índia, China, Vietnã e África do Sul têm uma Betty para chamar de sua.
Alguns deles chegaram a diversificar o "bettyverso", com mais de uma produção inspirada no folhetim. É o caso dos Estados Unidos, que produziu a aclamada Ugly Betty, série que rendeu um Emmy à protagonista America Ferreira (também conhecida pela atuação recente em Barbie); e a repaginada Betty em Nova York, de 2019, que tem Elyfer Torres no papel principal.
O Brasil tampouco ficou de fora. Produzida pela Record TV, a versão brasileira estreou sob o título de Bela, a Feia, tendo Giselle Itié como protagonista. A história ainda chegou aos espectadores brazucas outras três vezes: com a novela original, exibida pela Rede TV!; a versão mexicana, A Feia Mais Bela, que foi ao ar no SBT; e com Betty em Nova York, exibida também pela emissora de Silvio Santos.
Identificação
Mas o que explica o sucesso da história de Betty junto a espectadores de diferentes culturas? Para Ivan Fortunato, doutor em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades pela USP, o principal fator é a identificação.
Segundo o pesquisador, a personagem foi tão facilmente abraçada pelo público porque se encaixa no conceito de "herói simpático" introduzido pelo pensador francês Edgar Morin.
— É aquela pessoa com quem nos identificamos no dia a dia, especialmente por causa de suas dificuldades, e torcemos para que conquiste seus objetivos. Betty é uma representação mais que evidente desse conceito, uma "heroína simpática" — explica.
— Como heroína simpática, ela fala diretamente com as pessoas que a assistem. Todos que precisam enfrentar um leão por dia, como diz o ditado popular, se identificam com essa personagem — diz.