Apesar de muito populares nos papéis, Marco Nanini, Marieta Severo e Pedro Cardoso não foram os primeiros Lineu, Nenê e Agostinho de A Grande Família. O trio é parte da versão que estreou em 2001, adaptando o seriado homônimo lançado em 1972 pela Rede Globo.
A primeira A Grande Família foi inspirada na série norte-americana All In The Family, produzida pela Rede CBS, acompanhando uma família de classe média. Em 1973, no entanto, a emissora decidiu adaptar o enredo à realidade nacional e chamou Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, Armando Costa e Paulo Afonso Grisolli para a missão.
Como resultado, os Silva ganharam os já conhecidos traços bem brasileiros: se mudaram para um conjunto habitacional do subúrbio e passaram a enfrentar problemas como a alta dos aluguéis e a falta de perspectivas para a juventude. Além disso, o roteiro começou a apresentar uma forte dose de crítica social e política, o que era feito por meio de metáforas, para driblar a censura da época.
Os personagens de 1972 são quase os mesmos de 2001. Temos o Seu Lineu, a Dona Nenê, o Tuco, a Bebel, o Agostinho e o Seu Floriano, que preservam as características com as quais estamos acostumados — a Bebel é a primogênita mimada, por exemplo, enquanto Tuco é o filho desempregado. O acréscimo era Júnior, o caçula, um estudante revolucionário.
Após a série ser finalizada, em 1975, alguns atores seguiram fazendo sucesso na emissora, enquanto outros acabaram se distanciando da vida artística. Nesta terça-feira (29), foi divulgada a morte da atriz Djenane Machado, que foi a primeira Bebel. Ela tinha 70 anos e vivia longe dos holofotes desde os anos 1990.
Além de Djenane, outros integrantes do elenco original de A Grande Família já faleceram. Relembre abaixo quem fez parte da primeira versão:
Jorge Dória, o Lineu
Jorge Dória vivia o Lineu na primeira versão de A Grande Família. O patriarca é um veterinário "careta" que precisa dar conta das dificuldades financeiras da casa.
Ao Memória Globo, Dória disse que considerava Lineu um herói, "pois tinha que manter, com todas as dificuldades financeiras, uma família cheia de problemas, morando ao lado de uma pedreira, numa casa que sacudia com as explosões".
O papel consolidou o sucesso de Jorge Dória na dramaturgia. Depois de 1975, ele participou de novelas como O Pulo do Gato (1978), Que Rei Sou Eu? (1989) e Deus nos Acuda (1992), além de humorísticos como Sai de Baixo e Zorra Total.
O ator morreu no dia 6 de novembro de 2013, aos 92 anos, após complicações cardiorrespiratórias e renais.
Eloísa Mafalda, a Dona Nenê
Em 1972, Nenê já era uma "mãezona" preocupada em resolver os problemas domésticos. Depois de dar vida à personagem, a atriz Eloísa Mafalda seguiu atuando em novelas da Globo. Os destaques são as personagens Dona Pombinha, de Roque Santeiro (1985), Gioconda Pontes, de Pedra Sobre Pedra (1992) e Manuela, de Mulheres de Areia (1993).
Seu último papel na TV foi o da Dona Carmem, de O Beijo do Vampiro (2002). Depois disso, ela se afastou da vida artística devido ao Alzheimer. Eloísa morreu em 16 de maio de 2018, em casa, vítima de insuficiência respiratória, aos 93 anos.
Djenane Machado, a Bebel
Djenane Machado viveu a Bebel na primeira temporada de A Grande Família, mas acabou sendo substituída por Maria Cristina Nunes tempos depois, por supostamente chegar atrasada e causar problemas nas gravações.
A artista morreu na semana passada, aos 70 anos. Ao longo de sua carreira, ela atuou em novelas como Rosa Rebelde (1969), Assim na Terra como no Céu (1970) e O Cafona (1971).
Djenane abandonou o mundo artístico em 1992, após a morte do pai, o produtor e diretor de espetáculos musicais Carlos Machado, conhecido como "O Rei da Noite". Conforme o jornal O Globo, o afastamento da atriz, à época, teve relação com sua luta contra a dependência química.
Paulo Araújo, o Agostinho
Agostinho Carrara também vivia aprontando para Lineu na primeira versão da série. A diferença é que, em vez de taxista, ele era um garçom de motel.
Paulo Araújo, que interpretou o personagem, hoje tem 90 anos e está aposentado. Ao longo da carreira, o artista atuou em novelas como Irmãos Coragem (1970), Verão Vermelho (1970) e Bicho do Mato (1971). Ele também dirigiu programas humorísticos, como Os Trapalhões, Satiricom e Planeta dos Homens.
Osmar Prado, o Júnior
Osmar Prado vivia Júnior na primeira versão de A Grande Família. O personagem, que não foi adaptado ao seriado de 2001, era o filho mais novo de Lineu e Nenê e tinha como característica seu engajamento político de esquerda.
Na série de 2001, os roteiristas decidiram incorporar traços de Júnior a outros personagens da trama. Assim, o Lineu de Marco Nanini passou a ser mais ativo politicamente, enquanto o Tuco de Lucio Mauro Filho ganhou ares mais revolucionários.
Na teledramaturgia, Osmar Prado teve papéis marcantes como Sérgio Cabeleira, em Pedra Sobre Pedra (1992), Tião Galinha, em Renascer (1993), e Barão de Araruna, em Sinhá Moça (2006). Atualmente, ele é o Velho do Rio em Pantanal.
Luiz Armando Queiroz, o Tuco
Assim como o Tuco de Lúcio Mauro Filho, o original era um jovem irresponsável e desligado que tinha dificuldades em achar um emprego — a diferença é que ele era hippie. Tuco era vivido por Luiz Armando Queiroz, que fez sucesso na televisão em papéis como Cláudio da novela Cuca Legal (1975), Belchior da novela Estúpido Cupido (1976) e Tito Moreira França em Roque Santeiro (1985).
O ator faleceu em 16 de maio de 1999, aos 54 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos, causado pela quimioterapia quando se recuperava de um câncer linfático.
Brandão Filho, o Floriano
Vivido por Brandão Filho, o Seu Floriano era o avô aposentado que dormia na sala e vivia reclamando das pessoas que chegavam da rua e se jogavam sobre o seu sofá.
Filho do ator João Augusto Soares Brandão, ele participou da primeira radionovela brasileira, Em Busca de Felicidade, da Rádio Nacional. Também atuou em humorísticos de sucesso como Uau, Viva o Gordo e Chico Anysio Show, além de novelas como Bravo! (1975), Saramandaia (1976) e Salvador da Pátria (1989)
Brandão Filho faleceu em 1998, aos 88 anos, de câncer, após sofrer duas paradas cardiorrespiratórias e permanecer internado por quarenta dias no Hospital de Clínicas Rio Mar, na Barra da Tijuca.