Diretor com premiada trajetória no curta-metragem, Aly Muritiba maturou por anos a trama que apresenta em seu primeiro longa, Para Minha Amada Morta, em cartaz a partir desta quinta-feira em Porto Alegre: o luto como catalisador de um penoso processo de purgação. Vencedor do prêmio de direção no Festival de Brasília, entre outras distinções, o filme do cineasta baiano radicado em Curitiba tem como protagonista um homem que remói no vazio existencial a recente morte da mulher, mãe de seu filho pequeno. Mas ao ser confrontado com a revelação de que ela teve um amante em passado recente, o fotógrafo criminalista Fernando (vivido por Fernando Alves Pinto) se lança então em uma obsessiva jornada para encontrar o outro homem, embaralhando a ira vingativa com o desejo de compreender como se abriu a brecha para a insuspeita infidelidade.
– O ritual do luto é um tema que me interessava mesmo sem ter vivido ainda essa experiência. E eu queria trabalhar com ele a partir do sentimento de posse que se tem por quem se ama – disse Muritiba na sessão de pré-estreia do filme na Capital, na semana passada.
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E é cumprindo esse ritual doloroso, organizando os pertences da mulher, que Fernando encontra uma fita de vídeo que lhe mostra o caloroso relacionamento que ela mantinha com Salvador (Lourinelson Vladmir), um ex-presidiário. Também presente na pré-estreia, Fernando Alves Pinto definiu seu personagem como alguém que mascara na postura contida um temperamento vulcânico guiado pela confusão de sentimentos:
– É a sensação de não saber aonde ir, pois a pessoa que ele amava não existe mais como na sua lembrança.
Muritiba complementou:
– Em vez de explodir, ele implode de forma igualmente potente e destrutiva.
O motor dramático de Para Minha Amada Morta aumenta a rotação quando Fernando localiza e se aproxima de Salvador, evangélico que vive com a mulher e duas filhas. A convivência do enigmático homem com a família do outro ganha o tom de um thriller psicológico, registro que Muritiba, valendo-se do bom desempenho do elenco e da criativa encenação, mantém sob tensão permanente, lançando a expectativa do iminente acerto de contas entre os dois homens.
O diretor buscou emular em Para Minha Amada Morta o clima de alguns filmes que exibiu para seus atores no processo de preparação, entre eles Polícia, Adjetivo (2009), do romeno Corneliu Porumboiu, e Minha Felicidade (2010), do bielorusso Sergey Loznitsa, que também combinam o comportamento contido de seus protagonistas com a turbulência das circunstâncias e ambientes que eles percorrem. Muritiba já deu partida ao seu próximo longa, a adaptação do livro Barba Ensopada de Sangue, de Daniel Galera:
– Estou vendo locações na região de Garopaba (litoral de Santa Catarina) e pretendo ter o Juliano Cazarré como protagonista.