BOMBAIM, Índia – Alguém poderia facilmente passar pelo mais extenso museu de arte da Índia sem nem perceber.
Espalhados pelos quatro níveis do Terminal 2 do aeroporto internacional de Bombaim, há mais de 5.500 peças de arte e artesanato indianos, incluindo totens tribais e um mapa 3D de Bombaim construído com componentes eletrônicos reciclados e placas de circuito impresso. Ao todo, essas peças compõem o Jaya He, GVK New Museum.
O terminal ultramoderno em X gerencia todos os voos internacionais e muitos voos domésticos para o centro comercial do país. Por isso, é primordialmente um aeroporto de trabalho, e os 50 milhões de pessoas que passam por ele todo ano estão ali por um motivo principal: entrar e sair de aviões.
"Há uma ansiedade embutida", comenta Rekha Nair, que supervisiona o museu e a experiência do cliente no Aeroporto Internacional Chhatrapati Shivaji Maharaj. "As pessoas pensam: 'Só quero chegar ao portão.'"
Como resultado, os objetos de arte estão enfiados nos corredores, nos carrosséis de bagagens e nos balcões de check-in, de modo que não interrompam o livre movimento de passageiros e das quase 30 mil pessoas que trabalham no aeroporto. Há figuras angelicais empoleiradas acima dos elevadores, esculturas arbóreas como sentinelas sobre as correias transportadoras e um mural acompanha os passageiros pela escada rolante depois que eles descem do ônibus de desembarque.
A instalação mais proeminente é "Índia Cumprimenta", um display de 18 metros de altura em volta do centro do terminal. Começa com portais e sacadas verdadeiras de toda a Índia fixados à parede, depois avança horizontalmente até uma série de retratos de Andrew Logan, Robyn Beeche e Anjolie Menon, enquanto os passageiros caminham para os portões. Uma vez por hora, um pavão branco em tamanho natural desliza por um fio em frente às obras.
Mas, num dia de semana recente, a maioria nem notou as portas ou o pavão voador, que ficavam em frente a uma livraria e a um lounge para passageiros premium.
Entre os poucos que ficaram olhando, havia três turistas da Grã-Bretanha. "É a arte mais linda que já vi num aeroporto", afirmou Judith Wolfram, que já morou sete anos na Índia quando jovem, e retornava agora para uma visita de duas semanas com a filha e o namorado desta. Wolfram ficou tão impressionada com a coleção de arte do aeroporto que, quando o voo atrasou, decidiu levar a geração mais nova a uma rápida visita à história da arte indiana.
Sanjay Reddy, vice-presidente do GVK, o conglomerado familiar que construiu o museu e o terminal, e os administra desde que abriu, cinco anos atrás, afirma ter sabido que seria um desafio criar um museu de arte num lugar onde as pessoas estão sempre em trânsito. Mas acrescenta que queria fazer isso de qualquer forma para apresentar aos indianos a herança artística do país.
Muito disso é subconsciente. Quando você passa por qualquer lugar, ele se torna parte de você.
SANJAY REDDY
vice-presidente do GVK
"Mesmo se conseguirmos atrair uma pessoa em 100, já fizemos nosso trabalho", afirma Reddy, que em Déli contratou o artista Rajeev Sethi para selecionar e organizar as obras. "Muito disso é subconsciente. Quando você passa por qualquer lugar, ele se torna parte de você."
De fato, a arte e a arquitetura caminham juntas no terminal. O hall de check-in do aeroporto, por exemplo, é coberto por um dossel gigante em forma de cauda de pavão, com claraboias para deixar entrar a luz natural e pequenos recantos onde os passageiros podem se sentar antes de passar pela segurança.
Mukeeta Jhaveri, que mora em Bombaim e presta consultoria em compras de arte e filantropia cultural a empresas e colecionadores particulares, observa que a coleção do aeroporto se destacou entre os museus da Índia e entre outras instalações públicas de arte em aeroportos no mundo todo.
"É uma mistura inebriante e kitsch incluindo arte contemporânea, folclore, antiguidades, tribal, artesanato, tudo", diz ela. "Mesmo quando passo apressada pelos corredores, tenho uma sensação maravilhosa de descoberta e também de encontrar velhos amigos."
Cerca de 25% dos passageiros que passam pelo aeroporto são operários indo e vindo de empregos no Oriente Médio, e o museu deliberadamente procurou incluir artesanato indiano junto com a arte contemporânea.
Segundo Reddy, mais de 75 mulheres das favelas próximas ao aeroporto, por exemplo, foram convocadas para fazer uma colcha gigante e colorida de Godhadi.
A obra mais terrena é, sem dúvida, "Fortaleza de Barro", homenagem de Sethi à índia rural. São figuras humanas e de animais feitas de lama e esterco de vaca, que, no interior do país, ainda é usado como combustível, material de construção e até como repelente de insetos. A equipe do aeroporto reaplica periodicamente a mistura fecal para manter a aparência fresca das figuras.
Ashok Kumar, gerente de banco em Bombaim, nativo do estado fazendário de Bihar, comenta que, a caminho do portão de embarque, sempre tira um momento para contemplar essa obra. "É a que mais tem a ver comigo. É pé no chão."
Segundo funcionários do museu, a peça mais querida é, de longe, "Constante em Movimento", uma representação dourada de deuses e deusas indianos, feita por N. Ramachandran e V. Anamika, influenciada pelo estilo tradicional de pintura de Tanjore. Os passageiros domésticos costumam param para tirar selfies em frente à obra que vai do chão ao teto, enquanto os funcionários do aeroporto passam por uma porta no canto para usar os banheiros dos empregados.
Embora se tenha feito um grande esforço para montar o museu, muito menos se fez para ajudar o público a apreciá-lo. Depois de passar pela segurança, os viajantes são engolidos por lojas e restaurantes e há poucas indicações da arte que está mais ao fundo, dentro do terminal.
Passeios gratuitos para passageiros podem ser agendados on-line, mas esses "safáris de arte", que duram de 15 a 45 minutos, precisam ser reservados com pelo menos dois dias de antecedência. Grupos de escolares também podem solicitar medidas especiais para contornar a segurança e ver a coleção que está no nível doméstico do terminal.
"Eu gostaria que a administração do aeroporto encontrasse formas de atrair mais gente", avalia Jhaveri, o consultor de arte. "Ver as pessoas passando sem parar para olhar é de cortar o coração."
Por Vindu Goel