Julia Stockler tem muitos motivos para celebrar seu atual momento. Cria do teatro, em 2019, estreou em novelas como Justina, uma jovem autista, na atual versão de Éramos Seis. Na trama, divide a cena com Susana Vieira, que interpreta sua mãe, a rígida Emília. Ainda no ano passado, a carioca de 31 anos foi uma das protagonistas do filme A Vida Invisível, premiado no Festival de Cannes, na França.
No filme de Karim Aïnouz, Julia é Guida Gusmão, uma mulher que enfrenta a sociedade conservadora dos anos 1950 e rompe barreiras, em contraponto à irmã, Eurídice (Carol Duarte), que acata as ordens do pai e do marido, vivendo uma vida tradicional e sem viço. No elenco, Julia conheceu ninguém menos do que Fernanda Montenegro, intérprete de Eurídice na segunda fase da história.
Com tantos encontros memoráveis, Julia Stockler é só alegria. Nesta entrevista, por e-mail, ela conta como surgiu o convite para interpretar Justina na novela, destaca o aprendizado com essa personagem tão complexa e celebra as parcerias de sucesso em cena.
No filme A Vida Invisível, estás no mesmo elenco que Fernanda Montenegro. Em Éramos Seis, divide a cena com Susana Vieira e Gloria Pires. Sentes o peso da responsabilidade de estar em produções tão relevantes ao lado de atrizes consagradas?
Ao contrário de peso, sinto uma alegria e uma chance de aprender muito. É claro que a responsabilidade existe em qualquer trabalho, mas, quando o encontro é com atrizes tão generosas, contracenar se torna um enorme prazer.
Como surgiu a oportunidade de viver Justina em Éramos Seis?
Recebi uma ligação da produtora de elenco da novela me convidando para fazer um teste. Logo que ela me contou um pouco da história da Justina, eu me emocionei muito. Fiquei arrepiada. Por ser uma personagem tão complexa, que tem um universo particular, que olha com tanto amor para o mundo, me deu muita vontade de poder contar a história dela. Fiz um teste bastante longo, que além de texto tinha improvisações. Alguns dias depois, recebi a ligação de que tinha passado. Fiquei extremamente feliz.
Nos dias de hoje, Justina seria diagnosticada com autismo e teria mais convívio social, bem diferente do que era no início do século passado. Para a novela, estudaste os transtornos mentais e o contexto histórico em que se enquadravam?
Sim. Tive encontros com autistas do Instituto Priorit da Barra (da Tijuca, bairro do Rio de Janeiro), que foram fundamentais para começar a construção da Justina. Nós conversamos muito, colorimos, dançamos... Ao mesmo tempo, comprei vários livros sobre o assunto e vi alguns filmes para entender qual seria o contorno que eu daria para a personagem. E, em algum momento, eu me preocupei em fazer uma autista e, sim, em construir uma alma pura, que se encanta com as pequenas coisas e que constrói suas associações de forma particular e única. Comecei a criar um ser humano e não uma doente.
O que tu levas de Justina como aprendizado para a vida? A forma dela de interpretar o mundo é muito singular, não?
A doçura da Justina é algo que me comove.
Em tua personalidade, há mais de Guida ou de Justina?
Acho que me encontro no meio da caminho entre as duas. As duas são mulheres muito fortes dentro das suas circunstâncias, que são extremas. Acho que estou aqui para fazer essa ponte.
O que esperas passar para as pessoas ao interpretar uma personagem tão sensível como Justina?
O respeito pela diferença.