Pode ser da Austrália, do Japão, da Argentina ou da Dinamarca. Além das populares atrações americanas (House of Cards e Orange Is the New Black), das conceituadas tramas canadenses (Orphan Black e Vikings) e das consagradas produções britânicas (Sherlock e Downton Abbey), a Netflix dispõe em seu catálogo brasileiro de séries realizadas em países de todos os continentes – com exceção, por enquanto, da África. Há a australiana Please Like Me, elogiada por sua abordagem bem-humorada de questões como homofobia e depressão. Da Espanha, mais precisamente da Catalunha, há a elogiada Merlí, também tratando de vários temas – política, educação etc. –, mas pelo viés da filosofia. Sem contar as dezenas de doramas (séries produzidas no oriente asiático), como Amor e Casamento, na qual uma jornalista decide ser mãe solteira e questiona a formação tradicional da família na Coreia do Sul.
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Não é por acaso que a Netflix oferece opções em diferentes línguas, mesmo que as atrações não tenham sido produzidas pela empresa. Conteúdo local é um dos focos do serviço de streaming, como destacou seu cofundador e CEO, Reed Hastings, em entrevista à emissora americana CNBC:
– Estamos adicionando em nosso catálogo muito conteúdo ao redor do mundo. Esperamos realizar produções em todo o planeta. Este é o futuro da Netflix: produção local, distribuição global.
Presente em mais de 190 países e contando 93,8 milhões de assinantes em todo o mundo (em 2016, foram 19,8 milhões a mais em relação a 2015), a empresa americana não se propõe a simplesmente empurrar o entretenimento dos Estados Unidos ao redor do globo, mas sim criar conteúdo internacional em línguas variadas, que possam ser legendados e assistidos em diferentes cantos. Narcos foi um exemplo.
– Narcos foi criado para a gente por uma companhia francesa (Gaumont), rodado em Bogotá, na Colômbia, com uma estrela brasileira (Wagner Moura) e é superpopular na Alemanha. Esta é a era da internet, onde o conteúdo se mistura além dos limites – apontou Hastings, em entrevista ao jornal britânico The Telegraph.
Investir em originais é base para expansão
Primeira produção brasileira da Netflix, 3% é outro exemplo. A ficção científica sobre um Brasil distópico fez muito sucesso no Exterior, nos Estados Unidos em especial, e teve segunda temporada confirmada.
Toda essa estratégia tem um único objetivo: ampliar a base de assinantes e de receitas. Se em 2016 alcançou US$ 8,3 bilhões de receita global (um crescimento de 35% em relação ao ano anterior), em 2017 o foco da Netflix é ir além. Só neste primeiro trimestre, a empresa projeta 5,2 milhões novos clientes, sendo 1,5 milhões nos EUA e 3,7 milhões no mercado internacional. O objetivo é investir US$ 6 bilhões, cerca de US$ 1 bilhão a mais do que no ano passado.
Entre as novas produções originais internacionais do serviço de streaming, estão previstas para estrear até o fim do ano a mexicana Ingobernable, a alemã Dark e a italiana Suburra. No Brasil, além do segundo ano de 3%, o serviço prevê uma série sobre a Operação Lava-Jato, o filme O Matador, um reality show com Anderson Silva e uma série de stand up.
Do Chile ao Japão, confira 16 opções de séries disponíveis no catálogo da Netflix que te levam para viajar sem sair do sofá de casa:
PLEASE LIKE ME (AUSTRÁLIA)
4 temporadas (só as 3 primeiras estão disponíveis no Netflix)
As arborizadas ruas de Melbourne, na Austrália, são o cenário da série Please like me, do comediante Josh Thomas. Criador e protagonista, ele interpreta um garoto franzino que tropeça por seus 20 e poucos anos, tão perdido na vida amorosa quanto na profissional. No primeiro episódio, Josh (o nome é um dos muitos fatos autobiográficos da série) leva um fora da namorada, sai do armário e recebe a notícia de que sua mãe tentou se matar. A partir daí, a confusão pessoal dele e sua dinâmica com a família e os amigos lançam as bases para reflexões sobre temas como solidão, sexualidade e depressão. Se soa denso, é porque é, mas o programa ganha leveza graças à bem-humorada e sensível lente de seu criador. O carismático comediante tem 29 anos, mas sua voz parece ter estacionado na puberdade, subindo e descendo ao sabor das suas tiradas irônicas e autocríticas. Os outros personagens não ficam atrás – há o melhor amigo nerd Tom (Thomas Ward), que não consegue terminar com a namorada onipresente, a mãe Rose (Debra Lawrance), que vive situações inusitadas em um sanatório, e o bonitão carente Geoffrey (Wade Briggs), entre outros.
