Dois meses após a exoneração, o nome do maestro Dante Mantovani voltou ao Diário Oficial da União com uma nova nomeação para o comando da Fundação Nacional de Artes (Funarte), órgão que presidiu de dezembro de 2019 até março deste ano. Sua demissão ocorreu no mesmo dia em que Regina Duarte assumiu a Secretaria Especial da Cultura.
Durante os três meses que ficou à frente da Funarte, diversos vídeos correram pelas redes sociais trazendo à tona falas polêmicas do maestro. Através de um canal no YouTube, Mantovani compartilha reflexões e teorias sobre política e arte, que viraram alvo de críticas da classe artística e marcaram sua primeira passagem pelo órgão. Confira as principais polêmicas:
Rock, satanismo e aborto
Em um vídeo, publicado em outubro do ano passado, Mantovani disse que o rock leva “ao aborto e ao satanismo”, citando músicas de Elvis Presley e dos Beatles. Ele também endossou teorias de que agentes comunistas infiltrados na CIA foram responsáveis por distribuir LSD para jovens no festival de Woodstock, em 1969.
— O rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. E a indústria do aborto alimenta uma coisa muito mais pesada, que é o satanismo. O próprio John Lennon disse abertamente, mais de uma vez, que fez um pacto com o satanás — afirmou.
As afirmações levaram a uma enxurrada de críticas de músicos brasileiros, como Lulu Santos, Rogério Flausino e Felipe Andreoli, baixista da banda de metal Angra, que chegou a ser elogiada pelo maestro em outro vídeo.
Membro da chamada ala ideológica do governo Bolsonaro e aluno de Olavo de Carvalho, Mantovani também possui um vídeo inteiro dedicado a explicar um comentário do ideólogo relacionando o filósofo alemão Theodor W. Adorno, da Escola de Frankfurt, às músicas dos Beatles.
— Não é que o Adorno tenha falado assim para os Beatles, "faça isso, faça aquilo, faça a liberação das drogas". O teórico desenvolve a teoria e o agente vai lá e age — disse, complementando: Na esfera da música popular, vieram os Beatles, para combater o capitalismo e implantar a maravilhosa sociedade comunista.
"Carinho imenso pelo rock"
Em 22 de abril, 13 dias antes de ser reconduzido à presidência da Funarte, Dante Mantovani fez um novo vídeo em seu canal se manifestando pela primeira vez sobre as falas relacionadas ao estilo musical. Sem economizar críticas à imprensa, o maestro relatou que possui um "carinho imenso pelo rock", pois começou sua carreira na música justamente em uma banda do gênero.
Ele afirmou que fez os vídeos instigado por alunos, já que dá aulas online de música, e mostrou uma participação dele tocando guitarra durante um show de uma banda em um bar, em janeiro de 2019. Disse que tudo que foi falado a respeito dele foi "mentira", "calúnia" e "assassinato de reputação".
— Aquele vídeo foi direcionado para alunos, não foi uma declaração. Foi citando outros autores, não era uma declaração minha. Foi uma explicação de livros de outros autores para alunos — justificou.
No vídeo, também foram mostrados depoimentos do jornalista Alexandre Garcia e de cantores que saíram em defesa do maestro, como Blanch Van Gogh, vocalista da banda Cogumelo Plutão, e os músicos Rey Biannchi e Italo Goulart.
Abertura da Olimpíada
Em outro vídeo compartilhado nas redes sociais logo após sua primeira nomeação para o órgão, Mantovani criticou o repertório da cerimônia de abertura da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, onde cantores como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Anitta interpretaram clássicos da música popular brasileira (MPB).
Edital sem rock
Em janeiro deste ano, Mantovani também se envolveu em outra polêmica quando a Funarte divulgou um edital para anunciar o Prêmio de Apoio a Bandas de Música. Chamou atenção que, no documento, estava proibida a participação de alguns tipos de banda, incluindo as de rock.
A Funarte defendeu que o veto já foi utilizado em anos anteriores, pois a premiação era dedicada apenas a bandas consideradas “tradicionais”.
Recentemente, no mesmo vídeo em que justificou suas falas sobre o rock, o maestro afirmou que, quando estava na presidência do órgão, elaborou um edital para apoio de bandas desse estilo musical, mas que "foi interrompido" quando ele foi demitido.