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O ano de 1918 foi de dificuldades para o compositor russo Igor Stravinsky (1882 -1971). Quatro anos antes, sua mulher teve complicações de saúde relacionadas à tuberculose, e eles decidiram passar uma tranquila temporada na Suíça.
Mas a I Guerra Mundial estourou, e a estadia acabou se estendendo até 1920. Mesmo já tendo criado algumas de suas obras mais importantes, como os balés O Pássaro de Fogo (1910) e A Sagração da Primavera (1913), Stravinsky estava com problemas financeiros.
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Foi assim que decidiu unir forças com o escritor suíço Charles-Ferdinand Ramuz para criar um espetáculo cênico-musical que pudesse ser montado com poucos recursos.Com música de Stravinsky e texto de Ramuz, baseado em uma história folclórica russa compilada por Alexander Afanasiev, A História do Soldado estreou em 28 de setembro de 1918 no Teatro Municipal de Lausanne, com regência de Ernest Ansermet, maestro que havia apresentado o escritor ao compositor.
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Eram apenas sete músicos, que representavam os diferentes naipes de uma orquestra, além de atores-dançarinos e um narrador. A trama ecoava o mito de Fausto por meio do drama de um soldado que entrega seu violino - e, portanto, sua alma - ao diabo em troca de riqueza.
Contra todas as dificuldades, A História do Soldado se consolidou como uma das obras mais importantes do repertório de Stravinsky. É essa preciosidade que a Orquestra de Câmara Theatro São Pedro (OCTSP), dentro das comemorações de seus 30 anos, apresentará sábado e domingo, com regência de Antônio Carlos Borges-Cunha e direção cênica de Cláudia de Bem.
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Nesta versão, a música estará preservada, mas a trama foi atualizada por Cláudia e por Marco Antônio Valério (que será o narrador) na forma de uma crítica a um mundo de aparências: será a história de um soldado brasileiro (vivido por Denis Gosch), voltando de uma missão no Haiti, que faz um pacto com um marqueteiro (Lauro Ramalho) em troca de presença em diferentes mídias. A princesa que aparece na trama original foi transformada em top model (Thais Pethzold). Cláudia explica:
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- Nos questionamos o que seria vender a alma para o diabo hoje em dia e decidimos trazer essa reflexão para o valor da imagem no mundo. Hoje, isso é considerado mais importante do que o próprio dinheiro: estar no Big Brother, no Facebook, no Instagram.
No programa que será distribuído aos espectadores, o professor Celso Loureiro Chaves anota que A História do Soldado marca um estilo de passagem na trajetória de Stravinsky, do russo dos anos 1910 para o neoclássico dos anos 1920. Aqui, o compositor se mostra um internacionalista, trazendo referências de tango, valsa e ragtime.
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O maestro Cunha observa:
- Independentemente de suas fases, Stravinsky é um compositor que você identifica no primeiro compasso, pois tem uma personalidade forte. Sua música sempre foi acessível e comunicou muito.
Vale a pena prestar atenção na oposição entre o violino (tocado por Moisés Bonella Cunha, filho do maestro), que se destaca no conjunto por representar a alma do soldado, e a percussão (por Diego Silveira), que remete ao diabo. Também integram a orquestra reduzida os músicos Diego Grendene (clarinete), Adolfo Almeida Jr. (fagote), Elieser Ribeiro (trompete), José Milton Vieira (trombone) e Ana Paula Freire (contrabaixo).
"A HISTÓRIA DO SOLDADO", DE STRAVINSKY
Sábado, às 20h, e domingo, às 18h. Duração: 60 minutos.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone (51)
3227-5100, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 20 (galerias), R$ 40 (camarote lateral), R$ 60 (camarote central) e R$ 80 (plateia).
Desconto de 50% para sócio do Clube do Assinante e para estudantes e idosos.
À venda na bilheteria do teatro sexta, das 13h às 21h, e sábado e domingo, das 15h até a hora da apresentação.