Novo normal, quarentena, pandemia, isolamento social, distanciamento... Estes e outros termos fizeram parte do nosso 2020. Mas, se pudéssemos escolher apenas uma palavra que definisse o conturbado ano que está terminando, seria REINVENÇÃO.
Com restrições sociais, financeiras e sanitárias, a TV precisou encontrar novas formas de entreter o público. Foram meses atípicos, mas com criatividade e tecnologia a favor da arte, o telespectador ganhou um leque de opções na telinha. Algumas deram muito certo e ditam regras para os novos tempos que se desenham. No entanto, há alternativas que não saíram conforme o esperado. Entre erros e acertos, relembre o que a TV ofereceu para os telespectadores!
O "novo normal" na teledramaturgia
A primeira atração inédita produzida de forma remota e com elenco reduzido foi Diário de um Confinado. Estrelada por Bruno Mazzeo e criada por sua esposa, Joana Jabace, a série mostrou o cotidiano de Murilo, um solteirão que lida com as agruras do isolamento social. Contou com as participações online de Fernanda Torres e Lázaro Ramos, entre outros.
Exibida pela Globo, em julho, e Globoplay, a série foi um sucesso, tanto que ganhou uma segunda temporada (esta, somente pelo serviço de streaming). E ainda terá um especial de Natal, também exclusivo do Globoplay.
Bruno passou boa parte do tempo sozinho em cena e seu talento encheu a tela. Diário de um Confinado foi uma experiência bem-sucedida que comprovou ser possível realizar um ótimo produto sem uma grande equipe envolvida.
Produção em família na quarentena
O cineasta gaúcho Jorge Furtado encabeçou outra grande produção em meio à pandemia. Aproveitando as famílias de atores que estavam confinadas juntas, surgiu a série Amor e Sorte, com um elenco de peso e histórias tocantes exibidas em setembro.
O primeiro episódio, com Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, tinha os netos e o genro de Fernandona nos bastidores, dividindo-se entre direção, fotografia e cenografia. O resultado foi emocionante, tanto que o público pediu bis. E terá. No dia 25, vai ao ar Gilda, Lúcia e o Bode, contando as peripécias de mãe e filha.
Os episódios seguintes foram um bálsamo para os apaixonados. Lázaro Ramos e Taís Araujo, Emilio Dantas e Fabiula Nascimento, Caio Blat e Luisa Arraes levaram a sintonia da vida real para a ficção.
A cereja do bolo foram as cenas de making-off após cada episódio, mostrando os desafios dos atores em suas novas funções, aprendendo a manejar equipamento e dividir tarefas até então desconhecidas.
Na linha de frente
Essencial para mostrar o caos da saúde pública no Brasil em suas primeiras temporadas, Sob Pressão se fez ainda mais necessária em tempos de pandemia. Em Sob Pressão – Plantão Covid, dois episódios especiais gravados sob protocolos rígidos de distanciamento e testagem, elenco e equipe emocionaram com histórias ficcionais, mas que representaram as milhares de vítimas da covid-19. Os episódios foram ao ar em outubro.
Marjorie Estiano e Julio Andrade, sempre impecáveis, foram verdadeiros heróis ao interpretarem Carolina e Evandro. Plantão Covid foi um misto de dramaturgia, utilidade pública e homenagem a todos os profissionais da saúde que estão na linha de frente contra o coronavírus.
Para não esquecer
O Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, foi marcado por protestos em todo o país, em uma onda de indignação por mais uma vida negra ceifada pela violência: João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte no supermercado Carrefour, em Porto Alegre. Por isso, mais do que emocionante, Falas Negras foi um soco no estômago ainda mais poderoso e um alerta para a luta antirracista, que é de todos nós.
Dirigido por Lázaro Ramos, o especial trouxe atores em interpretações viscerais de falas de algumas personalidades negras da história, desde escravos que lutaram pela liberdade até casos recentes, como o da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em 2018, que foi interpretada por Taís Araujo. Foi impossível não chorar do início ao fim.
Valeu a pena rever?
Em março, as gravações das novelas que estavam no ar (Amor de Mãe e Salve-se Quem Puder) e da que estava por vir (Nos Tempos do Imperador) precisaram ser interrompidas por conta da pandemia. Malhação – Transformação, nova temporada da novelinha adolescente, ficou para 2022. Assim, as reprises tomaram conta da vida dos noveleiros.
A mais antiga trama a ser reexibida nesse período foi Fina Estampa, de 2011. O público adorou rever Griselda (Lilia Cabral) e Tereza Cristina (Christiane Torloni). As confusões de Pereirão foram um respiro para um público tão cansado da dura realidade imposta pela pandemia.
