Na década de 1980, considerada por muitos a mais roqueira da música nacional, nascia uma banda que marcou época no cenário brasileiro. Em cerca de três anos (de 1985 a 1988), o RPM vendeu mais de cinco milhões de discos, em uma época que não existia CD, internet e tampouco as plataformas digitais - só LP e fita cassete. Com letras engajadas, em faixas como Alvorada Voraz e Rádio Pirata, o RPM surgiu no fim de 1983, liderado por um dos galãs da época, Paulo Ricardo, que passou a estampar capa de revistas adolescentes em todo o país. Pois é esta atmosfera que será reproduzida na noite de hoje, quando Paulo Ricardo apresenta, no Opinião, o show Rádio Pirata 35 Anos - Ao Vivo, que celebra os 35 anos de um dos discos mais icônicos do rock nacional, Rádio Pirata Ao Vivo, segundo da discografia da banda, lançado em 1986.
Tudo pelos fãs
Na época de seu lançamento, o show que os gaúchos assistirão hoje foi dirigido pelo então estreante na função, ninguém menos que Ney Matogrosso. Em entrevista por e-mail, Paulo, 57 anos, explica que a turnê atual surgiu para "atender aos pedidos do público". E define aquela tour como um "marco, um divisor de águas".
— (A turnê) bateu todos os recordes de público por onde passou. Decidimos homenagear aquele período riquíssimo, reproduzindo detalhes (que marcaram o show). Aquele espetáculo lotou várias vezes o (Ginásio) Gigantinho, local de estreia da turnê — relembra Paulo.
Depois de tanto sucesso nos anos 80, o grupo teve idas e vindas, pausas e retomadas e voltou à ativa no começo dos anos 2000, ancorado no sucesso da trilha do Big Brother Brasil, que colocou Paulo novamente nos holofotes. Em 2003, o RPM se separou, novamente, e retornou em 2011, com o disco Elektra. Em 2017, Paulo Ricardo saiu definitivamente do grupo, para carreira solo.
No espetáculo, com versões muito semelhantes às originais, Paulo Ricardo cantará sucessos que marcaram a época, como Olhar 43, A Cruz e a Espada e London, London (canção gravada por Caetano Veloso, na época em que estava exilado em Londres, durante a Ditadura Militar, e que ganhou uma versão de Paulo Ricardo, que passou uma temporada na cidade, em 1983). Outro destaque do repertório é Revoluções por Minuto (do disco de mesmo nome, lançado em 1985), que acabou censurada pelos versos "agora, a China toma Coca-Cola e "aqui na esquina, cheiram cola", sob a alegação de apologia a drogas. Na época, o país ainda vivia os últimos momentos da Ditadura Militar, que durou de 1964 até 1985.
Novos tempos
Um dos protagonistas da época em que o disco de vinil e a fita cassete reinavam na indústria fonográfica, Paulo Ricardo reconhece a importância das plataformas digitais, que facilitar a criação e o lançamento de novas canções pelos artistas. Mas sente saudade dos discos da época.
— Naturalmente, tendo vivido aquele período, sinto falta das capas (dos discos) exuberantes e da forma como a música se relacionava com as artes plásticas. Mas, de certa forma, (a maneira que os artistas lançam músicas hoje em dia) é a volta do single, e isso é muito bom. Faz com que a gente tenha que lançar algo novo a cada três ou quatro meses, o álbum é consequência — afirma.
Sobre a relação com Porto Alegre e com o público daqui, Paulo Ricardo afirma que a cidade "é a mais rock'n´roll do Brasil". E deixa seu recado:
— Espero não só os velhos fãs, mas também que toda uma garotada que ouviu falar (do RPM), mas que ainda não era nascida, apareça. A revolução continua!
Serviço
—Paulo Ricardo apresenta o show Rádio Pirata Ao Vivo - 35 anos, no Opinião, Rua José do Patrocínio, 834, a partir das 20h. Ingressos a R$ 65 (com a doação de um quilo de alimento não perecível) e R$ 120 (sem a doação), à venda neste site.