O palestrante desta quarta-feira na série de conferências Fronteiras do Pensamento é um professor de filosofia política que já foi muitas vezes tachado de profético. Quem for assistir à palestra do britânico John Gray esta noite no Salão de Atos da UFRGS deve estar preparado para uma injeção de realismo brutal - por vezes pessimista.
Ao longo de uma carreira de décadas, o escritor tem sido um dos mais contundentes críticos da utopia, não de uma utopia específica de esquerda ou direita, mas do próprio mecanismo, segundo ele ilusório, que leva as pessoas a acreditarem na utopia.
Três leituras para conhecer John Gray
Para o professor aposentado da London School of Economics, tudo o que se conseguiu em termos de avanços sociais ao longo de uma história de lutas humanas é frágil e pode retroceder a qualquer momento. A crença no progresso humano ilimitado não deixaria de ser uma nova faceta do pensamento religioso.
- Há um grande número de pessoas para quem o progresso ocupou o papel da religião como algo que dá sentido a suas vidas, a ideia de que a humanidade avança passo a passo, mas numa única direção. Quando o que ocorre na realidade é que, em diferentes épocas, em diferentes lugares, houve períodos de avanço seguidos por grandes retrocessos - disse ele, em entrevista a Zero Hora por e-mail.
John Gray: "Acumulamos conhecimento, mas repetimos erros"
Ao contrário do rótulo de profeta, contudo, ele tem uma visão diversa de si mesmo. Considera-se simplesmente um cético que não aceita nenhuma certeza a priori nem se entrega ao pensamento mágico, venha de que fonte vier, mística, filosófica ou científica. E esse é um possível fio condutor a ser identificado ao longo de todo o trabalho de Gray: uma tentativa de desmitificar crenças consideradas por ele metafísicas ou ilusórias - principalmente aquelas que se apresentam elas próprias como a alternativa "razoável" às interpretações religiosas.
Para ele, o humanismo secular que critica duramente o Cristianismo absorveu dele uma espécie de sentido místico da missão da humanidade: nunca foi garantido que o progresso traria felicidade ou que a evolução tecnológica significaria uma evolução social.
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- Esse é o principal problema: as pessoas imaginam que, assim como o aumento de nosso conhecimento científico e do nosso poder tecnológico é cumulativo, assim também seriam os aperfeiçoamentos e avanços que conquistamos como sociedade ou civilização. E eu não acho que isso aconteça - disse.
SERVIÇO
- John N. Gray estará em Porto Alegre nesta quarta-feira para uma conferência na série de palestras Fronteiras do Pensamento, às 19h45min, no Salão de Atos da UFRGS (Paulo Gama, 110). Os ingressos estão esgotados.
- As próximas palestras serão de Valter Hugo Mãe (3 de agosto), Saskia Sassen e Richard Sennet (24 de agosto), Suzana Herculano-Houzel (28 de setembro), Fernando Savater (26 de outubro) e Janette Sadik-Khan (23 de novembro).
- Os quatro encontros do Fronteiras Educação serão realizados de agosto a novembro, com o patrocínio exclusivo da Petrobras e parceria com Secretaria Municipal da Educação e UFRGS. Informações pelo fone 4020-2050.
- O Fronteiras do Pensamento é apresentado por Braskem e tem patrocínio Unimed Porto Alegre e Hospital Mãe de Deus, com parceria acadêmica da UFRGS. As empresas parceiras são Liberty Seguros, BNDES e CMPC. Parceria institucional PUCRS e Fecomércio-RS e parceria cultural FCSPA. Patrocínio módulo educacional Petrobras. Promoção Grupo RBS.