A leveza de Totalmente Demais (2015) também foi um acerto. O mais interessante foi a retomada das torcidas de #Arliza e #Joliza defendendo seus casais favoritos nas redes sociais. Ao contrário do que pediram os fãs de Arthur (Fabio Assunção), não havia outro final gravado, portanto, Eliza (Marina Ruy Barbosa) terminou mesmo com Jonatas (Felipe Simas) no último capítulo.
Na espera por Nos Tempos do Imperador, uma espécie de continuação de Novo Mundo (2017), a reprise da história de D. Pedro I (Caio Castro) tinha tudo para ser uma boa pedida. Só que não. Ainda recente na memória do público, não movimentou os telespectadores como era esperado.
O fato de ser muito recente também pode explicar por que A Força do Querer (2017) não decolou. Sucesso de Gloria Perez, marcou Bibi (Juliana Paes), Jeiza (Paolla Oliveira) e Ritinha (Isis Valverde) na memória do telespectador. Tão marcantes que ainda está cedo para sentir falta do trio.
Estreia em plena pandemia
A grande novidade no entretenimento da Globo foi a estreia, em outubro, do Simples Assim, programa comandado por Angélica. A volta da loira às tardes de sábado traz leveza e emoção, com convidados especiais — porém, distanciados — e bons quadros.
Humor remoto e distanciado
No segundo semestre, depois de reprisar algumas edições do Zorra, a Globo voltou a exibir quadros inéditos da atração, todos gravados durante a pandemia, com atores direto de suas casas. Marisa Orth e Diogo Vilela reforçaram o elenco. A última edição foi ao ar no sábado passado. Zorra não tem lugar na programação do próximo ano, já que toda a área de humor da emissora passará por reformulações.
As aulas virtuais fizeram parte da vida de estudantes do mundo inteiro em 2020. Por isso, a turma da Escolinha do Professor Raimundo também entrou nessa onda, com episódios inéditos focando no ensino remoto. Uma sala de aula com distanciamento, novos cenários, menos atores em cena e participações especiais de personagens clássicos como Crô (Marcelo Serrado), de Fina Estampa (2011), e Félix (Mateus Solano), de Amor à Vida (2013), a Escolinha se despede em grande estilo, já que também não volta em 2021.
Que falta faz o público!
A pandemia mudou a forma de nos relacionarmos uns com os outros. Isso se refletiu também nos programas de auditório que, em 2020, retomaram as gravações sem um elemento fundamental: o público.
O reality musical The Voice, tanto na edição infantil quanto na adulta, perdeu o encanto do retorno da torcida. Abraços entre os técnicos e seus pupilos também ficaram de fora, tirando boa parte da emoção inerente aos programas. A versão infantil teve ainda duas baixas. Claudia Leitte, morando em Miami, nos Estados Unidos, foi substituída por Mumuzinho. Grávida, Simone participou remotamente, sem poder dividir o palco com a irmã, Simaria. A quinta temporada da atração terminou em outubro.
Bom conteúdo
Se alguns programas perderam sua plateia, ganharam em conteúdo. O Conversa com Bial ampliou sua rede de contatos, entrevistando figuras ilustres que dificilmente gravariam em estúdio. Virtualmente, Pedro Bial conversou com o ex-presidente norte-americano Barack Obama e as atrizes Laura Cardoso e Fernanda Montenegro, entre outras grandes personalidades. Ponto para a tecnologia!
Algumas atrações mantiveram um formato híbrido, ou seja, a plateia é virtual, mas alguns convidados são recebidos no palco, com todas as normas de segurança respeitadas. É o caso do Caldeirão. Luciano Huck foi o primeiro apresentador a voltar aos estúdios nesta retomada, em julho. Com entrevistas virtuais há alguns meses, Serginho Groisman volta aos estúdios do Altas Horas neste sábado. Com menos convidados e sem plateia, é claro.
O Domingão do Faustão mudou muito sua essência sem o auditório de forma presencial, mas trouxe de volta o quadro Dança dos Famosos, maior sucesso da atração. Apesar das testagens semanais e cuidados, vários participantes testaram positivo para covid-19, o que levanta a dúvida sobre a necessidade de ter retornado com o quadro prematuramente. Afinal, dança precisa de contato físico, o que aumenta os riscos de contaminação.
Daqui, com orgulho
Os estúdios da RBS TV se prepararam com todos os cuidados possíveis para receber as novas temporadas das atrações locais. Cris Silva emocionou e deu lições de recomeço no Posso Entrar?, que estreou em setembro. Desta vez, com a participação virtual do público e de convidados ilustres.
A dupla do Destemperados na TV, que segue no ar, fincou pé na cozinha, sem as andanças de Diogo Carvalho pelas ruas de Porto Alegre. Ao lado de Lela Zaniol, ele dá dicas boas e baratas para abrilhantar a ceia das famílias neste final de ano.