A ótima aceitação de Castelo Rá-Tim-Bum, o Filme (1999) e, mais recentemente, dos dois longas baseados na novelinha Carrossel acenaram para os produtores um caminho até o público infantil, segmento que o cinema brasileiro tem enfrentado dificuldades para cativar nas últimas décadas. É pela senda da adaptação de um sucesso televisivo para crianças que trafega D.P.A. – O Filme (2017), versão para a tela grande do seriado estreado em 2012 no canal Gloob e cuja décima temporada está em pré-produção.
A primeira aventura cinematográfica dos pequenos detetives do Prédio Azul entra em cartaz na mesma semana que Carros 3 (2017), brigando pela atenção dos espectadores pitocos com a turbinada produção da poderosa escuderia Disney-Pixar. A boa notícia é que a incursão do trio de investigadores mirins no cinema também tem qualidades capazes de atrair a criançada, mesmo correndo por fora nesse páreo.
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Em D.P.A. – O Filme, os amigos Pippo (Pedro Henriques Motta), Sol (Leticia Braga) e Bento (Anderson Lima) se infiltram em uma festa de Dona Leocádia (Tamara Taxman), a terrível síndica que é uma bruxa, literalmente. Na balada, presenciam um crime mágico quase perfeito, que condena o Prédio Azul, onde todos moram, a uma demolição de emergência. Para completar a confusão, a única testemunha, o quadro falante da Vó Berta (Suely Franco), desaparece, e Leocádia é enfeitiçada para ficar boazinha.
Então, para salvar o edifício, eles precisam circular pelo Rio de Janeiro investigando os principais suspeitos, que são quatro poderosos magos: Bibi Capa Preta (Mariana Ximenes), Temporão (Aílton Graça), Mari P. (Maria Clara Gueiros) e Jaime Quadros (Otávio Müller) – personagens que remetem ao universo do bruxinho Harry Potter. A fim de resolver esse caso, os detetivinhos vão contar com a ajuda do porteiro Severino (Ronaldo Reis) e com os veteranos Tom (Caio Manhente), Mila (Letícia Pedro) e Capim (Cauê Campos) – protagonistas originais da série –, que são magicamente trazidos de volta.
D.P.A. tem direção do gaúcho André Pellenz (leia entrevista abaixo), realizador que assina também o êxito de bilheteria Minha Mãe É uma Peça: O Filme (2013) e a série televisiva 220 Volts – ambas produções estreladas pelo comediante Paulo Gustavo. Feito considerado inédito no cinema nacional, D.P.A. exibe cenas rodadas em um submarino de verdade e em operação, navegando e submergindo na Baía de Guanabara na parte final do filme – suscitando nos adultos nostálgicos lembranças das então eletrizantes sequências de ação de Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (1967) e Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa (1970).
Para se adaptar ao cronograma da Marinha, a equipe de D.P.A. filmou em três submarinos-gêmeos: o Timbira, o Tupi e o Tapajó. Leia, a seguir, a entrevista com André Pellenz:
Com poucos filmes brasileiros destinados ao público infantil, qual foi seu desafio?
A primeira coisa que a gente fez foi não repetir a série, que não fosse apenas um episódio. Uma característica importante é que eles (o elenco) vão para a rua, é quase tudo feito em locações. O desafio é competir com filmes infantis que têm muito mais recursos. É um público acostumado a uma qualidade de produção muito boa. A minha concorrência são os filmes infantis norte-americanos, maravilhosamente bem feitos. Nosso desafio foi manter o padrão alto de qualidade.
O sucesso da série garante o interesse pelo filme?
Não acho que tenha essa coisa garantida. Não acho que, necessariamente, o que funciona na TV funciona no cinema. Quando levei a Dona Hermínia para a tela em Minha Mãe É Uma Peça, já existia na televisão. A gente fez muito diferente. Acho que o D.P.A. vai funcionar, pelo que vimos na pré-estreia, mas se a gente não entrega alguma coisa a mais para o público, o filme pode não ir bem
Com a escola de bruxos, o filme faz uma referência a Harry Potter. Isso ajuda a fisgar o interesse do público infantil?
A intenção não foi fazer magia só por causa do Harry Potter. Nossa maior referência não é Harry Potter, é um filme da década de 80 chamado Escola de Bruxas.
Como foi transitar de Minha Mãe É Uma Peça, que é uma comédia adulta, para uma produção infantil?
Como eu fazia a série, foi natural. O que eu pude aprender com Minha Mãe É Uma Peça, certas questões de humor, coisas que funcionaram, usei em D.P.A. Até a série começar, tivemos um período em que a produção infantil não existiu no Brasil. Desde que acabou o Sítio do Picapau Amarelo, o Menino Maluquinho, não se fez nada para o público infantil. É um recomeço. A esperança é que a cada época de férias, seja de verão ou inverno, a gente tenha um filme brasileiro com potencial de público. A gente está abrindo com 300 salas (de cinema) em um dia que estreia Carros 3. Estamos aceitando a briga.
Colaborou Karine Dalla Valle