As descobertas sexuais de Josh são importantes, mas a série ultrapassa a questão da sexualidade para tratar do início da vida adulta – o que lhe rende justas comparações a Love e Girls. Menos pretensiosa do que ambas, Please like me consegue tratar de temas difíceis com mais naturalidade e humor. De quebra, nos dá a chance de ouvir um sotaque diferente.
QUATRO ESTAÇÕES EM HAVANA (CUBA)
Uma temporada disponível, com 4 episódios
Quem quiser conhecer a realidade cubana que fica fora dos folhetos turísticos pode ter uma amostra em Quatro Estações em Havana, produção da TVE espanhola disponível desde dezembro na Netflix. Os quatro episódios são baseados em uma série de novelas policiais do escritor Leonardo Padura, nas quais o melancólico detetive Mario Conde é o protagonista. No primeiro episódio, o solitário investigador não esconde a falta de ânimo com o trabalho e com os amigos, até que se apaixona por uma mulher misteriosa e é escalado para desvendar a morte de uma jovem professora do colégio onde estudou.
A série adapta para a ilha tropical o clima dos filmes noir. Femmes fatales cruzam o caminho de Conde, em um clima constante de sedução e suspense, assim como personagens ambíguos e surpreendentes, como um traficante obcecado por orquídeas e um ex-criminoso brigão preocupado em ajudar a polícia.
MERLÍ (ESPANHA)
2 temporadas (só a primeira está disponível na Netflix)
Apenas por oferecer ao espectador comum a rara chance de ouvir o idioma catalão, a série Merlí já mereceria atenção. Passado o encantamento (ou estranhamento) com a língua, essa série produzida na Catalunha, região no nordeste da Península Ibérica, sustenta-se pela qualidade e pela originalidade, incorporando ao enredo temas filosóficos de forma leve e ousada ao mesmo tempo. Sem forçar a barra no didatismo, a trama consegue atrair o interesse de jovens e adultos para autores como Platão, Nietzsche e Schopenhauer - o título de cada um dos 13 episódios da primeira temporada faz referência a um filósofo ou corrente de pensamento direta ou indiretamente abordado na trama. A ação se desenvolve em torno de uma escola de Ensino Médio onde um irreverente professor de filosofia de meia-idade, Merlí (Francesc Orella), começa a dar aulas para o próprio filho, Bruno (David Solans), do qual havia se distanciado depois de uma separação. Enquanto o garoto lida com a ideia de sair do armário, o pai genioso entra em conflito com os colegas professores, dá em cima das moças bonitas e encanta os alunos com aulas de filosofia pouco ortodoxas.
RITA (DINAMARCA)
3 temporadas de oito episódios cada
Rita Madsen (Mille Dinesen) é uma professora primária politicamente incorreta que cria sozinha seus três filhos, lida com a burocracia do sistema escolar e precisa administar pais de alunos superprotetores. Enquanto é muito bem aceita pelos jovens e crianças, tem dificuldade em se relacionar com adultos. E adora transgredir regras: fuma no banheiro da escola, tem um caso com o diretor, e tenta mostrar para uma aluna CDF que é bom fazer umas "loucurinhas" as vezes. É uma mistura de drama e comédia viciante: depois que começar a assistir, dificilmente você conseguirá parar. A série originalmente é produzida pelo canal dinamarquês TV2, mas foi graças à Netflix que chegou a uma terceira temporada. Isso porque faz muito sucesso entre o público americano, o que levou o serviço de streaming a coproduzir a continuação.
MIDNIGHT DINER: TOKYO STORIES (JAPÃO)
3 temporadas (só a primeira está disponível na Netflix) e um filme
É quando o ponteiro do relógio indica meia-noite que se revela o Shinya Shokudou, um esconderijo para almas solitárias ao abrigo das luzes de neon de Tóquio. Atrás do balcão do pequeno restaurante, o Mestre (proprietário e único funcionário do reduto) maneja as panelas e os dramas de personagens variados da cena urbana japonesa – até as 7 da manhã, quando termina o expediente. Baseado no mangá homônimo de Yaro Abe, Midnight Diner fez tanto sucesso que sua fórmula se estendeu por três temporadas, culminando em um filme, lançado no Japão em 2014. A que está disponível na Netflix é a primeira delas, dividida em 10 episódios. Cada um deles gira em torno de um prato requisitado por um cliente, que funciona como ponto de partida para conhecermos sua história de vida. Entre uma dose de licor de ameixa e um pedaço de omelete com arroz, um locutor de rádio reencontra seu amor platônico da infância, um comediante é traído pelo seu ex-assistente, e outras almas solitárias se conectam por meio da comida e de suas trajetórias – até as 7 da manhã, quando termina o expediente. Além de tratar dos problemas do cotidiano de forma leve e descompromissada, a série é praticamente um curso para aqueles que ainda acham que comida japonesa é só sushi e sashimi. Assista de barriga cheia.
