Com uma linha de produção marcada por poucos sucessos de bilheteria abaixo da crítica e muitos filmes – bons e ruins – que passam batidos somando um punhado de espectadores, o cinema brasileiro perdeu entre esses dois extremos o espaço ocupado pelos filmes voltados ao segmento infantojuvenil. A investida na formação de público, que décadas atrás foi puxada por longas estrelados por nomes como Os Trapalhões e Xuxa, anda bastante tímida no país. Por isso, existe certa expectativa pela estreia, nesta quinta-feira, de O Escaravelho do Diabo. Trata-se da adaptação do livro da mineira Lúcia Machado de Almeida lançado em 1972 pela célebre Coleção Vaga-Lume, da editora Ática, onipresente no currículo escolar.
Por trabalharem com universos conhecidos de seu público-alvo, versões de sucessos da literatura infantojuvenil formam um lucrativo filão da indústria cinematográfica internacional, vide o fenômeno Harry Potter.
– É um grande público potencial que ninguém mais atende no cinema brasileiro – diz Carlo Milani, 43 anos, diretor de O Escaravelho do Diabo. – E essa é uma história muito bem guardada na memória afetiva de diferentes gerações. Tem a ver com a nossa identidade, com nossa língua, combina suspense, humor e romance. Eu li O Escaravelho... na escola com 12, 13 anos, e sempre imaginei como poderia ser contada na tela.
Milani faz sua estreia no cinema vindo de uma formação em novelas, séries e outras produções da TV Globo – ele é filho do ator Francisco Milani (1936 – 2005). O diretor diz que O Escaravelho do Diabo começou a tomar forma há 12 anos, quando preparava seu trabalho de conclusão para o curso de cinema:
– Cheguei em casa um dia e vi que minha filha estava lendo o livro para a escola. A coincidência reforçou minha antiga vontade de fazer o filme.
O Escaravelho do Diabo apresenta um novo perfil do protagonista e do vilão e adiciona à trama elementos contemporâneos e algumas alterações. A história se passa em uma cidadezinha do interior, onde um assassino em série tem como vítimas pessoas de cabelos ruivos, a quem manda como aviso um escaravelho dentro de uma caixa. Após o assassinato do seu irmão, o menino Alberto (vivido pelo estreante Thiago Rosseti), decide bancar o detetive e junta pistas para perseguir o criminoso, auxiliando o delegado local (Marcos Caruso). No livro, Alberto é estudante de Medicina.
– Diminuímos a idade do Alberto porque algumas atitudes de um jovem adulto de décadas atrás pareceriam meio ingênuas com a trama se passando nos dias de hoje. E também para estimular a identificação do público escolar com o protagonista. Foi necessário ainda incluir gadgets comuns aos jovens de hoje, como celular, videogame e tablet – explica Milani.
O diretor conta que o lançamento em período escolar, e não nas férias, faz parte da estratégia para potencializar o alcance – deve estrear com 300 cópias:
– Nosso objetivo é criar um boca a boca em casa e na escola, envolver alunos que estão lendo livro, pais que já o leram, professores e orientadores educacionais. E, apesar de ser uma história sobre crimes, conseguimos abordar a violência e o suspense de modo não tão direto, o que nos permitiu obter a classificação indicativa para 12 anos.
Sucesso entre pais e filhos
A história de O Escaravelho do Diabo foi primeiramente apresentada por Lúcia Machado de Almeida como uma série publicada na revista O Cruzeiro, em 1953. O sucesso da trama policial, porém, veio somente em 1972, quando ganhou versão em livro pela coleção Vaga-Lume, da editora Ática, com ilustrações de Mario Cafiero.
O Escaravelho do Diabo desde então foi adotado no currículo de escolas de todo o Brasil, tornando-se muito popular sobretudo nos anos 1970 e 1980. É o segundo título mais vendido da coleção que é reconhecida por seu estímulo à formação de jovens leitores – já comercializou 7,5 milhões de exemplares de seus mais de 70 títulos.
O Escaravelho do Diabo foi relançando no final do ano passado – está na sua 27ª edição – junto com outros volumes populares da Vaga-Lume.