A categoria de melhor ator é uma das mais aguardadas do Oscar 2016. É, também, a que tem um dos favoritos mais destacados da premiação - Leonardo DiCaprio. Essas duas assertivas estão interligadas: é a vitória iminente de um dos intérpretes mais populares de Hollywood que faz a cerimônia do dia 28 ser especial para a multidão de fãs que o segue.
O ator de 41 anos ganhou o SAG Awards, o Critics Choice, o Bafta e o Globo de Ouro - os quatro prêmios prévios mais significativos da categoria. Só perderá se os votantes da Academia de Hollywood, em boa parte os mesmos do SAG (entregue pelo Sindicato dos Atores dos EUA), mudarem sua preferência entre uma premiação e outra, o que não acontece desde 2004.
Se eleger DiCaprio, a Academia o escolherá por um de seus trabalhos mais árduos, mas não exatamente pela composição de seu personagem mais complexo - rótulo que caberia talvez em O Aviador (2004) e O Lobo de Wall Street (2013), pelos quais foi indicado, ou em J. Edgar (2011) e Foi Apenas um Sonho (2008), performances que não lhe garantiram lembrança no Oscar.
Encarnando um explorador que luta pela sobrevivência após ser destroçado por um urso nos EUA de 1820 em O Regresso, DiCaprio tem uma atuação que, como todos os aspectos técnicos do filme, faz lembrar conceitos ligados ao expressionismo: sem medo dos excessos, busca a expressividade máxima, às vezes exagerada, para atingir e até chocar o público. Trata-se de sua quinta indicação ao Oscar da categoria - ele ainda concorreu em uma sexta oportunidade, como produtor de O Lobo de Wall Street.
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À sombra do astro da temporada há algumas grandes atuações lembradas pela Academia. Porém, entre os outros quatro indicados a melhor ator, só o mais jovem já venceu a categoria - Eddie Redmayne levou o troféu no ano passado por A Teoria de Tudo (2014). Matt Damon ganhou em 1998, mas pelo roteiro original de Gênio Indomável (1997). Os outros dois concorrentes podem gozar de enorme prestígio (Michael Fassbender é um dos melhores de sua geração, e Bryan Cranston deu corpo a um dos grandes personagens do nosso tempo, o Walter White de Breaking Bad), mas sua hora no Oscar, ao que parece, ainda não chegou.
Entre os coadjuvantes, há ao menos uma atuação memorável - a de um contido Mark Rylance em Ponte dos Espiões (2015). Consagrado no teatro, o ator britânico já venceu três prêmios Tony. Tem tudo para estender o reconhecimento ao cinema a partir da parceria com Steven Spielberg - depois de Ponte dos Espiões, vai encarnar o personagem-título de seu novo filme, O Bom Gigante Amigo, previsto para estrear em setembro.
Christian Bale, outro que está entre os melhores de sua geração, brilha em mais um papel para o qual se reinventou física e espiritualmente. O excêntrico investidor de A Grande Aposta nem parece vivido pelo mesmo ator que encarnou o ex-boxeador craqueiro de
O Vencedor (2010) e o Batman de O Cavaleiro das Trevas (2008).
Bale e Rylance são os dois favoritos, embora, talvez, a Academia possa repetir o Globo de Ouro e conceder um prêmio afetivo ao querido mas limitado dramaticamente Sylvester Stallone, que voltou a interpretar Rocky Balboa no filme-homenagem Creed - Nascido para Lutar. Mark Ruffalo e o sempre bom Tom Hardy são as zebras na categoria de ator coadjuvante.
OS INDICADOS A MELHOR ATOR
Leonardo DiCaprio (O Regresso)
É notável sua evolução desde Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador (1993) e Diário de um Adolescente (1995). A não indicação por Titanic (1997) rendeu reclamações, mas ele mereceu mais por O Aviador (2004), Diamante de Sangue (2006) e O Lobo de Wall Street (2013) - Gilbert Grape e O Regresso completam as cinco ocasiões em que concorreu a melhor ator. As parcerias com Scorsese (Os Infiltrados), Tarantino (Django Livre), Spielberg (Prenda-me se For Capaz), Christopher Nolan (A Origem) e Clint Eastwood (J. Edgar) dão uma ideia de sua pluralidade e de seu prestígio: é um dos grandes nomes da Hollywood atual.
