Queria dizer umas palavras a A, que não poderia dizer por enquanto a B, muito menos com franqueza a C, mas prefiro ler D, cujas palavras, essas sim, são úteis há quase dois milênios, o que bem sabe E, ou creio que sabe, pois as compartilhou duvidosamente associadas a uma imagem que deveria defender os direitos de F, sem se ocupar se isso não terminaria, como terminou, por ofender a G, que, de resto, desprezou H por ousar pensar diferente, razão que em muito excede os critérios de I para bloquear contatos, o que me faz amar J por sua coragem de encerrar todas as contas nas redes e mandar K pastar, não o checo, mas o rei americano das comunicações, que, de maneira insidiosa, digo, insidiosa de minha parte, me permitiu saber de L, embora melhor fosse nada saber, especialmente depois daquela série de fotos que não podem ser desvistas, porque nelas também aparecia M, que, para todos os fins, continuou com N, que, apesar da alta fatura, fez-me o bem de um dia me apresentar à voz rouca daquele cantor canadense, o mesmo que tantas vezes tinha feito O chorar numa solidão de anos a fio, quando ninguém pareceu se importar, inclusive P, com seus sermões e melhores caridades, mas sempre podemos culpar alguém como Q, por ser insensível e fruto de uma sociedade qualquerista, jeito fácil de fazer R aderir, jeito simples de fazer S se inflamar, afinal, causas salvam o mundo, se não, trazem ao menos mais corpos para T salvar-se a si mesmo, eis um lema que os vídeos de U não cansam de repetir, você é a pessoa mais importante da sua vida, porque tudo se repete, diz V, varado de sabedoria, porque tudo é relativo, diz W, com afetação acadêmica, ainda que isso na prática signifique aceitar a brutalidade de X, ou as leis impostas às pressas por Y, e talvez o silêncio compulsório de Z.
Coluna
Pedro Gonzaga: Abecedário (à maneira de Szymborska)
Colunista escreveu para o Segundo Caderno desta quarta-feira