A atriz Natalie Portman já demonstrara talento também atrás das câmeras roteirizando e dirigindo o curta-metragem Eve (2008) e um dos segmentos do filme em episódios Nova York, Eu Te Amo (2008). Estreando como realizadora de longa-metragem com o drama De Amor e Trevas (2015), a estrela demonstra sensibilidade e inteligência ao adaptar o livro de memórias de infância homônimo do escritor Amós Oz (editado no Brasil pela Companhia das Letras), colocando em contraponto o painel histórico e social às vésperas da criação do Estado de Israel e a relação do autor com os pais – em especial com a mãe carinhosa, sonhadora e psicologicamente instável.
De Amor e Trevas começa em 1945, com a região da antiga Palestina sob domínio britânico e a população judaica tentando consolidar uma nação após o horror do Holocausto, na expectativa de um Estado autônomo e em permanente tensão com os vizinhos árabes. Em Jerusalém, o menino Amós (vivido pelo jovem estreante Amir Tessler) testemunha esse turbulento período ao lado do pai, o acadêmico e escritor iniciante Arieh (Gilad Kahana) e a mãe, a idealista e sofisticada Fania (Natalie Portman).
Vivendo sem luxos, mas cercada de livros, a família Oz convive em relativa harmonia: Arieh ambiciona tornar-se um autor conhecido e acredita em um futuro promissor para Israel; Fania comunga do otimismo do marido e alimenta secretas fantasias românticas.Já Amós escuta com atenção os ensinamentos que o ajudariam posteriormente a se tornar um dos mais celebrados escritores e intelectuais contemporâneos: do pai racional, a capacidade de fazer análises etimológicas de palavras hebraicas que revelam interpretações filosóficas e poéticas; da mãe emotiva, a habilidade para narrar histórias fabulosas e lembranças da juventude passada na Ucrânia natal.
Esse idílio, porém, começa a ser abalado dentro e fora de casa: a carreira literária de Arieh não decola, ao mesmo tempo em que irrompe a guerra de independência. Confrontada com a falta de perspectivas da vida ao lado de Arieh e com a violência cotidiana, Fania aos poucos vai se deixando abater pela apatia e por uma depressão inescapável.
Norte-americana nascida em Jerusalém, Natalie Portman empresta a dramaticidade adequada ao interpretar o papel da mãe de Amós Oz e acena com um futuro mais consistente como realizadora cinematográfica do que, por exemplo, sua colega hollywoodiana Angelina Jolie – que igualmente tem dirigido dramas históricos, porém bem menos consistentes do que De Amor e Trevas.
DE AMOR E TREVAS
De Natalie Portman
Drama, Israel/EUA, 2015, 98min.
Em cartaz no circuito de cinemas.
Cotação: 4 estrelas (de 5).