A Feira do Livro de Porto Alegre encerrou sua 61ª edição em clima de festa. O tradicional cortejo voltou a ficar mais animado neste ano com a presença dos tambores do grupo Maracatu Truvão.
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Motivos para comemorar não faltaram. Apesar da conjuntura econômica desfavorável, a organização do evento estima que as vendas aumentaram 7% em relação ao ano anterior. O número oficial de vendas será divulgado nesta terça-feira.
- É preciso lembrar que estamos em um ano de Bienal do Mercosul, o que atrai mais público para a Praça. Mesmo assim, é surpreendente qualquer crescimento, já que outras feiras semelhantes relataram queda - avalia Marco Cena Lopes, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), entidade organizadora da Feira.
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O evento precisou ser realizado com um orçamento mais enxuto do que no ano anterior, diminuindo também a verba para convidados - a negociação de nomes como Arnaldo Antunes e Emicida precisou ser cancelada, por exemplo. O enxugamento, no entanto, propiciou a revisão do modo como a programação era montada.
- Esta foi a primeira Feira na qual conseguimos criar uma unidade temática. Todas as atividades foram relacionadas ao tema "livros ajudam a pensar", mostrando que a leitura é essencial para a discussão dos problemas da sociedade - explicou Marco Cena. - Creio que este foi o grande ponto positivo desta edição.
A dinâmica será mantida. Independentemente do número de participantes, não queremos uma programação dispersiva.
Encerramento ao som dos tambores do maracatu
Até o clima contribuiu e não afugentou os visitantes. As cheias do Guaíba, em outubro, fizeram a CRL voltar atrás no plano de ocupar o Cais Mauá com a área infantil e juvenil, mas o tempo se manteve firme ao longo de quase todo o evento. Fora do Cais, o Teatro Carlos Urbim, projetado para 600 pessoas, passou a acomodar apenas 360. O espaço era um dos mais importantes palcos para atividades com turmas de estudantes, agendadas desde agosto. Para receber o excedente, a organização ocupou locais alternativos, como uma sala da Inspetoria da Receita Federal, incluída na programação na véspera da abertura.
- O Cais Mauá está sendo muito receptivo conosco. Tudo indica que possamos voltar para lá no próximo ano. Ganharemos muito em organização e qualidade - afirma Sônia Zanchetta, coordenadora da área infantil.
Cerca de 20 mil estudantes visitaram a Feira a partir dos agendamentos. As vendas do setor infantil e juvenil também foram aquecidas pela segunda edição do projeto Quintanares, que oferece R$ 30 para compra de livros nas bancas do evento a professores e estudantes de escolas públicas que desenvolveram projetos diferenciados de leitura ao longo do ano. Ao todo, 113 turmas foram contempladas.
O encerramento deste ano também repetiu o da edição anterior. Enquanto parte do tradicional cortejo passava de banca em banca entregando rosas e cantando o conhecido "ai, ai, ai, ai, está chegando a hora", a trupe de tambores do grupo Maracatu Truvão colocava os visitantes para dançar em outro ponto da Praça da Alfândega. É a segunda vez que as atividades são concluídas combinando o tradicional canto com a força da percussão.
- É um modo de terminar com muita energia, em um clima positivo - diz Marco Cena.
Balanço da Feira
Terminou a 61ª Feira do Livro de Porto Alegre, e outra vez a Praça da Alfândega se despediu da literatura que a habitou por duas semanas. Foi uma Feira de contradições marcantes, que sinalizam questões a serem desenvolvidas nas próximas edições. A seguir, apresentamos um resumo do que foram os dias na Praça. Como a Feira é do livro, os títulos de cada nota são emprestados de obras literárias de diversos gêneros.
VIAGENS DE GULLIVER
Não era impressão sua. A Feira de fato estava menor neste ano. Em mais de um aspecto. Ocupava um espaço menor, já que a Área Infantil não foi para o Cais, e ainda assim sobrou espaço entre as bancas, já que havia só 113 barracas - contra as 127 do ano passado. Foi realizada com um orçamento muito menor também - de R$ 3,8 milhões em 2014, caiu para R$ 1,8 milhão neste ano. Apesar disso, os livreiros chegam ao fim do evento com motivos para comemorar, já que...
PRINCIPIA MATHEMATICA
... Com menos gente vendendo, os que ficaram se beneficiaram de um aumento nas vendas. Os ganhos não foram meramente percentuais, pois os sucessivos balanços de vendas divulgados mostram que as vendas totais foram maiores do que as do ano passado. O último balanço ainda será consolidado e divulgado nesta semana, mas o saldo dos primeiros 10 dias de Feira divulgado pela Câmara Rio-Grandense do Livro aponta vendas 7% maiores do que em 2014. Nenhum best-seller sozinho foi responsável pela elevação. A organização não divulga a lista de mais vendidos, no entanto, para os livreiros, as compras foram difusas, com boa saída tanto de livros de ficção quanto de não ficção.
A SERPENTE EMPLUMADA
Algumas das filas mais longas do evento se formaram para pegar autógrafos em livros de autores diletantes no ofício das letras, mas consagrados em outros campos, como os músicos Lucas Silveira e Tico Santa Cruz. No último fim de semana, o senador Paulo Paim autografou por quatro horas seu volume de discursos Palavras num Mar Revolto. Mas o grande campeão das filas foi mesmo Eduardo Spohr, escritor que lançou este ano Paraíso Perdido, o volume final de Filhos do Éden, trilogia que transforma o Apocalipse em fantasia literária. Spohr ficou 5h40min autografando para uma fila interminável de jovens fãs.
O SILÊNCIO DA CHUVA
Dado tudo o que andou chovendo em Porto Alegre até uma semana antes do início da Feira, parecia impossível pensar que o evento seria realizado com tempo bom em sua maior parte. Mas foi exatamente o que aconteceu. As tempestades que assolaram a cidade, provocaram enchentes e deixaram um grande número de desabrigados, não se repetiram, e a Feira foi realizada com sol e pouca chuva durante a maior parte de sua realização.