Para um gaúcho de estirpe, respeito e sentimento "a partir do Mampituba, tudo é exílio". Muitos dizem: parentes são os dentes. Comigo é de outro modo. "Família é que nem varicela. A gente tem na infância e marca pro resto da vida". Deixando de lado as delongas para não cair nas arapongas, Tia Adelaide, para íntimos Dona Mozinha, não resistiu aos anzóis de um Manezinho da Ilha e com ele se mandou de cuia e bomba para as terras catarinas levando, nos cueiros, o rebento Reginaldo.
E por lá se foi ficando essa tia. Sonhava que o infante crescesse com guaiacas na alma e um pala no coração. Mas a figurinha era meio esquisita. Em vez de lenço maragato, usava uma gravata borboleta. No meio da conversação, dava uns gritinhos de saracura. E chiava mais do que água quente pronta para o mateado. Em função dos narrados e acontecidos, decidimos, em busca de recuperação, enviar para ele uma caturrita e um rolo de fumo em corda.
À cocota, ensinamos expressões gaudérias como: buenas e me despacho, à la pucha y otras barbaridades no más. Numa caixa de botas, com perfurações para respiração, lá se foi a cocota por fiel emissário. O fumo em corda enrolado a preceito para não perder o aroma bagual da natureza. E o tempo foi passando, derrubando as folhas do cinamomo, até que um dia chegou uma carta floreada do primo Reginaldo.
O atrevido dizia que sabia flutuar sobre as ondas, que nem a divindade, e que ia comprar uma asa-delta para se atirar de cima dos morros e voar que nem os passarinhos. Veja lá em que parceria fui me meter, paisano. Em vez de montar uma potranca, fica aí se fresqueando no meio da água salgada, fazendo voaredos de andorinha.
E lá pelas tantas, no rodapé da missiva, agradece nossos mimos e, em adereços de picardia, reclama:
- A galinha verde que recebi era de muito falatório e poucas carnes. E aquela linguiça - referindo-se ao fumo em corda - não serve para comer de jeito nenhum.
Se me aparece um destrambelhado desses nas casas, eu saio pela porta dos fundos sem deixar rastros de paradeiro.