MARSEILLE (França)
1 temporada disponível, com oito episódios
A primeira produção original da Netflix na França foi bombada como uma versão local de House of Cards, mas o fato de ser uma intriga nos bastidores da política é a única coisa que de fato as aproxima. O lendário Gerard Depardieu interpreta Robert Taro, que há décadas é prefeito de Marselha, segunda maior cidade francesa. Às vésperas de uma nova eleição, seu poder e popularidade até então sólidos passam a ser ameaçados pela candidatura rival inesperada de seu vice, Lucas Barres (Benoît Magimel, de A Professora de Piano), um político mais jovem e ambicioso que originalmente vinha sendo preparado pelo próprio Taro para ser seu herdeiro político. O conflito entre os dois homens detona uma guerra política que envolve não apenas suas relações mais próximas, mas a própria cidade. Uma segunda temporada já foi encomendada e está prevista para estrear este ano.
HISTÓRIA DE UN CLAN (Argentina)
Minissérie com os 11 episódios disponíveis
Em meados da década de 1980, após o fim da ditadura e o início da redemocratização na Argentina, uma família liderada por um sinistro patriarca, com a ajuda dos filhos e de um grupo de vizinhos, alguns deles com ligações nos antigos órgãos de repressão, realizam sequestros em troca de dinheiro, transformando a própria casa suburbana da família Puccio em um cativeiro para suas vítimas. Inspirada numa história real, a minissérie aborda o mesmo episódio que também deu origem ao filme O Clã, dirigido por Pablo Trapero. Com mais tempo para desenvolver a trama, a série se aprofunda nos preparativos de cada um dos sequestros cometidos pela família, bem como tem mais condições de insinuar o clima vagamente surreal e insalubre do lar dos Puccio. Uma das atrizes recorrentes de Pablo Almodóvar, a atriz Cecília Roth, que interpreta a matriarca Epifania Puccio, é o nome mais conhecido do elenco, que também conta com Chino Darín, filho de Ricardo Darín, como o jovem Alejandro Puccio, e com Alejandro Awada (Nove Rainhas) como o chefe da família, Arquimedes.
ESTOCOLMO, IDENTIDADE PERDIDA (Argentina)
1 temporada com 13 episódios disponíveis
Primeira série original argentina para a Netflix, é um drama policial criado Nacho Viale e Diego Palacio. Mistura elementos das tramas criminais americanas com toque das telenovelas latino-americanas. A história gira em torno de uma investigação sobre exploração sexual. A jornalista Rosario Santa Cruz (Juana Viale), o promotor Franco (Luciano Cáceres) e o agente secreto H (Esteban Lamothe) tentam desmantelar uma rede internacional de tráfico humano. Política, Justiça e mídia são o tripé que movem a produção: da corrupção ao sensacionalismo de programas de TV, tudo está conectado. O nome da série refere-se à Síndrome de Estocolmo, fenômeno psicológico em que a vítima se identifica e até se apaixona por seu raptor.
CLUB DE CUERVOS (MÉXICO)
Duas temporadas disponíveis
Primeira produção latino-americana da Netflix, Club de Cuervos tem o futebol como pano de fundo, que conta a disputa dos irmãos Chava (Luis Gerardo Méndez) e Isabel (Mariana Treviño) pela presidência do time mexicano Cuervos, da fictícia cidade de Nuevo Toledo, após a morte do pai da dupla. Os protagonistas são caricatos: ele é um playboy irresponsável e contrasta com sua irmã, que é mais regrada e já atua na administração do clube. Claramente, ela seria a escolha natural para o cargo, mas, por puro machismo, acaba sendo escanteada. Chava comanda o Cuervos de maneira impulsiva, visando transformá-lo no "Real Madrid das América Latina", enquanto Isabel pensa de acordo com a realidade do clube. Combinando humor pastelão e drama novelesco mexicano, a série não só foca nos embates e diferenças dos irmãos, mas apresenta também os bastidores de um clube de futebol, abordando também seu lado obscuro – como treinador que cobra dinheiro para escalar jogador e líderes de torcidas organizadas (barra bravas) que pedem favores.
