No top 10 de séries mais assistidas da Netflix, Treta leva à ficção uma situação que é muito comum nas redes sociais: dois estranhos têm um pequeno desentendimento, mas se engajam nisso de forma tão ferrenha que a única opção é seguir brigando, cada vez mais desproporcionalmente.
No caso, os dois protagonistas têm uma briga de trânsito no estacionamento de uma loja de departamentos. Danny (vivido por Steven Yeun, o Glenn de The Walking Dead), um empreiteiro solteiro e endividado, e Amy (interpretada pela comediante de stand-up Ali Wong), uma bem-sucedida mas infeliz mãe de família, então saem perseguindo um ao outro pelas ruas de Los Angeles.
Sentido
Tomados pela raiva, eles logo descobrem os seus endereços, e a coisa vai escalando cada vez mais. Danny faz xixi no chão do banheiro de Amy e planeja pôr fogo em seu carro; ela retruca pichando “Não sei dirigir” na caminhonete dele e flertando com o seu irmão mais novo.
Apesar de todo o estrago, os dois não parecem nem um pouco dispostos a fazer as pazes. É como se eles encontrassem na briga um sentido para suas vidas – conforme ilustra a música The Reason, da banda Hoobastank, que toca, ironicamente, no final do primeiro episódio.
Segundo o criador da série, Lee Sung Jin, a trama reflete sobre as “formas quebradas” como a humanidade vem se relacionando nos últimos anos. Por meio de alguns personagens, a série ironiza um estilo de vida good vibes (“boas vibrações”) que muitas vezes é desconectado da convivência em sociedade.
— Em nossa busca por preenchimento, há uma tentativa de quase libertar nossos “eus” sombrios e não olhar para o lado sombrio das coisas — explicou Lee à revista Time. — Na realidade, é na bagunça, nas fissuras e quando estamos nus uns na frente dos outros que realmente começamos a ver que há uma feiúra em todos nós.
Sucesso
O sucesso de Treta vem na esteira de outras produções do estúdio americano A24, que acumula hits nos últimos anos e, no Oscar 2023, roubou a cena com Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo.
Fora a trama existencialista, a série tem algumas semelhanças com o filme. O elenco é majoritariamente formado por descendentes de asiáticos e, no caso da produção da Netflix, isso também se aplica à equipe por trás das câmeras.
Outro destaque nas duas produções é a direção de arte, que aposta em cores quentes, referências cinematográficas e cenários que são ora realistas, ora lúdicos. O diretor de fotografia, aliás, é o mesmo: Larkin Seiple.