As dificuldades de alunos e professores de uma escola pública na periferia de São Paulo refletem questões inerentes a todos os brasileiros. Em Segunda Chamada, série da Globo que chega ao seu último capítulo nesta terça-feira (17), o espectador, além de deparar com um quadro de precariedade do sistema de educação pública do Brasil que é palpável em muitas regiões, é instigado também a refletir sobre diferentes dramas sociais.
Ambientado na fictícia Escola Estadual Carolina Maria de Jesus, a trama assinada por Carla Faour e Julia Spadaccini mostra casos de jovens e adultos que ocupam as cadeiras da instituição no horário noturno. São diferentes perfis. A jovem que precisa abortar seu filho, o professor que se envolve com um aluno gay ainda descobrindo sua sexualidade, a estudante trans que sofre com o preconceito e a violência no ambiente escolar.
Os mestres, liderados por Lúcia (Debora Bloch), também são verossímeis. Hermila Guedes, por exemplo, interpreta a professora de história e geografia Sônia, que viu nos corredores escolares um alento para as agressões físicas que sofria de seu marido, Carlos (Otávio Müller). Por uma infeliz coincidência, a atriz conta a GaúchaZH que viu a mãe ser agredida pelo pai na infância e, por isso, a sua personagem ganhou uma enorme carga dramática.
— O maior desafio de viver a Sônia foi tratar da violência doméstica num país onde a incidência de violência contra a mulher é enorme e, inevitavelmente, você conhece alguma mulher que já sofreu ou sofre algum abuso na relação — diz Hermila, que também participou do elenco de Assédio, outra série da Globo que abordou o tema da violência contra a mulher.
No grande desfecho de Segunda Chamada, Sônia finalmente vai conseguir agir e mudar essa realidade.
— A TV pode e deve usar o poder que tem, que é de atingir um grande número de pessoas, para gerar discussões, aguçar olhares, pensamentos e trazer representatividade — aponta a atriz.
Segundo Hermila, todas as histórias retratadas no seriado a emocionaram de alguma forma. No entanto, a mais tocante foi a realidade da aluna Rita (Nanda Costa), que já era mãe de três filhos e, ao fazer um exame, descobre que está grávida de mais um. Ela decide abortar o bebê por não ter condições de criá-lo, mas acaba morrendo. Hermila acredita que a série ajudou a provocar o debate:
— Vou até usar uma frase da Sônia, em uma das cenas: "A questão não é ser contra ou a favor, a gente sabe que existe o aborto, isso é um fato". A maioria das mulheres que morrem são as mais pobres e vulneráveis. É um assunto com caráter de urgência.
Como foram alunos com histórias diferentes dentro de uma mesma escola, Segunda Chamada cumpriu o seu dever, na opinião da atriz:
— Ao mesmo tempo em que isso pode gerar muitos conflitos, essa mesma convivência pode trazer grandes transformações.
A segunda temporada da série está confirmada, com previsão de estreia para o primeiro semestre de 2020.