AMOR E CASAMENTO (COREIA DO SUL)
Uma temporada disponível, com 16 episódios
Há dezenas de doramas (séries de TV produzidas no oriente asiático) disponíveis na Netflix, sobretudo oriundos da Coreia do Sul. O catálogo do serviço de streaming dispõe tanto doramas com foco na adolescência (Meninos Antes das Flores) quanto na vida adulta (Go! Mrs. Go!) – que costumam mesclar drama, comédia e romance em boa parte das atrações. Entre os títulos coreanos da Netflix, Amor e Casamento chama a atenção por questionar a formação tradicional da família no país. Na trama, a âncora de TV Cha Ki Young engravida acidentalmente de Park Tae-yeon, um chef e crítico de culinária blasé, que se esquiva de sua responsabilidade de ajudar a criar o filho. Sempre realçando sua independência, ela decide criar seu filho sozinha e não espera se casar – para a jornalista, o matrimônio é uma instituição falida. No entanto, por conta dessa escolha, Young passa a ser alvo de sabotagens.
FAUDA (ISRAEL)
Uma temporada, com 12 episódios
Há um bom tempo Israel tem inspirado a indústria do entretenimento ocidental com suas atrações de TV: Hatufim deu origem a Homeland; BeTipul ganhou a adaptação americana In Treatment e, no Brasil, Sessão de Terapia; SuperStar é a versão brasileira de Rising Star. Em meio a prolífica produção israelense, temos a visceral Fauda. A trama gira em torno de uma equipe do Mista'arvim - divisão do exército israelense especializada em infiltrarse na população palestina para capturar terroristas. Para caçar Abu-Ahmed (Hisham Suliman), um integrante do Hamas que forjou sua própria morte, Doron (Lior Raz) é recrutado de sua aposentadoria para comandar a equipe especial nesta última missão e, assim espera, encerrar sua carreira. Fauda é um thriller que se destaca por seu realismo cortante e por transitar pelo ângulo humano do conflito, gerando empatia com os personagens dos dois lados ao apresentar seus dilemas e motivações.
PABLO ESCOBAR - EL PATRÓN DEL MAL (COLÔMBIA)
Uma temporada, com 74 episódios
Com mais fidelidade à história do que Narcos, esta série dramática mostra com profundidade a construção de Pablo Escobar, interpretado por Andrés Parra, desde a sua infância em Rionegro até a sua morte, em 1993. Baseada no livro La parabola de Pablo, do jornalista Alonso Salazar, e realizada pela Caracol TV, a atração é considerada uma das maiores produções da televisão colombiana, sendo exportada para mais de 20 países.
THE LEGEND OF BRUCE LEE (CHINA)
Uma temporada, com 50 episódios
Série biográfica que acompanha a história de vida do ator e mestre das artes marciais Bruce Lee, interpretado por Danny Chan Kwok-kwan. A trama inicia na adolescência de Bruce em Hong Kong, quando ele ainda era dançarino, e cobre o período que ele morou nos Estados Unidos, no qual obteve o estrelato com seus filmes, até sua morte repentina aos 32 anos, em 1973.
REBELLION (IRLANDA)
Uma temporada, com cinco episódios
Construída sob o ponto de vista das mulheres, a série se passa em meio à Revolta de Páscoa - rebelião armada contra o domínio britânico que ocorreu em 1916. Na trama, as vidas de de Elizabeth (Charlie Murphy), May (Sarah Greene) e Frances (Ruth Bradley) são transformadas em meio ao conflito. A primeira é uma estudante de medicina que luta pelos direitos civis das mulheres e adere à revolução. May trabalha como secretária no castelo de Dublin e mantém uma relação com seu patrão, que é casado e inglês. Já Frances é um professora que atua no conflito auxiliando os estudantes a fabricarem bombas caseiras.
QUÉ PENA TU SERIE (CHILE)
Uma temporada, com 12 episódios
A série é uma versão estendida da trilogia de filmes de comédia romântica Qué Pena Tu Vida (2010), Que Pena Tu Boda (2011) e Que Pena Tu Familia (2012), realizada pelo diretor chileno Nicolás López. A atração percorre a história de Ángela (Andrea Velasco) e Javier (Ariel Levy) – desde sua amizade, passando pelo namoro e matrimônio até chegar ao inevitável divórcio –, procurando apresentar uma radiografia das relações amorosas na era das redes sociais.