Bryan Cranston (Trumbo)
Este californiano de 59 anos tem carreira prolífica, mas sua consagração só veio com Breaking Bad, série lançada em 2008. O papel de Walter "Heinsenberg" White tornou seu rosto um dos mais conhecidos da TV, porém, no cinema, Cranston ainda precisava de papéis maiores - exatamente como o do roteirista perseguido Dalton Trumbo (1905 - 1976). Veja Trumbo, o filme, e procure imagens do personagem real para comparar: os trejeitos e o modo de falar de ambos estão muito semelhantes.
Eddie Redmayne (A Garota Dinamarquesa)
O britânico de 33 anos tinha tudo para fazer história vencendo a categoria pela segunda vez consecutiva - não fosse este, ao que tudo indica, o ano de DiCaprio. Após a muito boa atuação em A Teoria de Tudo (2014), que lhe rendeu a estatueta, e a muito ruim em O Destino de Júpiter (2015), Redmayne encarnou com delicadeza e muito talento a transformação da transexual Lili Elbe de A Garota Dinamarquesa.
Matt Damon (Perdido em Marte)
Vencedor de um surpreendente Oscar de roteiro por Gênio Indomável (dividido com Ben Affleck) em 1998, foi indicado a melhor ator em 2009 por Invictus, antes de voltar à corrida como o astronauta solitário de Perdido em Marte. É, no entanto, a grande zebra da corrida de melhor ator em 2016. Sua carreira contempla boas atuações, em títulos como O Talentoso Ripley (1999), Syriana (2005), Bravura Indômita (2010) e Zona Verde (2010), além da Trilogia Bourne (2002-07).
Michael Fassbender (Steve Jobs)
O ótimo intérprete alemão de 38 anos bem poderia estar concorrendo por Macbeth (2015). Como o criador da Apple, dá corpo a um personagem complexo, genial e genioso, visionário e egoísta. Steve Jobs não é apenas um "filme de ator", mas é também um título que vale pelas atuações - sobretudo de seu protagonista, que o encarna em três fases distintas de sua vida. Fassbender está na segunda indicação (a outra foi por 12 Anos de Escravidão). Fez também, entre outros, Hunger (2008), Bastardos Inglórios (2009) e Shame (2011).
OS INDICADOS A MELHOR ATOR COADJUVANTE
Christian Bale (A Grande Aposta)
Tem 42 anos e três indicações (ganhou como coadjuvante por O Vencedor, em 2011, e perdeu como ator principal por Trapaça, em 2014). Entre vários outros grandes papéis, fez O Sobrevivente (2006) e O Cavaleiro das Trevas (2008).
Mark Ruffalo (Spotlight - Segredos Revelados)
Tem três indicações, todas como coadjuvante. A deste ano e as de Minhas Mães e Meu Pai (2010) e Foxcatcher (2014), esta última no ano passado. Tem 48 anos e carreira prolífica, com títulos como Zodíaco (2007) e Ensaio sobre a Cegueira (2008).
Mark Rylance (Ponte dos Espiões)
Superpremiado ator britânico de teatro, também trabalha como dramaturgo e encenador. Fez poucos filmes conhecidos internacionalmente - Intimidade (2001) entre estes. Tem 56 anos e está indicado pela primeira vez.
Sylvester Stallone (Creed - Nascido para Lutar)
Pelo clássico filme original da série Rocky (1976), obteve duas indicações, de melhor ator e roteiro original. Tem 69 anos e também é conhecido pela franquia Rambo (1982-2008), entre outros longas, sobretudo de ação.
Tom Hardy (O Regresso)
Ator de carreira consolidada, que no entanto só chegou à primeira indicação agora, aos 38 anos. Foi muito bem, entre outros, em Bronson (2008), A Origem (2010) e também Mad Max: Estrada da Fúria (2015).